Santuário de Fátima já reduziu 51 postos de trabalho para fazer frente à pandemia
Entre “rescisões amigáveis”, passagens à reforma e não renovação de contratos, mais de meia centena de funcionários abandonaram este ano o santuário de Fátima. Em dia de peregrinação, a Igreja esteve a fazer contas aos “estragos” da pandemia.
Catorze funcionários do Santuário de Fátima já se “disponibilizaram” para sair, no âmbito do “plano de reestruturação interna” que, em ano de pandemia, visa reduzir os custos fixos daquele organismo.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Catorze funcionários do Santuário de Fátima já se “disponibilizaram” para sair, no âmbito do “plano de reestruturação interna” que, em ano de pandemia, visa reduzir os custos fixos daquele organismo.
Esta segunda-feira à tarde, numa altura em que o recinto do santuário se encontrava estranhamento vazio de peregrinos, apesar de os católicos se prepararem para celebrar, à noite, mais um aniversário da “aparição” da Virgem aos pastorinhos, dentro do recinto, os responsáveis máximos da Igreja faziam contas.
Segundo os números apresentados, além dos 14 “acordos amigáveis de rescisão”, e em nome da “salvaguarda da instituição” em tempos de crise sanitária e económica, vários outros trabalhadores desvincularam-se este ano do santuário: quatro funcionários passaram à reforma, 15 demitiram-se por sua iniciativa e houve 18 não renovações de contratos a termo, sobretudo de estudantes que trabalhavam no santuário a tempo parcial.
Santuário nega pressões sobre trabalhadores
São 51 funcionários a menos, num universo inicial de 308 colaboradores. E, para demonstrar que as saídas foram todas voluntárias, o reitor explicou que “vários dos trabalhadores que se desvincularam voluntariaram-se para ajudar no acolhimento dos peregrinos.
“Sem peregrinos perdemos também receita e, no final deste ano, teremos certamente um resultado negativo”, enunciou o reitor do santuário, Carlos Cabecinhas. E, depois de precisar que, “até ao final de Setembro, a quebra de receitas foi de 50,6% e a quebra dos donativos foi de 46,9%”, aquele responsável sublinhou que “os recursos não são inesgotáveis”.
Quando confrontados pelos jornalistas presentes com o compromisso que o bispo de Leiria-Fátima, o cardeal D. António Marto, assumiu em Maio, quando fez “ponto de honra” de que ninguém seria dispensado, Carlos Cabecinhas reiterou que o santuário nem sequer se reuniu unilateralmente com os colaboradores para que estes não se sentissem pressionados para sair.
“É falso que os tenhamos pressionado, propositadamente não chamámos um por um, optando antes por reuniões gerais, para que ninguém se sentisse pressionado. E, nalguns casos, fomos nós que desaconselhámos os trabalhadores a saírem, tendo em conta o impacto que essa decisão teria nos respectivos orçamentos familiares”, asseverou.
De seguida, Cabecinhas passou ao ataque ao sindicato do sector, acusando os seus responsáveis de terem levantado “uma série de suspeitas caluniosas”. “Disseram que havia alojamentos em que não se passavam facturas e acusações como esta não merecem resposta porque são gratuitas e especulativas”, acrescentou. E, para atestar, que o Santuário de Fátima, não enjeitou a sua responsabilidade social, lembrou que foi decidido aumentar em 60% os apoios sociais a instituições e famílias, “num total de 800 mil euros em que não estão incluídos os apoios que o santuário dá à Igreja em Portugal”.
Tudo isto, num período, de Março a Agosto, em que o santuário teve de gerir um total de 436 cancelamentos de grupos de peregrinos. “Entre Outubro e Novembro temos apenas 97 grupos inscritos (…) quando, no ano passado, só em Outubro, tivemos 733 grupos”, contextualizou.
Pandemia trouxe “problema sério” às contas
Questionado sobre o impacto global da pandemia nas contas da Igreja, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, respondeu que os números globais ainda estão por apurar, mas confirmou que a Igreja se debate com “um problema sério”.
“Nalgumas dioceses, a remuneração que o padre costuma receber teve de ser reforçada, para que não lhe faltasse o essencial”, exemplificou, sublinhando que estas dificuldades ocorrem numa altura em que “o número de pessoas carenciadas assistidas pelas paróquias subiu exponencialmente”. “E as paróquias são um barómetro muito importante do que está a acontecer no país”, disse, à laia de aviso, apontando o caso dos imigrantes “que ainda não estão totalmente inseridos na sociedade e que, de repente, ficaram sem nada”.
Segundo o presidente da CEP, que lidera também a diocese de Setúbal, a Igreja deverá reunir os vigários gerais de cada diocese para fazer a radiografia dos “estragos” da pandemia nas contas da Igreja.