A pintura em movimento de Nadir Afonso
Universidade do Porto inaugura esta quinta-feira uma exposição de inéditos a abrir um vasto programa de celebração do centenário do nascimento do pintor e arquitecto, que foi também um homem da Escola do Porto.
Repor a arte de Nadir Afonso (1920-2013) no lugar que ela merece, um lugar cimeiro nas artes em Portugal – é este o declarado objectivo da Universidade do Porto (UP) e do curador António Quadros Ferreira com a exposição 100 Anos Nadir, Inéditos, que esta quinta-feira abre na galeria da Reitoria da instituição onde o pintor-arquitecto foi também aluno, e depois um vulto proeminente.
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Repor a arte de Nadir Afonso (1920-2013) no lugar que ela merece, um lugar cimeiro nas artes em Portugal – é este o declarado objectivo da Universidade do Porto (UP) e do curador António Quadros Ferreira com a exposição 100 Anos Nadir, Inéditos, que esta quinta-feira abre na galeria da Reitoria da instituição onde o pintor-arquitecto foi também aluno, e depois um vulto proeminente.
São, na verdade, centena e meia de peças desconhecidas do público aquelas que compõem a mostra distribuída por quatro espaços da galeria, a abrir um programa de iniciativas a assinalar o centenário do artista nascido em Chaves no dia 4 de Dezembro de 1920.
Além da presente exposição, promovida em parceria com a Fundação Nadir Afonso, com sede (e um museu desenhado por Álvaro Siza) na cidade transmontana, o calendário inclui a edição de quatro volumes da colecção Arte e Pensamento, que reúnem a produção ensaística do artista, com prefácio de Carlos Fiolhais, e um quinto livro, Nadir, Mestre de Si Mesmo, de António Quadros Ferreira, que desde há muito tem vindo a estudar e a chamar a atenção para a importância, ainda não suficientemente reconhecida, da sua obra plástica – este professor e artista é também o curador da exposição Nadir, Subjectum, patente no Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves, sobre a presença da figura humana na sua pintura.
“Nadir é talvez o único grande modernista português da segunda metade do século XX que tem uma obra ímpar, na medida em que são raros os artistas que pensam também a sua obra do ponto de vista teórico”, diz o curador, realçando a importância da edição dos seus ensaios, muitos deles agora traduzidos a partir dos originais em francês.
É também para mostrar como Nadir “pensava a teoria artística por dentro” que António Quadros Ferreira organizou a presente exposição seguindo um percurso que acompanha a sua biografia, de resto inscrita nas paredes da galeria da UP.
Memórias para arte futura
100 Anos Nadir, Inéditos abre com uma primeira sala onde se reúnem, em quatro vitrinas, 130 estudos de pequena dimensão que permitirão precisamente “fazer a ponte entre o pensamento e a obra”, nota o curador, dizendo que “todos os estudos de Nadir são memórias que ele regista e guarda para as trabalhar futuramente”. Começa com trabalhos do seu tempo de aluno da Escola de Belas Artes do Porto, prosseguindo depois pelas sucessivas fases e experimentações que Nadir foi fazendo entre o Porto e Paris, onde chegou em 1946 para estudar na École des Beaux-Arts. Há aí traços e cores surrealistas e barrocos, há estudos de viagens e das cidades que foi conhecendo… “O Nadir viajava por impulsos, e reflectia essas experiências de viagem na pintura”, diz ao PÚBLICO Laura Afonso, viúva do pintor, também a guiar a visita do PÚBLICO à exposição ainda em montagem.
Na segunda sala está a única peça que não é inédita, e que de algum modo irradia (e explica) o conjunto da obra. Trata-se da pintura-instalação Máquina cinética – exposta pela primeira vez em 1956, na Galeria Denise René, em Paris –, rodeada por dez telas da série Espacillimité. Apoiada em dois cilindros accionados por um motor, uma tela com mais de dois metros de comprimento permite ao artista “representar o tempo no espaço bidimensional através dos estudos e posteriormente dos guaches e pinturas”, a que ele chamará Espacillimité, explica António Quadros Ferreira, chamando a atenção para a importância da sua estada em Paris, onde conviveu e se associou às experiências dos principais nomes da arte cinética e da op-art, movimento criado pelo húngaro Viktor Vasarely.
A Máquina cinética estabelece também a passagem para as pinturas de cidades, que surgem no terceiro espaço, com sete telas que denotam já uma dimensão cinematográfica – “como se se tratasse de imagens projectadas num ecrã”, nota o curador –, e de onde sobressai uma pintura de grandes dimensões, Da ocidental Praia Lusitana (criada em 2012, a partir de Camões), que terá sido uma das suas últimas criações.
O último espaço da exposição – que dá também a ver os seus livros em diferentes idiomas e parte da sua biblioteca pessoal – mostra os guaches com que o artista fazia a mediação entre os estudos e as pinturas. Podem ainda seguir-se três documentários em vídeo sobre Nadir Afonso e sobre a construção do museu de Chaves, comentada por Siza.
“Nadir Afonso intitulava-se laboro-maníaco; ele tinha uma paixão, uma obsessão pela pintura”, recorda a viúva, dizendo que “ele namorava com o quadro até chegar à forma perfeita”. E foi autor de uma vastíssima obra, calculada em perto de 15 mil peças – daí a existência de tantos inéditos, que a presente exposição ajuda também a desvendar.
Em paralelo com 100 Anos Nadir, Inéditos – patente na Reitoria da UP até 23 de Dezembro –, o programa inclui também o lançamento de um Prémio Fundação Nadir Afonso/UP e a realização de duas mesas-redondas, visitas guiadas e oficinas para famílias em volta da sua arte cinética.