Posto Fixo de Lisboa da Cruz Vermelha é inaugurado esta sexta-feira, com capacidade para 1200 testes por dia
A cerimónia conta com a presença da ministra da Saúde. A Cruz Vermelha ofereceu 500 mil destes testes ao Governo para usar em lares e escolas, mas a tutela tem mostrado algumas reservas sobre a fiabilidade dos resultados.
Rita Lopes, médica veterinária de 45 anos, senta-se na cadeira previamente desinfectada, tira os óculos, ouve as indicações do enfermeiro, inspira e expira fundo, mostra um ligeiro desconforto quando lhe é introduzida a zaragatoa numa das narinas, depois noutra, ri-se, levanta-se com os olhos lacrimejantes e já está. “É desagradável, mas rápido”, diz, enquanto espera pelo resultado do teste de antigénio de leitura rápida, de detecção da covid-19, que lhe será transmitido cerca de 15 minutos depois. Resultado: negativo.
A utente foi apenas uma das que, desde terça-feira, se dirigiram ao Posto Fixo da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa, onde já se fazem tanto estes testes rápidos, como moleculares que vão para laboratório. Rita Lopes pagou 20 euros, não teve de apresentar qualquer pedido médico, foi fazer a marcação e aparecer. Os testes rápidos não beneficiam de qualquer comparticipação, uma vez que ainda nem estão oficialmente reconhecidos pela tutela. Existe um grupo de trabalho a estudar o tema dos testes à covid-19 no geral, que já está em fase adiantada, esperando-se que, muito em breve, saia uma norma que enquadre as circunstâncias em que se deve fazer cada um dos testes.
O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Francisco George, acaba de entrar no Posto Fixo de Lisboa. Ao PÚBLICO, diz não estar preocupado com eventuais anúncios da tutela sobre o reconhecimento destes testes rápidos: “Não estou preocupado com esse aspecto. Os testes estão a ser utilizados, fora das normas da Direcção-Geral da Saúde (DGS), por enquanto, prevê-se que venham a ser incluídos, mas, como todos reconhecem, as acções de saúde pública são tomadas muito para além das questões normativas.” E acrescenta: “É o que está a ser agora utilizado no mundo desenvolvido, como todos sabem. A questão normativa ainda não foi divulgada pela DGS, mas não impede que, entretanto, sejam desenvolvidas iniciativas neste sentido.”
A Cruz Vermelha ofereceu 500 mil destes testes ao Governo para usar em lares e escolas, mas a tutela tem mostrado algumas reservas sobre a fiabilidade dos resultados, sobretudo em casos de baixa carga viral, admitindo, no entanto, a possibilidade de uso em algumas circunstâncias. A resposta final, porém, ainda não chegou. Já os testes moleculares com resposta em 24 a 48 horas, que também se fazem neste posto, podem custar cerca de 60 euros, caso não sejam comparticipados.
O Posto Fixo, instalado na parte exterior do Lar Militar da Cruz Vermelha, ainda está a ser montado, as dez tendas já estão erguidas, mas ainda não é dentro delas que se fazem os testes – haverá quatro para esta finalidade. A inauguração oficial está marcada para sexta-feira e aguarda-se a presença da ministra da Saúde. Ainda há muitas mãos a abrir caixotes, a montar sistemas eléctricos, a colocar macas no devido lugar. Na segunda-feira, espera-se que esteja tudo a funcionar em pleno.
A enfermeira Joana Machado, coordenadora do posto, vai mostrando onde se situarão os chamados espaços limpos e aqueles que podem estar contaminados, explicando que haverá dois circuitos para receber as pessoas: um para receber quem chega a pé; outro para receber quem chega de carro – o teste será feito à janela, sem que a pessoa tenha de sair. Haverá capacidade para testar seis pessoas ao mesmo tempo, mas, se a pandemia assim o ditar, poderá ir-se até às 10 em simultâneo. Este posto terá capacidade para fazer até 1200 testes por dia, o que inclui os dois tipos de testes, mas, se for preciso, poderá aproximar-se dos 2000. O especialista em imuno-hemoterapia e gestor do Programa Especial de Testes Covid-19 da Cruz Vermelha Portuguesa, Gonçalo Órfão, acrescenta que, a nível nacional, a Cruz Vermelha pode fazer até 3500 testes por dia, através de unidades em vários pontos de país, que incluem também equipas que vão a empresas e lares, por exemplo.
“Hoje pode ser negativo e amanhã positivo”
Quando chega, Francisco George passeia por entre as tendas, vai espreitando o processo de montagem do local. E lembra que este posto, “erguido para concretizar o acordado com a Sociedade Francisco Manuel dos Santos, que assegurou o financiamento, com o Instituto de Medicina Molecular e com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo”, tem como objectivo “aumentar a capacidade instalada para se fazerem testes covid na zona de Lisboa”.
Entre terça e quinta-feira, já se fizeram aqui cerca de 150 testes dos dois tipos. Na quinta-feira, já tinha havido um resultado positivo num teste rápido; no dia anterior, houve três resultados rápidos positivos. Já o resultado dos testes moleculares demora entre 24 a 48 horas. Quando o resultado de um teste rápido é positivo, as autoridades de saúde locais são informadas e a pessoa segue o protocolo de saúde oficial que, normalmente, implica a realização de um teste molecular, cuja amostra vai para laboratório. Para já, as marcações podem ser feitas através do número 1415, mas espera-se que, a partir de sexta-feira, possam ser feitas também online, no site da Cruz Vermelha Portuguesa.
Neste posto, trabalharão 30 profissionais, entre enfermeiros, auxiliares de enfermagem, e pessoal para coordenação e apoio logístico. Mas este número poderá duplicar, caso a evolução da pandemia o exija. Não terá médicos em permanência, apenas de chamada.
Rita Lopes esteve em Inglaterra recentemente e, como tem um avô com 96 anos e lida com muitas pessoas no trabalho, decidiu fazer o teste. Fez uma pesquisa online, encontrou informações sobre a resposta que Cruz Vermelha está a dar, meteu-se a caminho. Apesar do resultado negativo, ouviu conselhos do enfermeiro Rafael Pereira sobre os vários cuidados que deve continuar a ter: tirar os sapatos à porta de casa, lavar as mãos, entre outros.
Para Gonçalo Órfão, a vantagem destes testes de antigénio de leitura rápida é terem resultados “na hora”, não dependerem de um laboratório, serem “baratos” e, por tudo isso, poderem ser repetidos mais vezes. “Mas é importante não passar a ideia de que, pelo facto de estar negativo, pode haver festa. Hoje pode ser negativo e amanhã positivo. E também não quer dizer que, mesmo sendo negativo, a pessoa não tenha de ficar em isolamento. Se numa família houver um caso positivo, os restantes elementos que vivam com essa pessoa, mesmo que tenham testes negativos, devem ficar em vigilância”, diz. Além disso, alerta, o vírus tem um tempo de incubação que se pode estender até 14 dias, o que significa que, ao longo deste período, pode por vezes não ser detectado em ambos os testes.
Na mesma tarde, e abrangidos por um protocolo, apareceram vários polícias, da PSP, que vão regularmente fazer testes moleculares: “Este já é o 4.º ou 5.º que faço”, diz Paulo Sousa, 33 anos. Também Fátima Chaves, secretária de 56 anos, decidiu fazer o teste rápido, depois de ter almoçado com uma pessoa que tinha estado em contacto com alguém infectado. Não ligou à SNS 24, meteu-se a caminho por iniciativa própria. Não tem quaisquer sintomas, queria apenas ficar mais descansada, e ficou. “Acho que isto é óptimo, é prático”, diz. O resultado foi negativo.