Covid-19: o confinamento curto do País de Gales pode ser um exemplo?

Cardiff experimenta fazer duas semanas de confinamento “corta-fogo”, para “quebrar” cadeias de transmissão.

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Centro de Cardiff, a poucos dias do novo confinamento em todo o País de Gales Reuters/REBECCA NADEN

O País de Gales vai entrar num confinamento de duas semanas para impedir a progressão de casos de infecção pelo vírus que provoca a covid-19. O chamado “circuit breaker” ou, por vezes, “corta-fogo”, tem o intuito de quebrar cadeias de transmissão e tentar ganhar tempo, enquanto os serviços de saúde recuperam de uma quase total taxa de ocupação de camas em cuidados intensivos.

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O País de Gales vai entrar num confinamento de duas semanas para impedir a progressão de casos de infecção pelo vírus que provoca a covid-19. O chamado “circuit breaker” ou, por vezes, “corta-fogo”, tem o intuito de quebrar cadeias de transmissão e tentar ganhar tempo, enquanto os serviços de saúde recuperam de uma quase total taxa de ocupação de camas em cuidados intensivos.

O confinamento é muito semelhante ao normal: as pessoas são aconselhadas a ficar em casa e os serviços que não sejam essenciais vão fechar. A diferença é que é feito durante um período de tempo fixo e curto.

No caso do País de Gales, começa esta sexta-feira às 17h e termina a 9 de Novembro, aproveitando ainda parte das férias intercalares nas escolas.

Todas as lojas que não sejam consideradas essenciais, espaços de lazer, de alojamento ou turismo, e locais de oração vão estar fechados, e todos os trabalhadores, excepto os considerados essenciais, estarão em teletrabalho até ao fim do confinamento. Nas escolas, uma parte deste período coincide com férias intercalares, que serão estendidas uma semana.

Menos indefinição

A esperança, diz a BBC, é que este tipo de medida seja mais fácil para as pessoas, que estão fartas de restrições, e que lidam melhor com períodos definidos a priori (que permitem um planeamento, ao contrário dos confinamentos que não se sabe quando terminarão) e que também cause menos danos à economia, em comparação com um confinamento mais longo.

O objectivo é fazer diminuir o número de novos casos (como no primeiro confinamento, “achatar a curva”), para permitir aos serviços de saúde gerirem os doentes a precisar de internamento e cuidados intensivos, por um lado, e por outro, também permitir o rastreamento eficaz de contactos (“contact tracing”), que no Reino Unido está, neste momento, assoberbado pelo grande número de infectados e dos seus contactos.

O investigador Adam Kucharski, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, comentou à BBC que “à medida que os casos e hospitalizações aumentam, há menos informação sobre o que está a acontecer, porque os rastreadores de contactos não conseguem chegar a tudo, e assim não sabemos onde estão os surtos”, notou.

Os efeitos não vão ser imediatos, já que pode passar uma semana entre o momento da infecção e o aparecimento dos sintomas, outra semana entre os primeiros sintomas e a necessidade de internamento e ainda, em caso de morte, um mês até ao óbito. Com duas semanas já será possível, pelo menos, quebrar cadeias de infecção de modo significativo, embora o efeito também dependa da adesão das pessoas.

Com muitos países europeus a assistirem a um aumento de casos e a tentarem evitar novos confinamentos gerais, esta ideia dos confinamentos por períodos curtos e definidos começa a ser encarada como um mal menor.

Na Alemanha, o influente virologista Christian Drosten, do Hospital Charité em Berlim e que faz parte do grupo de especialistas que aconselha o Governo de Angela Merkel, comentou no Twitter que esta poderia ser uma ideia para aproveitar férias de Outono e de Natal na Alemanha. 

Drosten citava um estudo britânico do órgão científico consultivo SAGE, que defende confinamentos curtos, com datas fixas, bem comunicados à população. O estudo, divulgado há cerca de uma semana, indicava que poderiam morrer menos 800 a 106 mil pessoas até ao início de 2021 (o número mais baixo num cenário de crescimento lento da pandemia e de medidas de restrição suaves, o número mais alto num cenário de crescimento rápido da pandemia e de maiores restrições).

Graham Medley, um dos membros deste conselho consultivo e um dos autores do estudo, disse, no entanto, à BBC, que “o barco pode já ter passado” para que esta medida tivesse resultados.

“A ideia destes mini-confinamentos é serem feitos antes de serem necessários”, afirmou. “Acho que neste momento as coisas estão ligeiramente mais urgentes do que eram” quando foi sugerida esta medida.

No total do Reino Unido registaram-se, na segunda-feira, 18.804 novos casos de infecção e morreram 80 pessoas. No País de Gales houve, no domingo, 950 novos casos, mais do que os 400 que eram os números do início do mês. 

Crucial para o sucesso destes mini-confinamentos é, não só a forma como são cumpridos, mas o que as autoridades fazem, entretanto, disse à BBC Mike Tildesley, da Universidade de Warwick, outro dos autores do estudo. Caso o tempo não seja aproveitado, há o risco de se “entrar num ciclo de confinamentos de curto prazo até se ter uma estratégia de saída como uma vacina ou imunidade de grupo”.

A reabertura demasiado rápida após confinamentos, especialmente em países que tiveram sucesso no combate à pandemia como Israel ou a República Checa, foi um factor determinante no surgimento de uma segunda vaga de infecções.