O regresso (não 100% presencial) das Noites de Queluz e da temporada Música em São Roque
Intérpretes de referência no panorama internacional e música portuguesa do passado e do presente em dois ciclos de concertos aliciantes.
O ciclo Noites de Queluz, promovido pela Parques de Sintra em parceria com o Centro de Estudos Musicais e Setecentistas de Portugal – Divino Sospiro, e a temporada Música em São Roque, organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), fazem parte há vários anos das rotinas de muitos melómanos entusiastas e do imaginário musical da estação outonal. Centrado no repertório setecentista, em sintonia com a herança histórica do Palácio de Queluz, o primeiro tem trazido a Portugal alguns intérpretes de primeiro plano internacional, enquanto o segundo se distingue pela forte aposta na música e nos músicos portugueses, tendo como cenário espaços do património arquitectónico da SCML. Estas tendências de programação não são, porém, estanques e em ambos os casos é notória a preocupação de divulgar repertórios pouco conhecidos ou inéditos e de recuperar obras ligadas à história da música em Portugal. Este ano, os dois ciclos coincidem nas datas (16 de Outubro a 13 de Novembro), mas as limitações trazidas pela pandemia trazem algumas mudanças. Assim, a temporada Música em São Roque, que se inicia esta noite, às 21h, com o Coro Gulbenkian, dirigido por Pedro Teixeira, e o programa Rosa Immaculata (com música mariana ibérica dos séculos XVI e XVII), realiza-se sem público presencial, sendo os concertos transmitidos na plataforma rtp.pt/play/palco/ e no site da SCML. Quanto às Noites de Queluz, têm lotação limitada e serão paralelamente transmitidas on-line.
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O ciclo Noites de Queluz, promovido pela Parques de Sintra em parceria com o Centro de Estudos Musicais e Setecentistas de Portugal – Divino Sospiro, e a temporada Música em São Roque, organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), fazem parte há vários anos das rotinas de muitos melómanos entusiastas e do imaginário musical da estação outonal. Centrado no repertório setecentista, em sintonia com a herança histórica do Palácio de Queluz, o primeiro tem trazido a Portugal alguns intérpretes de primeiro plano internacional, enquanto o segundo se distingue pela forte aposta na música e nos músicos portugueses, tendo como cenário espaços do património arquitectónico da SCML. Estas tendências de programação não são, porém, estanques e em ambos os casos é notória a preocupação de divulgar repertórios pouco conhecidos ou inéditos e de recuperar obras ligadas à história da música em Portugal. Este ano, os dois ciclos coincidem nas datas (16 de Outubro a 13 de Novembro), mas as limitações trazidas pela pandemia trazem algumas mudanças. Assim, a temporada Música em São Roque, que se inicia esta noite, às 21h, com o Coro Gulbenkian, dirigido por Pedro Teixeira, e o programa Rosa Immaculata (com música mariana ibérica dos séculos XVI e XVII), realiza-se sem público presencial, sendo os concertos transmitidos na plataforma rtp.pt/play/palco/ e no site da SCML. Quanto às Noites de Queluz, têm lotação limitada e serão paralelamente transmitidas on-line.
Com direcção artística de Massimo Mazzeo, as Noites de Queluz abrem às 21h30 desta sexta-feira com o concerto O Sonho de Arianna, dedicado a quatro figuras femininas da Antiguidade Clássica (Leda, Helena, Ariana e Medeia), vistas através da música de Alessandro Stradella e interpretadas pela soprano Roberta Mameli e pelo Ensemble Mare Nostrum. Um dia depois, à mesma hora, o Concerto Campestre, dirigido por Pedro Castro, interpreta a “Gran Partita” – Serenata nº10, K. 361, de Mozart, obra-prima da música para instrumentos de sopro, e excertos da ópera Don Giovanni, em arranjos de Josef Triebensee (1772-1846).
Segue-se, no dia 24, a música da família Bach (sonatas e suites de J. S. Bach e dos seus filhos Johann Christian, Carl Philipp Emanuel e Wilhelm Friedman) por dois exímios intérpretes: a flautista Laura Pontecorvo e o cravista e maestro Rinaldo Alessandrini, e no dia 25, às 19h, um concerto para famílias em torno da obra Dom Quixote no Casamento de Comacho, de Telemann, narrada pela actriz Lígia Roque.
Como é habitual, o pianoforte Clementi do Palácio de Queluz (construído em Inglaterra, em 1810) voltará a soar pelas mãos de dois reconhecidos especialistas em instrumentos de tecla históricos. No dia 30, Andreas Staier acompanha a soprano Nurial Rial em canções de Haydn e Mozart e na famosa cantata Arianna a Naxos, de Haydn, e a 6 de Novembro Stefania Neonato toca obras de Clementi, João Domingos Bomtempo e Beethoven.
A 31 de Outubro, merece especial destaque a estreia moderna em Portugal de La Contesa delle Stagioni, a única entre as serenatas compostas por Domenico Scarlatti durante o tempo em que esteve ao serviço da corte de Lisboa (1719-1728) cuja partitura chegou até aos nossos dias. Composta em 1720 para celebrar o aniversário da rainha D. Maria Anna de Áustria, grande impulsionadora da música dramática de origem italiana em Lisboa, será apresentada em parceria com uma serenata de temática semelhante, que a futura rainha consorte de Portugal terá ouvido na corte de Viena em 1699: La gara delle quattro stagioni, de Giovanni Bononcini. Serão intérpretes o Divino Sospiro, um conjunto de excelentes solistas (Roberta Mameli, Miriam Albano, Filippo Mineccia e Juan Sancho) e o Americantiga Ensemble. Bononcini, Domenico Scarlatti e o seu pai Alessandro, e outros compositores da época (Porpora, Caldara e Leo), preenchem o programa “Esplendores sacros do Barroco italiano”, pelo Divino Sospiro e pela meio-soprano Josè Maria lo Monaco (7 de Novembro); no encerramento (dia 13), o prestigiado agrupamento Le Concert de l’Hostel Dieu regressa à figura de Medeia através da música de Marc Antoine Charpentier e de Haendel.
Da diáspora jesuíta à música fúnebre
Com direcção artística de Filipe Carvalheiro, a temporada Música em São Roque conta com dez concertos e cinco sessões de apreciação musical (“Ouvidos para a Música”) pelo maestro Martim Sousa Tavares, igualmente transmitidas via streaming. A programação inclui três estreias absolutas, duas delas encomendadas pelo Ludovice Ensemble no âmbito do programa “Na senda dos jesuítas: Paris – Lisboa – Goa – Nagasáqui”, dirigido por Miguel Jalôto, que combina música barroca francesa, contemporânea e tradicional asiática (dia 25, às 16h30): O tempo do leque, três madrigais japoneses sobre poemas do século XVI, de César Viana (n. 1963), e de Como uma Gota de Orvalho, sobre poesia de Kashmendra (século XI), de Vasco Negreiros (n. 1965).
Três Poemas de Eugénio de Andrade, de Miguel Resende Bastos (n. 1995), vencedor do Prémio Musa 2020, promovido pelo MPMP-Movimento Patrimonial da Música Portuguesa, será a terceira obra em primeira audição. Poderá ser ouvida no dia 30, juntamente com a estreia moderna de duas missas para coro e piano de Francisco Sá Noronha (1820-1881), na interpretação do ensemble MPMP e dos pianistas Duarte Pereira Martins e Philippe Marques.
Outra novidade será a recuperação pelo Americantiga Ensemble, dirigido por Ricardo Bernardes, de uma versão do Requiem, de Mozart, que se encontra no arquivo da Sé de Évora, cujo acompanhamento instrumental é constituído por violoncelo, dois fagotes, contrabaixo e órgão, reflexo de uma prática da época no âmbito das Capelas Reais e de outras igrejas portuguesas. Obras de David Perez e José Joaquim dos Santos e a leitura de poesia por Conchi da Silva e Delmar Maia Gonçalves completam o programa (dia 6). A música fúnebre preenche também o concerto de 1 de Novembro pelo Officium Ensemble, no qual se ouvirá o Requiem de Manuel Mendes e outras obras de compositores ligados à Sé de Évora.
“Cantos do fogo e do gelo”, com música italiana e ibérica dos séculos XVI e XVII por O Bando de Surunyo, dirigido por Hugo Sanches (dia 18); música sacra portuguesa dos séculos XVIII e XIX pelo grupo Avres Serva (dia 23); os repertórios do passado e do presente para “Nova Cítara Portuguesa” (mais conhecida como guitarra portuguesa) propostos por Pedro Caldeira Cabral e Ducan Fox (dia 7); e criações contemporâneas de Anne Victorino d’Almeida, Nuno Côrte-Real, Sérgio Azevedo e Alfredo Teixeira, pelo oboísta David Costa e pelo pianista Pedro Ferro (dia 8) são outras propostas a considerar. O encerramento cabe à Orquestra Barroca Casa da Música, com a Suite nº 4, de J. S. Bach, e o Stabat Mater, de Boccherini, com Sara Braga Simões, Mónica Monteiro e Fernando Guimarães como solistas.