Bispos portugueses não querem cemitérios fechados no dia dos Fiéis Defuntos
A impossibilidade de exprimir “saudades e afectos também é causa de sofrimento e de doença, por vezes grave e até mortal”, lembra a Conferência Episcopal Portuguesa.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) pediu esta segunda-feira às autoridades civis – juntas de freguesia e câmaras – que evitem o encerramento de cemitérios a 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, que coincide com um domingo em que muitas pessoas costumam rumar aos cemitérios para honrar os seus mortos, já que o dia dos Fiéis Defuntos, na segunda-feira imediatamente a seguir, é, para a generalidade das pessoas, dia de trabalho.
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A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) pediu esta segunda-feira às autoridades civis – juntas de freguesia e câmaras – que evitem o encerramento de cemitérios a 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, que coincide com um domingo em que muitas pessoas costumam rumar aos cemitérios para honrar os seus mortos, já que o dia dos Fiéis Defuntos, na segunda-feira imediatamente a seguir, é, para a generalidade das pessoas, dia de trabalho.
“São dias intensamente sentidos pela piedade dos fiéis católicos do nosso país, que neles fazem uma romagem de fé e esperança aos cemitérios onde repousam os restos mortais dos seus entes queridos”, apelou a CEP, numa nota emitida no final da reunião do seu conselho permanente, esta manhã, em Fátima, onde se celebra mais uma peregrinação comemorativa das aparições aos pastorinhos, em 1917.
“É certo que não depende da Igreja a gestão da grande maioria dos cemitérios nacionais. Confiamos, porém, que as autarquias e entidades que os tutelam saberão interpretar as exigências do bem comum encontrando um justo, mas difícil equilíbrio entre os imperativos de proteger a saúde pública e o respeito pelos direitos dos cidadãos”, lê-se na mesma nota, em que os bispos recordam ainda: “Não se adoece apenas de covid-19. A impossibilidade de exprimir de forma sensível e concreta saudades e afectos também é causa de sofrimento e de doença, por vezes grave e até mortal”.
A CEP reconhece que, “dado o estado actual da pandemia, é sensato que se imponham medidas suplementares de protecção, como a obrigatoriedade do uso de máscaras e o controlo do número de visitantes”, “estabelecendo um limite máximo, conforme a dimensão dos espaços”. Mas, insiste, “não seria apropriado o encerramento completo dos cemitérios”. Isto também porque, tendo em conta que a emergência sanitária começou em Março, desde então que muitas famílias nem sequer puderam acompanhar adequadamente os seus entes queridos em exéquias muitas vezes celebradas, como diz o Papa Francisco, de um modo que fere a alma”.
A CEP apela a que, do mesmo modo, se aumente a oferta de celebrações eucarísticas no dia 2 de Novembro “em horários que sejam mais convenientes à comunidade”. E, para prevenir aglomerações de pessoas, a CEP recomenda ainda aos párocos “que considerem nestes dias, em coordenação com as autoridades locais, a possibilidade de celebrar a eucaristia nos cemitérios”.
Esta posição parece contrastar com a decisão anunciada há dias pelo bispo da Guarda, D. Manuel Felício, que optou pela não-realização das habituais romagens aos cemitérios nos dias 1 e 2 de Novembro, não existindo como tal autorização para “fazer procissões, incluindo romagens, e muito menos concentrações nos cemitérios, espaços esses que, de acordo com a lei, estão sob a tutela da autoridade civil, neste caso as juntas de freguesia”, conforme se lê na nota divulgada pela diocese. Confrontado com esta discrepância, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, que participou esta tarde numa conferência de imprensa no Santuário de Fátima, onde à noite se realiza a peregrinação internacional, explicou que “o panorama é muito diferente” em cada uma das dioceses. “Na minha diocese [de Setúbal], não há esta concentração tão grande de pessoas nos cemitérios”, isto é, “as pessoas vão, mas não ameaçam o princípio do distanciamento”. Daí que não possa haver uma “regra única”.