Livro de BD português retrata primeira circum-navegação da Terra

Chega esta terça-feira ao público a aventura de Fernão de Magalhães há 500 anos, com apresentação no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. A Viagem Mais Longa tem argumento de João Ramalho-Santos, ilustração de Miguel Jorge e é de distribuição gratuita.

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“Magalhães tornou o nosso mundo maior” – é desta forma que se inicia o novo livro de banda desenhada de João Ramalho-Santos, biólogo e investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, que vem juntar-se aos 11 livros de BD já publicados com a sua co-autoria e às histórias mais curtas (duas páginas), centradas na biologia, que tem divulgado no PÚBLICO. Com ilustração de Miguel Jorge, A Viagem Mais Longa – Fernão de Magalhães e a Primeira Circum-Navegação assinala os 500 anos da expedição iniciada pelo explorador português ao serviço de Espanha. Preparado para entrar a bordo (“sem sair de casa”) da viagem que mudaria o nosso conhecimento do mundo para sempre?

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Tudo começa nos finais de Julho de 1519, em Sevilha, com a preparação da armada liderada pelo navegador português Fernão de Magalhães, ao serviço da coroa espanhola. O objectivo é chegar às Molucas (Ásia), as ilhas das especiarias, pelo ocidente, de forma a não cruzar mares reservados aos portugueses no Tratado de Tordesilhas. Composta por cinco navios e uma tripulação de cerca de 240 homens, a armada parte rumo ao desconhecido a 20 de Setembro desse ano. Segue-se a incerteza, o receio, a revolta, a fome, a morte. Quem não perde a fé é mesmo Fernão de Magalhães que quer provar que as Molucas estão nos domínios espanhóis.

Em Outubro de 1520, a armada entra naquele que seria baptizado de estreito de Magalhães e um mês depois os exploradores chegam ao Pacífico. Fim trágico para Fernão de Magalhães, que é morto por um nativo a 27 de Abril de 1521, nas Filipinas. Para uns, morre como herói, para outros, como traidor.

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No livro de banda desenhada de João Ramalho-Santos e Miguel Jorge, a história desta aventura terminada em Setembro de 1522, com a chegada a Sevilha, já pela mão do espanhol Juan Sebastián Elcano, é contada nas primeiras 39 páginas.

Já as últimas oito páginas são ocupadas por uma reflexão pessoal dos autores, em jeito de troca de mensagens de texto (SMS), onde debatem alguns pormenores que hoje podem ser vistos com alguma estranheza, como o tremendo esforço da armada pela procura de especiarias, que nos dias de hoje são adquiridas com tanta facilidade, ou o facto de na época as duas superpotências serem Portugal e Espanha.

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“Não é curioso que Fernão de Magalhães tenha feito uma viagem tão longa para ir buscar coisas que hoje se encontram em qualquer mercearia?”, questiona Miguel Jorge. “Agora há estufas, sistemas de rega... Mas na altura plantas como a do cravinho só cresciam mesmo naquelas ilhas, devido ao clima”, responde João Ramalho-Santos. Mais à frente, o ilustrador comenta: “É engraçado perceber que nessa altura as grandes potências eram Portugal e Espanha; hoje são a China, os Estados Unidos, a Rússia…”

A Viagem Mais Longa surge a partir de um desafio lançado pela agência Ciência Viva a João Ramalho-Santos no âmbito das comemorações dos 500 anos da primeira circum-navegação, que a 20 e 21 de Outubro assinalam exactamente a chegada da armada ao estreito de Magalhães, a maior e mais importante passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

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Não sendo historiador, o desafio mereceu a ponderação do biólogo. “Não respondi prontamente ‘sim, vamos lá!’. Primeiro, fui ler sobre o assunto e depois de achar que, de facto, tinha alguma coisa a dizer de uma maneira diferente de tudo o que já tinha sido feito, aceitei”, conta ao PÚBLICO o biólogo, salientando o facto de já existirem várias publicações sobre o tema, como a BD do explorador franco-suíço Christian Clot, editada pela Gradiva em 2018 – Magalhães: Até ao Fim do Mundo. “É sempre importante ter uma perspectiva diferente e a minha perspectiva da viagem é, no fundo, a parte final de toda a reflexão em torno de aspectos que hoje nos parecem francamente deslocados”, acrescenta.

O livro, que conta também com o patrocínio da Estrutura de Missão do V Centenário da Primeira Viagem de Circum-Navegação, terá 1500 exemplares distribuídos gratuitamente e ficará também disponível em formato digital. A sua apresentação está marcada para esta terça-feira, às 16h20, no Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva, em Lisboa. Um dia que, tal como expõe a directora executiva da Ciência Viva, Ana Noronha, será sobretudo dedicado a jovens estudantes de escolas da Rede Mundial de Cidades Magalhânicas – uma entidade que agrega cidades por onde passou Fernão de Magalhães e que têm programas comemorativos da sua circum-navegação (em Portugal, as cidades magalhânicas são Lisboa, Sabrosa e Ponte da Barca). Além da apresentação do livro, serão dinamizados, workshops e jogos didácticos, entre outras actividades, com início previsto para as 15h. Devido à pandemia, a componente presencial será limitada e o programa transmitido online, nas páginas oficiais do Pavilhão do Conhecimento e da Estrutura de Missão.

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Este 12.º livro da colecção de BD de João Ramalho-Santos vem juntar-se a parte títulos como Uma Aventura Estaminal (2013), As Luzes do Príncipe (2019), sobre as experiências realizadas na ilha do Príncipe em 1919, que ajudaram a validar a teoria da relatividade geral, e Folias Mitocondriais: Uma Breve Viagem sobre a Energia da Vida (2020). Para o PÚBLICO, também criou com a sua equipa pequenas histórias de BD de divulgação científica sobre temas como o sono, a diabetes, a (in)fertilidade humana, a tuberculose ou a doença de Machado-Joseph.

“Daqui a 500 anos quem sabe o que se pensará sobre isto...”, diz Miguel Jorge no final da reflexão. “A viagem mais longa é sempre a que falta. Estamos sempre a fazê-la. E nunca termina”, responde-lhe João Ramalho-Santos.

Texto editado por Teresa Firmino