Dia 109: as avós e as mães são as mágicas que fazem desaparecer a roupa do chão
Educar não é dar o exemplo? Querem melhor exemplo do que 24 horas por dia, dia após dia, de costas dobradas a contrariar a força da gravidade?
Querida Ana
A verdade faz-nos mais fortes
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Querida Ana
Propunha que o Ministério da Educação incluísse tudo o que há a saber sobre a Lei da Gravidade nas metas curriculares do 1.º ano, depois repetisse a matéria no 2.º, 3.º, 4.º, reforçando-a no 2.º ciclo, para a partir daí duplicar a carga horária dedicada a explicar aos adolescentes que quando se larga um objecto ele tende a acabar no chão. E a ficar por lá.
Se há coisa que me enfurece — e já me tirava do sério enquanto mãe — é a forma como os miúdos deixam as toalhas e a roupa por todo o lado. Será que imaginam que saltam de lá para o cabide, e aparecem dobradas nas gavetas, como no filme da Mary Poppins? Ou sabem, com a segurança das certezas absolutas, que a magia não é chamada ao caso, porque existem as mães. E as avós.
Em teoria podíamos deixá-las onde ficaram, e eles que se secassem no banho seguinte a um pano húmido e bolorento, ou abrissem a gaveta para descobrir que já não há qualquer T-shirt lavada, mas duvido que resultasse, porque nesse braço de ferro ganham sempre eles. Supostamente a responsabilidade é nossa porque, mais uma vez, provamos que não sabemos educar. Mas educar não é dar o exemplo? Querem melhor exemplo do que 24 horas por dia, dia após dia, de costas dobradas a contrariar a força da gravidade?
Se vejo mais uma toalha no chão, deserdo-vos.
Querida Mãe,
Calma! Vou recitar-lhe uma frase do nosso novo filme preferido, Enola Holmes: “Está a ser emocional. É compreensível. Mas desnecessário!”
Antes de mudarmos o currículo inteiro do 1.º e do 2.º ciclos convém termos a certeza de que este fenómeno é causado pela ignorância sobre o que é força da gravidade, já que a mim parece-me que é precisamente o oposto. Eles aprenderam foi a usar a forma mais simples e que implica um menor esforço de levar um objecto a aterrar numa superfície: largá-lo! Soltam-se os dedos e pum, a toalha já não está na mão deles, que é como quem diz, já não é da sua responsabilidade.
E, sendo assim, a questão deixa de ser por que é que a largam, mas antes porque não a voltam a apanhar. E aqui, caro Watson, é que começam as perguntas. Será que a flexibilidade do tronco só se desenvolve depois dos 21 anos? Conseguiriam apanhar outro objecto do chão? Para descobrir a resposta desenvolvi uma pequena... experiência social, como agora lhe chamam.
- Primeiro passo, deixar uma nota de dez euros no chão. Observar o que os meus filhos fazem quando a vêem.
- Segundo, deixar uma toalha no chão. Observar o que os meus filhos fazem quando passam por ela.
Assim ficamos a saber toda a verdade! Não apanham porque não querem? Ou será que simplesmente não olham para baixo?
Agora, como mães, o que é que fazemos com essa verdade? Muito provavelmente o mesmo que eles: a acção de menor esforço. E entre apanhar a porcaria da toalha a bufar ou mandá-los apanhá-la 4570 vezes em vão, desconfio que sei qual é que vamos escolher.
Beijinhos,
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P.S.: Deixo-lhe um vídeo da minha experiência social. Pelo tamanho das pernas das cobaias vai perceber que inclui várias faixas etárias
P.P.S.: só para clarificar, sou deserdada mesmo que as toalhas tenham sido despejadas no chão pelos meus filhos?!