Ambiente marinho da costa de Sines convive bem com o saneamento da zona portuária e industrial

Sistema de tratamento, com quase 40 anos, continua a assegurar águas de qualidade boa a excelente, conclui estudo.

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Miguel Manso

O ambiente marinho da zona costeira de Sines não apresenta problemas de impacte negativo, apesar das décadas de funcionamento de uma das principais zonas portuárias e industriais do país, conclui um estudo da Águas de Santo André apresentado nesta segunda-feira.

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O ambiente marinho da zona costeira de Sines não apresenta problemas de impacte negativo, apesar das décadas de funcionamento de uma das principais zonas portuárias e industriais do país, conclui um estudo da Águas de Santo André apresentado nesta segunda-feira.

“Não há degradação da qualidade” da água onde é efectuada a descarga, o fundo do mar está “limpo”, a perturbação das comunidades bentónicas (organismos que habitam os fundos sedimentares) foi “nula”, a qualidade ecológica da macrofauna varia entre “boa e elevada” e não houve “qualquer efeito adverso” para as espécies estudadas, uma vez que “não houve distúrbios” no crescimento nem registos de mortalidade, conclui o trabalho de monitorização realizado durante os dois últimos anos.

O estudo, desenvolvido entre 2018 e 2020, e executado pela empresa Smallmatek em parceria com a Hidromod, incluiu a recolha de amostras de água e sedimentos no mar, ao longo de quatro campanhas. O trabalho centrou-se na avaliação do ambiente marinho junto à saída, e na zona envolvente, do grande emissário submarino de Sines, que despeja as águas residuais no oceano. Este emissário submarino, construído em 1976, tem 2,5 quilómetros de cumprimento e desemboca a 40 metros de profundidade, no mar. Debita 21500 metros cúbicos de águas provenientes, sobretudo, da Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS).

As águas passam primeiro na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da Ribeira de Moinhos, considerada única no país, por servir maioritariamente indústria petroquímica. Esta ETAR, construída em 1981, trata as águas residuais de três cidades, Sines, Santiago do Cacém e santo André, mas, ainda assim, 73% dos caudais tratados são provenientes das grandes refinarias existentes na zona industrial.

Este sistema de saneamento do Litoral Alentejano é gerido pela Águas de Santo André, do Grupo Águas de Portugal, e a empresa mostra “satisfação” pelos resultados do estudo. Para Luís Faísca, presidente da Águas de Santo André, os resultados obtidos indicam que “o impacto no ambiente é diminuto” e “confirmam que a actividade da empresa está a ser bem desempenhada”.

Para ilustrar a qualidade das águas do mar na costa de Sines, o administrador da Águas de Portugal, João Neves, recordou que “as praias na envolvente têm todas bandeira azul”.

A apresentação do estudo contou com a presença dos autarcas de Santiago do Cacém e de Sines, tendo este último destacado o mérito dos resultados obtidos. Nuno Mascarenhas salientou que preservar o ambiente marinho na costa de uma zona industrial que representa 3% do PIB nacional, representa um “desafio particular”.

Investimento de 30 milhões

O sistema de saneamento de Sines e Santiago do Cacém vai ser reforçado, com um investimento de 30 milhões de euros que visa, sobretudo, aumentar a capacidade para receber novas indústrias, como é o caso da futura refinaria da Repsol.

No próximo ano, a Águas de Santo André vai lançar concursos públicos para três obras; a remodelação da ETAR de Ribeira dos Moinhos (12 milhões de euros), a construção da nova adutora de água industrial entre Morgável e Monte Chãos (10 milhões euros) e a renovação da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Morgável. Esta estação é a responsável pelo abastecimento de água às grandes indústrias de Sines.

“Queremos melhorar a eficiência desta ETAR [de Ribeira dos Moinhos] e planear a eventualidade de novas indústrias, uma vez que a sua capacidade está limitada à indústria actual. Como existem vários projectos em fase de arranque, a nossa ETAR necessitará de maior capacidade de tratamento”, disse o presidente do conselho de administração Águas de Santo André, Luís Faísca.

Além destas obras já previstas, a Águas de Portugal deve vir a ser chamada a desempenhar um papel importante na concretização da estratégia do hidrogénio verde, em Sines. Tratando-se de um método de produção verde, só poderá ser usada água reutilizada, pelo que o sistema de saneamento alentejano deverá ser o fornecedor das grandes quantidades necessárias a esta indústria.