Hospital de São João eleva plano de contingência e cancela cirurgias programadas
Unidade do Porto não é a única a ajustar a resposta. Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central prepara novo aumento de camas para a covid com efeitos nas cirurgias programadas. Também no Hospital Amadora-Sintra há suspensão de algumas cirurgias programadas.
O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, passa esta terça-feira ao nível 3 do plano de contingência por causa do aumento de doentes com covid internados e do acréscimo de procura do serviço de urgência. O gabinete de crise reuniu-se durante a tarde desta terça-feira para avaliar a situação. A decisão implica suspender parte das cirurgias programadas.
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O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, passa esta terça-feira ao nível 3 do plano de contingência por causa do aumento de doentes com covid internados e do acréscimo de procura do serviço de urgência. O gabinete de crise reuniu-se durante a tarde desta terça-feira para avaliar a situação. A decisão implica suspender parte das cirurgias programadas.
Não é o único a ajustar a resposta. No Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, onde se incluem os hospitais de São José e Curry Cabral, já se prepara novo aumento de camas para doentes covid com efeitos nas cirurgias programadas. Também no Hospital Amadora-Sintra, um dos que mais tem estado sob pressão na zona da Grande Lisboa, há suspensão de algumas cirurgias programadas e o número de doentes internados nos cuidados intensivos aumentou em relação à semana passada.
Segundo o relatório desta terça-feira da Direcção-Geral da Saúde, estão internados no país 916 doentes covid, o maior número desde 30 de Abril. Desses, 132 estão em unidades de cuidados intensivos (UCI). As regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte concentraram 87% dos 1208 novos casos de infecção confirmados.
Fonte hospitalar do CHUSJ , disse ao PÚBLICO, que será activado “o nível 3 do plano de contingência - que possui 4 níveis - para a covid-19, em resposta à necessidade de aumentar as áreas de internamento dedicadas à covid-19 e ao fluxo no serviço de urgência”. O processo fica concluído ainda esta terça-feira e “implica a alocação do serviço de medicina interna à covid-19, tendo impacto directo na limitação da actividade cirúrgica electiva, ou seja, com a suspensão de parte da actividade cirúrgica programada”.
A mesma fonte explicou que “o reforço e a mobilização de recursos humanos das várias especialidades, para as diversas áreas, já se encontra em implementação, de acordo com o plano de contingência”. A unidade portuense tem 52 doentes de covid-19 internados, dos quais 11 em UCI. A decisão de elevar o nível de resposta surgiu depois de os serviços de doenças infecciosas e de ginecologia, que estavam dedicados unicamente a doentes covid-19, terem chegado a uma “taxa de ocupação de 100%”.
Em declarações ao Expresso antes da reunião, o presidente do conselho de administração do São João admitiu estarem “muito preocupados com o evoluir da situação, em função do crescimento acentuado do número de casos”. “Além da enorme pressão no serviço de urgência, temos agora o impacto determinante no internamento”, disse Fernando Araújo, ex-secretário de Estado da Saúde. Já na sexta-feira passada, fonte oficial tinha adiantado ao PÚBLICO que o ritmo de afluência ao hospital poderia levar à revisão do nível de contingência.
No pico da primeira onda pandémica, o CHUSJ chegou a ter mais de 200 doentes de covid internados, quatro dezenas dos quais em cuidados intensivos. Mas na altura, por despacho do Ministério da Saúde, toda a actividade programada estava suspensa. Agora, é preciso dar resposta em simultâneo aos doentes não covid. O tempo frio, com mais vírus respiratórios a circular, trará ainda mais pressão à já criada pelo aumento de doentes covid a precisar de cuidados hospitalares.
Pressão a Sul
O contínuo aumento de casos positivos das últimas semanas continua a ter reflexo nos hospitais da Grande Lisboa. Um dos casos é o do Hospital Amadora-Sintra, um dos que mais pressão tem vivido nos últimos meses. Tem internados 50 doentes covid: 42 em enfermaria e oito em cuidados intensivos. A juntar à situação, o hospital teve de fechar a enfermaria de pneumologia depois de confirmados casos no serviço, mas a resposta em rede tem funcionado.
Segundo fonte hospitalar, “na última semana a UCI teve cinco doentes”, estando agora “com oito”. Começando “a ficar saturada”, já que há doentes de outras patologias que precisam igualmente de cuidados intensivos a quem é preciso dar resposta. O equilibro na gestão que se exige levou à “suspensão de algumas cirurgias programadas”, já que aumentar resposta de um lado significa diminuir no outro.
No Hospital de Loures, que também tem estado sob pressão, a situação “melhorou um pouco” em relação à semana passada no que diz respeito à afluência à urgência. Mas mantém-se a pressão da resposta a doentes não covid, sobretudo na capacidade de UCI, explicou fonte hospitalar, salientando que os recursos humanos nesta área são muito especializados e limitados. Quanto a doentes covid, têm 60 internados, dos quais cinco em UCI. Mas as equipas de intensivistas têm de ser repartidas pelas duas respostas.
Já no Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central (CHULC) estão internados 84 doentes covid, dos quais dez em UCI. Os doentes mais graves repartem-se entre o Hospital São José – sete doentes covid – e o Curry Cabral – três em UCI -, dois dos seis hospitais deste centro hospitalar. Todos os doentes internados em enfermaria, 74, estão no Curry Cabral. Fonte do CHUCL adiantou que estão a “preparar mais uma enfermaria de reforço para abrir”, o que se deverá traduzir em mais dez a 12 de camas. Que se juntam às 100 já dedicadas à covid. Mas há capacidade para chegar a 300, dedicando o Curry Cabral à pandemia se for necessário.
Em declarações à rádio TSF, a presidente do conselho de administração, Rosa Matos, explicou que estão “já a ocupar uma enfermaria que era dedicada à cirurgia”, o que obrigou o hospital a diminuir a actividade cirúrgica programada. O CHULC está na fase dois do plano de contingência, que tem oito fases. Quanto à urgência, a procura “está cerca de 20% abaixo em comparação com o mesmo período do ano passado”.
Santo António e Braga com folga
Por enquanto no Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP), que integra o Santo António e teve desde 1 de Março até agora 312 covid internados em enfermarias e 48 em UCI, a situação ainda permite uma folga. Apesar do “aumento de testes positivos e doentes internados”, principalmente desde a última quinzena. Ao PÚBLICO, o CHUP disse que tem internados 17 doentes em enfermaria, o que representa 50% da lotação. No pico tiveram 120 internados simultaneamente em enfermarias. Em UCI estão oito doentes, o que se traduz em 66% da lotação. No pico estiveram internados simultaneamente em UCI 25 doentes covid.
As enfermarias de infecciologia e pneumologia estão convertidas para covid e o serviço de cuidados intensivos dedicou uma das suas unidades à covid, “mas para já não foi necessário converter um bloco operatório em unidade intensiva (como aconteceu em Abril)”. Mas se a situação epidemiológica se agravar, “o CHUP decalcará o plano da Primavera, mas tentando proteger a actividade habitual do hospital, designadamente a produção cirúrgica”. O centro hospitalar contará com uma enfermaria pré-fabricada de reserva para o Inverno.
O Hospital de Braga tem internados 18 utentes com covid: 15 em enfermaria e três em UCI polivalente. “Actualmente, ainda não houve necessidade de se expandir a capacidade instalada”, referiu o hospital, acrescentando que “sempre que necessário” coopera com outros hospitais próximos, “nomeadamente o Hospital de Guimarães, recebendo doentes covid-19”.
O plano de contingência tem várias medidas previstas, “que serão reajustadas à evolução da situação pandémica”. Destacou o “reforço da capacidade diária de realização de testes de despiste de 300 para 1000”, o “aumento da capacidade da UCI com o reforço de profissionais e espaço físico” - a unidade tem actualmente 32 camas – e “mais de uma centena de camas reservadas para o tratamento de doentes com covid-19, que se traduzem em quatro alas de internamento exclusivas”. Mas mais camas podem ser activadas se preciso.
O PÚBLICO também pediu um ponto da situação ao Hospital de Guimarães, que não adiantou números de internamentos. Disse que “está a responder às solicitações de todos aqueles que precisam de cuidados de saúde, incluindo os doentes infectados pelo covid-19 e que carecem de internamento”. E que “apesar do aumento diário do número de infectados”, o hospital “tem dado resposta em tempo útil” e a “capacidade instalada está em conformidade”.