Equipa portuguesa identifica antibióticos que conferem protecção contra a sépsis

A equipa verificou que um antibiótico da família das tetraciclinas aumenta a capacidade de sobrevivência à infecção generalizada pelo organismo em ratinhos.

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Tetraciclinas inibem a actividade das mitocôndrias das células, diminuindo os danos causados por infecções Joana Carvalho

Uma equipa de cientistas portugueses descobriu que um determinado grupo de antibióticos também confere protecção contra a sépsis, além de ajudar no controlo directo da infecção, levantando a possibilidade de serem usados como tratamentos adjuvantes.

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Uma equipa de cientistas portugueses descobriu que um determinado grupo de antibióticos também confere protecção contra a sépsis, além de ajudar no controlo directo da infecção, levantando a possibilidade de serem usados como tratamentos adjuvantes.

Num estudo publicado esta quarta-feira na revista médica Immunity, os investigadores concluem que as tetraciclinas (antibióticos de largo espectro) inibem parcialmente a actividade das mitocôndrias das células e, ao fazê-lo, induzem uma resposta compensadora do organismo que diminui os danos causados nos tecidos durante uma infecção, como a sépsis, que resulta de uma infecção generalizada e se caracteriza por desencadear uma resposta imunitária desregulada, que causa cerca de 11 milhões de mortes por ano em todo o mundo e para a qual não existe um tratamento específico.

Porque é que isto acontece? Segundo Luís Moita, investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, que liderou o estudo, estes antibióticos actuam sobre uma estrutura das bactérias semelhante a uma estrutura das células, a mitocôndria.

Pela sua semelhança, quando atacam as bactérias, estes antibióticos acabam também por actuar sobre as células, ainda que em menor grau, e nessa altura desencadeiam uma resposta que ajuda a “lidar com esse stress”. “De forma simples, o que acontece é que os antibióticos têm alvos que são parecidos nas bactérias que pretendem matar e no nosso organismo, e quando estão no nosso organismo activam respostas que nos ajudam a lidar com a infecção”, explicou Luís Moita à agência Lusa.

Estas respostas são desencadeadas pela presença, na maioria dos organismos, de mecanismos de defesa contra perturbações da homeostasia e um dos gatilhos principais para activar esses mecanismos é a activação de sinais de alarme pelas diversas estruturas internas das células, incluindo as mitocôndrias.

Na investigação desenvolvida no IGC, os autores do estudo procuraram estudar um conjunto de medicamentos conhecidos pelas suas capacidades de interferir com funções básicas das células, para perceber se haveria outras funções no organismo que, quando perturbadas, pudessem originar respostas compensadoras que ajudassem na resposta à infecção.

“Com base nessa ideia, testamos medicamentos e perguntamo-nos sucessivamente quais é que poderiam ser protectores na infecção da sépsis e foi na sequência dessa procura que encontramos este grupo de antibióticos. A partir daí fomos explorar os mecanismos moleculares que justificavam os seus efeitos”, descreveu Luís Moita.

Nas suas observações, os investigadores verificaram que a doxiciclina, um antibiótico da família das tetraciclinas, confere um aumento na capacidade de sobrevivência à sépsis em ratinhos, independentemente dos seus efeitos na carga bacteriana.

Segundo Henrique Colaço, o outro autor do estudo, estes benefícios estendem-se até aos pulmões, com uma diminuição dos danos nas células e a activação de mecanismos de reparação dos tecidos. “Além disso, no fígado ocorre a activação da resposta ao stress e mudanças metabólicas que fomentam a protecção dos tecidos”, explica o investigador, citado num comunicado do IGC.  

O próximo passo da equipa é um ensaio clínico, em que as tetraciclinas serão introduzidas no tratamento dos doentes, de forma a perceber se são efectivamente úteis e se melhoram a evolução dos doentes.

Para Luís Moita, as conclusões do estudo agora divulgado abrem novas possibilidades de terapia contra infecções e doenças como a sépsis, assentes no aumento dos mecanismos de tolerância à infecção e não apenas no seu controlo. “Isto poderá abrir as portas a um tratamento mais eficaz. Neste momento, a sépsis continua a não ter terapêuticas específicas e, por isso, qualquer coisa que surgir nesse sentido terá um impacto muito grande.”