PS muda de ideias e propõe cobrança de taxa às plataformas de streaming
Grupo parlamentar socialista defende agora que os operadores de serviços video on demand passem a estar sujeitos “ao pagamento de uma taxa anual correspondente a 1% do montante dos [seus] proveitos relevantes”. Proposta de lei do Governo, que não prevê a cobrança de taxas e apenas vincula aquelas empresas a obrigações de investimento, está esta terça-feira em votação na Assembleia da República.
O grupo parlamentar do PS apresentou esta semana uma alteração à proposta de lei sobre audiovisual que prevê uma taxa para as plataformas de streaming, em resposta às exigências de parte do sector do cinema.
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O grupo parlamentar do PS apresentou esta semana uma alteração à proposta de lei sobre audiovisual que prevê uma taxa para as plataformas de streaming, em resposta às exigências de parte do sector do cinema.
A proposta de lei 44/XIV, que tanta polémica tem causado, está em processo de discussão e votação desde sexta-feira na comissão parlamentar de Cultura e Comunicação, juntamente com alterações propostas, semanas antes, pelos grupos parlamentares do PS, do PSD, do CDS-PP, do Bloco de Esquerda e do PCP.
No entanto, desde sexta-feira, o PS apresentou uma nova alteração relativa especificamente ao funcionamento dos “serviços audiovisuais a pedido por subscrição”, ou seja, os denominados serviços VOD ("video on demand"), como as plataformas Netflix, HBO e Disney+.
De acordo com a proposta socialista, estes operadores passam a estar sujeitos “ao pagamento de uma taxa anual correspondente a 1% do montante dos proveitos relevantes desses operadores”, sem especificar como serão averiguadas essas receitas. Segundo a proposta, “caso não seja possível apurar o valor dos proveitos relevantes” destes operadores, “presume-se que o valor anual da taxa é de um milhão de euros”.
O produto da cobrança dessa nova taxa reverte para as receitas próprias do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), destinadas a financiar a escrita, produção, distribuição e exibição de obras de cinema e televisão em Portugal.
Esta taxa é uma das reivindicações de alguns representantes do sector, como forma de aumentar o bolo de financiamento do ICA, tendo em conta a nova realidade de diversificação de consumos de cinema e audiovisual, em sala de cinema e em plataformas de streaming.
A proposta de lei 44/XIV transpõe para a realidade portuguesa uma directiva europeia, de 2018, que regulamenta, entre todos os Estados-membros, a oferta de serviços de comunicação social audiovisual, que inclui canais de televisão por subscrição, plataformas de partilha de vídeos e serviços audiovisuais a pedido, os VOD.
A proposta de lei elenca várias prioridades, entre as quais a promoção do cinema e audiovisual português produzido e/ou exibido naqueles serviços e um equilíbrio na concorrência entre os vários tipos de serviço. É definido que a cobrança da actual taxa de exibição – que reverte para os cofres do ICA – deve estender-se a todo o tipo de serviços em que exista transmissão de publicidade.
Mantém-se a cobrança da taxa de subscrição para os serviços de televisão fornecidos, por exemplo, pela NOS, MEO e Vodafone. Esta taxa de subscrição, que implica a cobrança de uma taxa anual de dois euros por cada subscrição de acesso a serviços de televisão, deixa de fora os VOD.
Aos VOD – mesmo que estejam sob jurisdição de outro Estado-membro – é exigida uma obrigação de investimento, ou seja, devem destinar uma parte das suas despesas de investimento na promoção de obras europeias e em língua portuguesa.
Agora, a alteração proposta pelo PS acrescenta-lhes uma nova taxa anual. No mesmo documento, o grupo parlamentar do PS inclui ainda uma nova designação do tipo de obras em que os operadores devem investir, especificando que deve ser na produção de obras cinematográficas e audiovisuais “criativas de produção independente europeias, originariamente em língua portuguesa”.
No caso específico das plataformas de streaming, o PCP já tinha proposto uma alteração que lhes define um investimento anual “em montante a definir anualmente” e “em percentagem não inferior ao equivalente a 1% das receitas” dessas mesmas plataformas.
O Bloco de Esquerda também tinha proposta anteriormente que as plataformas de streaming deviam estar abrangidas pela taxa de subscrição, tal como estão operadores como a NOS e a MEO.