Na reserva de Navajo, as alterações climáticas secaram a água e destruíram o pasto
A área que cobre partes do Arizona, Novo México e Utah está mais deserta do que nunca. O aquecimento global deixou um terço da zona de pasto cheia de dunas de areia e os habitantes são forçados a viajar dezenas de quilómetros para ter água para o gado.
Depois de duas décadas de seca extrema na reserva de Navajo, que cobre 70 mil quilómetros quadrados ao longo de três estados nos Estados Unidos, o rancho que cobre a quinta de Maybelle Sloan e do marido Leonard tornou-se numa vasta planície de terra e pó.
As alterações climáticas secaram o Oeste americano. O fumo dos fogos florestais nos estados do Arizona e da Califórnia cobrem o céu, perto do icónico Grand Canyon. A época das chuvas voltou a falhar, a água que a natureza oferece não caiu e os poços que guardam água para os rebanhos nos meses quentes do Verão estão vazios.
A Nação Navajo, um território demarcado para nativos americanos, partilha a distribuição de água potável com grandes metrópoles, como Phoenix e Los Angeles, o que retira margem de manobra para o pequeno rancho ter acesso a água para animais.
Para tentar colmatar a seca extrema, Maybelle e Leonard usam um tanque de plástico de mais de 4500 litros. Viajam todas as semanas cerca de 24 quilómetros até um poço de água gratuita para gado, gastando 80 dólares (68 euros) por semana em combustível. Os custos para alimentar o gado variam entre os 2550 a 3400 euros.
Leonard Sloan, de 64 anos, contou à Reuters que, durante décadas, o rancho via chuva “todos os anos por volta de Junho, Julho, Agosto”. “Quando tínhamos tempestades, havia água e o poço cheio. Agora, devido ao aquecimento global, não temos chuva”, disse Leonard.
Os gastos em água e combustível deixaram de tornar o rancho rentável, além de que o dinheiro gasto em ração tem aumentado à medida que a erva deixou de crescer e o gado deixou de ter alimento para pastar.
Maybelle teve de reduzir o número de ovelhas e Leonard pressiona-a para vendê-las todas, além de 18 cabras, mas o rebanho tem um significado acrescido: em Abril, os pais de Maybelle e a sua irmã morreram de covid-19 e a pastora de 59 anos quer segurar o rebanho da família.
Os Sloan ainda se lembram dos anos 80, em que a relva crescia ao ponto de tocar na barriga dos cavalos. Mas os períodos de seca extrema que começaram a partir dos anos 90 passaram a condicionar os recursos em Navajo.
Entre 1919 e 2019, a temperatura média na reserva do condado de Navajo subiu 0,8 graus Celsius, segundo dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica americana.
O Verão de 2020 foi o mais seco desde que há registo, de acordo com dados providenciados à Reuters pelo Instituto de Investigação do Deserto, no estado do Nevada. Agora, cerca de um terço da área da reserva é ocupada por dunas de areia e os leitos dos rios estão quase todos vazios.
Além disso, os habitantes da Nação Navajo ainda têm de tentar lutar contra leis do século XX que limitaram, na prática, o acesso a água potável e recursos aos nativos americanos (apesar de a lei lhes conceder “direitos reservados” a esses recursos).
Ainda assim, os Sloan têm motivos para ter esperança. Alguns dos jovens já ajudam os avós a ir buscar água todos os dias para dar aos animais e os seus filhos trabalham longe do rancho para enviar dinheiro e ajudar o negócio da família. “Somos um povo determinado”, disse Maybelle.
Actualização: a reserva cobre 70 mil quilómetros quadrados e não 27 mil metros, como estava incorrectamente escrito.