Zoo de Lourosa celebra 30 anos com novas crias de mutum-de-bico-azul, uma espécie ameaçada

O parque ornitológico de Santa Maria da Feira celebra o 30.º aniversário com o nascimento de novas crias de mutum-de-bico-azul, espécie ameaçada que nenhum outro zoo europeu reproduz.

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Fundado por iniciativa privada, em 1990, o Zoo de Lourosa foi adquirido pela autarquia local em 2000 e ficou, entretanto, sob gestão da empresa municipal Feira Viva, que assim assegura a preservação de mais de 500 animais de cerca de 150 espécies distintas, muitas das quais em estado de conservação crítico.

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Fundado por iniciativa privada, em 1990, o Zoo de Lourosa foi adquirido pela autarquia local em 2000 e ficou, entretanto, sob gestão da empresa municipal Feira Viva, que assim assegura a preservação de mais de 500 animais de cerca de 150 espécies distintas, muitas das quais em estado de conservação crítico.

Uma das aves em risco de extinção é precisamente o mutum-de-bico-azul (Crax alberti), espécie que, em toda a Europa, só é acolhida por três zoos e apenas se tem reproduzido no de Lourosa.

Salomé Tavares, directora do parque ornitológico de Santa Maria da Feira, o único do género no país, admite que esse trabalho científico de preservação será a faceta menos conhecida do zoo junto do grande público, mas garante que a protecção de espécies tem sido a principal missão do zoo, que, em três décadas, já recebeu “cerca de meio milhão de visitantes”.

Em 2019 foram mais de 26 mil os adultos e crianças que se deslocaram ao local e, mesmo em 2020, no actual contexto de pandemia, a procura registada vem surpreendendo.

“Estivemos fechados ao público naquela fase mais exigente do confinamento, mas não nos podemos queixar de falta de actividade porque, apesar da quebra nos grupos escolares e de seniores, a verdade é que o número de visitantes está a superar as nossas expectativas e temos recebido realmente muita gente, sobretudo ao fim-de-semana”, declara a bióloga à agência Lusa.

Salomé Tavares atribui essa procura a dois factores relacionados com o actual contexto epidemiológico: o facto de a visita ao zoo se revelar um programa interessante “para famílias, numa altura em que as pessoas passaram a socializar menos e a focar-se em experiências com o seu grupo mais restrito de contactos"; e a estrutura física do próprio parque ornitológico, que, ao ar livre e com muitas árvores, se revela “um espaço mais seguro” do que outras opções de entretenimento.

É certo que, devido à covid-19, desta vez o aniversário do Zoo “teve que dispensar grandes celebrações”, mas a directora do espaço afirma que a sua equipa se vem reconfortando com o nascimento das três crias de mutum-de-bico-azul, espécie endémica da Colômbia que se encontra “criticamente em perigo devido à perda de habitat natural e à captura ilícita”.

As estimativas oficiais apontam, aliás, para que “existam pouco mais de 1.000 espécimes dessa ave em contexto natural”, o que “dá ainda mais valor ao nascimento” destas crias no zoo de Santa Maria da Feira.

“O casal existente no Zoo de Lourosa é fruto de um intercâmbio em 2011 com o Zoo de Houston, nos Estados Unidos. Na altura, eles procuravam aves de origem diferente para introduzir na população americana, o Zoo de Lourosa estava com problemas de consanguinidade nas suas aves e foi uma troca de casais de mutum-de-bico-azul entre as duas instituições que veio solucionar ambos os problemas”, recorda Salomé Tavares.

Ainda assim, desde a chegada das aves de Houston ao parque português, “o seu sucesso reprodutivo tem sido pontual e nunca ultrapassou uma cria por ano”, até porque a espécie gera no máximo dois ovos por postura, incubando-os depois durante 28 a 30 dias.

Num sinal positivo, contudo, “2020 revelou-se um ano surpreendente também ao nível da criação de aves e a Crax alberti não foi excepção: após três posturas que não foram bem-sucedidas, nasceram duas crias em Agosto e uma terceira em Setembro”.

Os ovos foram incubados artificialmente e o seu desenvolvimento embrionário “meticulosamente acompanhado pelo veterinário” do zoo, sendo que os pequenos mutuns encontram ainda na sala de criação do parque, onde Salomé Tavares diz que permanecerão “até estarem suficientemente desenvolvidos para poderem ser transferidos para a sua instalação própria no exterior”.