Eis o 18.º Doclisboa: seis meses de “cinema de urgência”
Edição 2020 do festival de cinema documental estende-se até Março, sem competições nem secções, mas dividida em programas temáticos ao ritmo de um por mês. Abertura é a 22 de Outubro com Nheengatu – A Língua da Amazónia, do português José Barahona.
Em vez de dez dias, seis meses de “cinema de urgência”: é assim que o Doclisboa se reinventa para a sua 18.ª edição, apresentada esta manhã em conferência de imprensa e com arranque oficial daqui a menos de duas semanas, já no dia 22, com o documentário de José Barahona Nheengatu – A Língua da Amazónia, e encerramento a 10 de Março de 2021, com Paris Calligrammes, auto-biografia parisiense da cineasta alemã Ulrike Ottinger.
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Em vez de dez dias, seis meses de “cinema de urgência”: é assim que o Doclisboa se reinventa para a sua 18.ª edição, apresentada esta manhã em conferência de imprensa e com arranque oficial daqui a menos de duas semanas, já no dia 22, com o documentário de José Barahona Nheengatu – A Língua da Amazónia, e encerramento a 10 de Março de 2021, com Paris Calligrammes, auto-biografia parisiense da cineasta alemã Ulrike Ottinger.
Pelo meio, um festival que, numa primeira fase, vai estar em “movimento constante” nas salas da Culturgest, da Cinemateca Portuguesa e do Cinema São Jorge até 1 de Novembro, e que depois ressurgirá uma vez por mês, ao ritmo de 12 sessões mensais, cada uma subordinada a um tema relevante para o nosso mundo – o trabalho, a viagem, a família, a memória, o arquivo, a pessoa. Serão, ao todo, 215 filmes, entre os quais 34 produções portuguesas, e títulos como o mais recente de Frederick Wiseman, City Hall, a par de Amor Fati, de Cláudia Varejão, ou Purple Sea, registo de um naufrágio de um barco de refugiados pela mão de uma das suas sobreviventes, a síria Amel Alzakout.
Como já tinha sido anunciado pela direcção (Joana Gusmão, em licença de parto, Joana Sousa e Miguel Ribeiro), o festival irá este ano concentrar as suas actividades de indústria e de produção exclusivamente nas plataformas online, deixando o cinema para as salas. Mantém-se a mistura de formatos (curtas, longas, médias) mas ficam para trás o modelo competitivo e as secções tradicionais. Em seu lugar, surge o que a organização define como “momentos”, ou programas temáticos que agrupam filmes em estreia portuguesa, internacional ou mundial. O primeiro dos seis “momentos” do festival decorre então de 22 de Outubro a 1 de Novembro, repartido por três linhas condutoras.
Uma delas corresponde a um programa “introdutório” intitulado Sinais, onde se mostrarão seis filmes que antecipam os temas a desenvolver ao longo dos próximos seis meses: Mon amour, do francês David Teboul, É Rocha e Rio, Negro Léo, da brasileira Paula Gaitán, Kubrick by Kubrick, do francês Gregory Monro, Guerra, de José Oliveira e Marta Ramos, Chelas Nha Kau, de Bagabaga Studios e Bataclan 1950, e a curta Chelas City, de Bataclan 1950.
Juntam-se-lhe a já anunciada retrospectiva sobre o cinema da ex-república soviética da Geórgia, A Viagem Permanente, a decorrer na Cinemateca Portuguesa, com curadoria de Marcelo Félix, e finalmente, Corpo de Trabalho, um conjunto de filmes sobre questões laborais, em associação com a Agência Europeia para a Segurança no Trabalho. Aqui, 11 filmes novos (dois dos quais, Scenes in an Atelier, de Madelaine Merino, e Under the North Sea, de Federico Barni e Alberto Allica, em estreia mundial) cruzam-se com um programa histórico que inclui obras de Carole Roussopoulos, Heike Sander, Shohei Imamura, Alain Cavalier, Joris Ivens ou Harun Farocki.
Quatro dias depois do “encerramento” deste primeiro momento, seguir-se-á o segundo: Deslocações, de 5 a 11 de Novembro, aborda a viagem e a mudança, num grupo de sessões que incluirá Amor Fati, de Cláudia Varejão, estreado em Abril no festival suíço Visions du Réel, a par de Desterro, de Maria Clara Escobar, Nails in My Brain, do azeri Hilal Baydarov (cujo posterior In Between Dying fez sensação este ano em Veneza), ou Questo è il Piano, de Luciana Fina. Em Dezembro, de 3 a 9, será a vez de Espaços da Intimidade, sobre a família e a casa. Por aqui se estrearão A Nossa Terra, o Nosso Altar, de André Guiomar, A Vida em Comum, de Diogo Pereira, Film About a Father Who, de Lynne Sachs (a irmã de Ira Sachs), ou This Is Paris Too, de Lech Kowalski.
Os restantes ciclos terão lugar em 2021: Ficaram Tantas Histórias por Contar (de 14 a 20 de Janeiro), Arquivos do Presente (4 a 10 de Fevereiro) e De Onde Venho, para Onde Vou (4 a 10 de Março). Nestes três programas exibir-se-ão filmes de Joana Pontes (Visões do Império), Radu Jude (The Exit of the Trains) ou Laurent Achard (Jean-François Stévenin – Simple Man), a par de Me and the Cult Leader, de Atsushi Sakahara, Schlingensief, de Bettina Böhler, ou Medium, de Edgardo Cozarinsky.
O programa que “compacta” ao longo de cada ciclo muitas das propostas que o Doc costumava espalhar pelas suas múltiplas secções (das apostas mais ousadas dos Riscos à secção de documentários musicais Heart Beat), mas mantém intacta a dimensão interventiva que o certame assumiu abertamente nos últimos anos. Em alguns casos, até a amplifica, como se pode ver na aposta continuada no Cinema de Urgência com sessões “fora do baralho” que abordam a luta contra a covid-19 pelos índios krahô da Amazónia, e o cinema como combatente anti-racista, com um programa concebido pela SOS Racismo a ter lugar em Janeiro no Padrão dos Descobrimentos.
Mas o facto é que este Doclisboa, em seis meses em vez de dez dias, quer combinar a urgência do momento em que vivemos com a capacidade de dar um passo atrás e reflectir sobre ele. A programação completa e os pormenores estarão disponíveis em www.doclisboa.org .