Quem quer ajudar a contar periquitos-de-colar?

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves quer registar a população da espécie no país e perceber o seu impacto na biodiversidade nativa. Registo decorre entre 16 de Outubro e 15 de Novembro.

Foto
O periquito-de-colar é uma espécie de papagaio exótica que pode ser encontrada em jardins e parques, nomeadamente em Lisboa Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves

Se vires um periquito-de-colar, toma nota. É este o apelo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) que quer realizar um recenseamento à população de periquitos-de-colar em Portugal, uma espécie exótica de papagaio que está a expandir-se pelo território nacional.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Se vires um periquito-de-colar, toma nota. É este o apelo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) que quer realizar um recenseamento à população de periquitos-de-colar em Portugal, uma espécie exótica de papagaio que está a expandir-se pelo território nacional.

A SPEA está a pedir aos portugueses em determinados concelhos do país para passear por parques, jardins ou outras zonas verdes, a partir das 17h15, e registarem a sua observação no formulário online criado para o efeito: quantos periquitos-de-colar viram, onde e se os viram a alimentar-se ou a descansar.

O objectivo do recenseamento é perceber “o tamanho populacional da espécie e a distribuição ao longo do país”, diz ao P3 Hany Alonso, técnico de gestão de dados e cartografia na SPEA.

“O periquito-de-colar é claramente a espécie de papagaios que teve um crescimento populacional mais rápido, aquela que claramente se apresenta em expansão. Queremos caracterizar esse crescimento, ver o tamanho da população e ver qual é a expansão actual. A partir dessa informação, vamos perceber qual é o impacto que ela pode estar a ter no meio ambiente”, explica Hany Alonso.

A “iniciativa de ciência cidadã” vai decorrer entre sexta-feira, 16 de Outubro, e o dia 15 de Novembro. A SPEA espera uma adesão na ordem das cem pessoas, tendo em conta que o webinar sobre o tema que se realiza esta quinta-feira esgotou as cem inscrições.

Como identificar o periquito-de-colar

Para olhares menos treinados, participar nas observações pode ser difícil e confuso, mas a SPEA garante que o risco de as pessoas confundirem o periquito-de-colar com outra espécie é reduzido. “Não há grande possibilidade de confusão”, garantiu Hany Alonso.

As aves são caracterizadas pela sua cor verde, uma longa cauda e um bico vermelho, além dos machos apresentarem um colar negro que dá nome à espécie. São conhecidas ainda pelo ruído que fazem em parques ao final do dia. A SPEA refere no seu site que os periquitos “são aves ruidosas e gregárias”, pelo que “dar pela sua presença não será difícil”.

Foto
Espécie nidifica em buracos de árvores e começa a descansar a partir do final do dia Sociedade Portuguesa para o Estudo das Árvores

Apesar de poderem ser vista noutras regiões do país, o especialista garante que a SPEA tem “uma boa ideia da distribuição da ave”, sendo quase certo que pode ser observada nos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, Coimbra, Caldas da Rainha, Maia, Matosinhos, Porto, Vila Nova de Gaia, Faro, Portimão, Povoação, Ponta Delgada e Funchal.

Hary Alonso pede que quem se aventure na procura por periquitos-de-colar esteja atento a buracos em árvores de parques, já que é aí que a espécie tende a nidificar. Mesmo que alguém confunda a ave e a registe sem ela se encontrar realmente presente, o técnico da SPEA salienta que “toda a informação recolhida é triada”, pelo que conseguem perceber se há “possibilidade de ser outra espécie.”

Expansão pode ser prejudicial para a biodiversidade

Os periquitos-de-colar são aves exóticas: aliás, esta actividade de observação insere-se na Semana Nacional das Espécies Invasoras 2020. Vieram da Índia e da África Subsariana e são uma espécie invasora.

Segundo o técnico da SPEA, uma espécie invasora “tem uma grande resistência, capacidade de reprodução e consegue espalhar-se”, além de se conseguir “adaptar rapidamente a diferentes ambientes”. Muitas vezes, salienta, “são agressivas”. “Não quer dizer depois que, na prática, todas essas espécies venham a tornar-se invasoras, no sentido de que tenham impacto na biodiversidade nativa.”

No caso do periquito-de-colar, Hany Alonso afirma que a espécie “pode ter impacto em espécies que nidificam em buracos, como os pica-paus, os mochos e as corujas, e mesmo em algumas espécies de morcegos” e também entram em competição com outras árvores por alimento (frutos e plantas, normalmente fauna exótica que pode ser encontrada em parques e jardins).

Em Espanha, estes periquitos já motivaram alterações às migrações de uma espécie de mocho. “Num estudo que foi feito aqui no país vizinho, onde a população de periquitos-de-colar anda à volta dos 3 mil, soube-se que [os periquitos-de-colar] têm tido impacto negativo sobre o mocho-d'orelhas. O mocho-d'orelhas é uma espécie migradora e quando retorna para nidificar na Península Ibérica, em algumas áreas onde também existem periquitos-de-colar, os buracos já foram ocupados, fazendo com que tenham de procurar áreas não tão boas”, explica Hany Alonso.

Como espécie exótica e ainda a ser estudada, a SPEA pensa que a expansão dos periquitos-de-colar começou com “fugas de cativeiro”. “A espécie foi comercializada e fugiu das casas onde estava”, diz o técnico. “Eventualmente, também pode dar-se o caso de haver algumas fugas de alguns jardins zoológicos.”