Miguel Rocha Vieira serve jantar na roda gigante de Budapeste

O restaurante liderado pelo chef português, galardoado com uma estrela Michelin, decidiu combater a crise com um evento único: servir o jantar na roda gigante de Budapeste.

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A ideia veio de Portugal, confessa Miguel Rocha Vieira à Fugas. “A primeira vez que ouvi falar de um projecto relativamente parecido ou, pelo menos, de servir um jantar Michelin numa roda gigante, foi no ano passado, quando o Gonçalo Castel-Branco [promotor de eventos gastronómicos como The Presidential, Chefs on Fire e The Residential] me apresentou a ideia e um convite.”

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A ideia veio de Portugal, confessa Miguel Rocha Vieira à Fugas. “A primeira vez que ouvi falar de um projecto relativamente parecido ou, pelo menos, de servir um jantar Michelin numa roda gigante, foi no ano passado, quando o Gonçalo Castel-Branco [promotor de eventos gastronómicos como The Presidential, Chefs on Fire e The Residential] me apresentou a ideia e um convite.”

O Lisbon Pop Up Food Circus acabou por não avançar mas o chef português ficou com “a ideia na cabeça”. O proprietário do grupo Costes, ao qual Miguel Rocha Vieira está ligado desde 2008 e onde ocupa actualmente o cargo de chef executivo, é também proprietário da Budapeste Eye, roda gigante e atracção turística no centro da capital húngara. Porque não criarem algo semelhante?

Na altura, a pandemia era ainda um pesadelo inimaginável e o turismo girava a roda e os restaurantes do grupo. A ideia “ficaria guardada para uma altura em que tudo fizesse mais sentido”. Atingido pela quebra de facturação com o surto de covid-19 e o desaparecimento dos turistas estrangeiros, chegou o momento de avançar.

“Neste momento, é especialmente importante que as pessoas possam estar separadas de outros clientes, para estarem seguras, e a roda gigante, com as cabines separadas, é ideal”, afirmava à agência Reuters o proprietário do grupo, Karoly Gerendai.

Com preços até 48 mil forints húngaros (cerca de 131 euros), o evento, realizado no sábado passado, esgotou dois dias depois de ter sido anunciado, procurado sobretudo por clientes locais.

“Queríamos sair um pouco e desfrutar novamente de uma experiência, porque temos vivido bastante confinados”, afirmava à Reuters Szabolcs Balazs, um dos clientes do evento, à mesa com a mulher e dois filhos. “Costumávamos ir a restaurantes com frequência, já tínhamos estado em [espaços com] duas estrelas Michelin. Mas, por causa da covid-19, deixámos de ir”, reconhecia. “Esta é a nossa única hipótese agora, porque aqui estamos realmente separados.”

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REUTERS/Bernadett Szabo

Para Miguel Rocha Vieira, ainda que “a experiência tenha sido um pouco mais demorada do que inicialmente previsto”, “o feedback geral foi óptimo”. “Correu muito bem.”

É que a logística de servir refeições enquanto as mesas vão subindo e descendo aos céus de Budapeste não é fácil. O menu, de quatro pratos, acabou por ser especialmente “pensado para a ocasião”, conta o chef português. “Tínhamos de ter em conta as vezes que a roda teria de parar, como iríamos servir um prato e retirar o anterior, como servir o vinho, ter em conta a temperatura exterior [estavam 8ºC nessa noite], o quanto abanam as cabines com quatro pessoas [no interior] e por aí fora.”

Segundo o chef português, é “bastante provável” que o evento se volte a repetir. “Talvez na Primavera.” Mas, para já, “vive-se, mais ou menos, um dia de cada vez”. “Não têm sido tempos fáceis e a incerteza em que todos vivemos e as constantes mudanças de leis não ajudam a programar o futuro.” No entanto, não faltam planos.

O restaurante Costes, com que Miguel Rocha Vieira conquistou a primeira estrela Michelin da Hungria dois anos depois da abertura, permanece encerrado desde Março devido à covid-19 e não há data de reabertura. “Já há algum tempo que estávamos a procurar mudar a localização [do restaurante] e talvez seja desta, mas vamos esperar para ver o que os próximos meses nos trazem.”

O Costes Downtown, inaugurado em 2015 e galardoado com uma estrela Michelin dez meses depois, reabriu portas a 1 de Julho. Localizado num hotel que, segundo Rocha Vieira, “está praticamente vazio”, está a funcionar apenas “de quinta a domingo”. À Reuters, Karoly Gerendai revelava que o volume de negócios caiu para cerca de um décimo dos níveis anteriores à pandemia, forçando o grupo a procurar novas fontes de rendimento, como esta iniciativa gastronómica no topo de uma das atracções turísticas de Budapeste.

Mas, segundo o chef português, “não podemos, nem faz parte do nosso ADN, parar, cruzar os braços ou desistir, apesar de ser difícil programar o futuro.” Dentro de duas ou três semanas, o grupo vai abrir um restaurante de massas húngaras, o Nudli. “E, em Novembro, temos também uma parceria com um chef local.” Já para o princípio do próximo ano, “se tudo correr bem”, está prevista a abertura do primeiro projecto do grupo fora da Hungria, na “Ocean Flower Island, em Hanin, na China”.