Foi João Salaviza quem disse, há alguns anos, que era muito complicado um cineasta português “aparecer” do nada logo ao início com um prémio grande — significando com isto que o peso das expectativas elevadas começa a fazer pressão num momento em que nenhum cineasta entendeu por inteiro ainda ao que vem. É, de certo modo, aquilo que o Leão do Futuro obtido em Veneza por Listen vem fazer a Ana Rocha de Sousa em tempo de primeira longa-metragem: não é justo (mesmo que seja óbvio, para não dizer inevitável) usar um primeiro filme como bitola, por melhor que ele seja. Listen, ainda por cima, não é uma obra-prima, a não ser no sentido de obra-primeira: a seu favor tem um savoir-faire invejável, uma noção muito precisa do que se quer fazer, uma secura descarnada até ao osso mas que sabe acolher a ambiguidade necessária para tornar esta história humana e não apenas exemplar.
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Foi João Salaviza quem disse, há alguns anos, que era muito complicado um cineasta português “aparecer” do nada logo ao início com um prémio grande — significando com isto que o peso das expectativas elevadas começa a fazer pressão num momento em que nenhum cineasta entendeu por inteiro ainda ao que vem. É, de certo modo, aquilo que o Leão do Futuro obtido em Veneza por Listen vem fazer a Ana Rocha de Sousa em tempo de primeira longa-metragem: não é justo (mesmo que seja óbvio, para não dizer inevitável) usar um primeiro filme como bitola, por melhor que ele seja. Listen, ainda por cima, não é uma obra-prima, a não ser no sentido de obra-primeira: a seu favor tem um savoir-faire invejável, uma noção muito precisa do que se quer fazer, uma secura descarnada até ao osso mas que sabe acolher a ambiguidade necessária para tornar esta história humana e não apenas exemplar.