Morreu Johnny Nash, a voz de I can see clearly now
Será principalmente recordado pela canção que gravou em 1972, mas o seu percurso revela-nos um homem de muitas vidas: estrela crooner na adolescência, actor no cinema, cúmplice de Bob Marley e divulgador do reggae nos Estados Unidos e em Inglaterra. Morreu aos 80 anos, de causas naturais.
Para a posteridade ficará, inevitavelmente, I can see clearly now, a canção de melodia calorosa, toda ela luz beatífica, que se transformou em standard e que, de certa forma, suplantou o seu autor. No momento da morte de Johnny Nash, esta terça-feira, aos 80 anos, de causas naturais, na sua casa em Houston, segundo avançou o seu filho, Johnny Nash Jr., à Associated Press, será dessa canção que nos recordaremos. A sua carreira foi, porém, mais recheada: foi jovem estrela crooner no final da década de 1950, foi depois disso um dos primeiros divulgadores do reggae nos Estados Unidos — trazendo consigo da Jamaica um certo Bob Marley.
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Para a posteridade ficará, inevitavelmente, I can see clearly now, a canção de melodia calorosa, toda ela luz beatífica, que se transformou em standard e que, de certa forma, suplantou o seu autor. No momento da morte de Johnny Nash, esta terça-feira, aos 80 anos, de causas naturais, na sua casa em Houston, segundo avançou o seu filho, Johnny Nash Jr., à Associated Press, será dessa canção que nos recordaremos. A sua carreira foi, porém, mais recheada: foi jovem estrela crooner no final da década de 1950, foi depois disso um dos primeiros divulgadores do reggae nos Estados Unidos — trazendo consigo da Jamaica um certo Bob Marley.
Nascido em Houston, no Texas, Estados Unidos, a 19 de Agosto de 1940, iniciou o seu percurso musical no coro da Igreja Baptista que frequentava. Precoce, já aos 13 anos era figura num canal televisivo local. Aos 18, enquanto uma versão de Doris Day, A very special day, subia nas tabelas de vendas, começava a ser projectado como rival de um dos mais afamados crooners da época, Johnny Mathis, e tornava-se também figura na 7.ª arte: a sua interpretação de um jovem estudante em revolta contra o sistema de ensino, em Take a giant step, de Philip Leacock, foi distinguida no festival de Locarno, em 1959 (no ano seguinte, contracena com Dennis Hopper em Key Witness, de Phil Karlson).
Em 1972, quando edita aquela que se tornou a sua canção assinatura, incluída no álbum com o mesmo título, inspirada súmula de soul e reggae (belissimamente adornada com sintetizadores Moog) envolvida numa verve de cantautor alinhada com a sensibilidade de, por exemplo, Bill Withers, a imprensa celebra o regresso de Johnny Nash, o que contraria a ideia posterior de estarmos perante um one hit wonder. Muito acontecera, na verdade, ao jovem crooner das colaborações com Paul Anka e das presenças na televisão e no cinema. Em 1965, com a balada Let’s move the groove together, assina o último êxito da primeira fase da sua vida musical. Nesse mesmo ano, muda-se para a Jamaica.
Apaixonado “pelas vibrações desta pequena ilha”, toma contacto com a cena musical local, guiado pelos Wailers, ou seja, Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Livingston, e a sua música deixa-se contaminar pelo ska e pelo reggae em desenvolvimento no país. Paralelamente, contrata Marley e os companheiros para a sua recém-formada editora, a JAD. Da relação nasceram várias edições de Marley e uma digressão inglesa partilhada – Nash, estrela maior à época, teve o futuro autor de One love a abrir os seus concertos. A influência da música jamaicana em Nash manifestou-se inicialmente no ska de Hold me tight, sucesso dos dois lados do Atlântico em 1968.
I Can See Clearly Now, o álbum, chega em 1972 e abre com Stir it up, canção de Bob Marley editada originalmente com os Wailers em 1967 e que Marley regravaria para o disco que o revelaria internacionalmente, Catch a Fire (1973) – no álbum de Nash encontramos outra composição de Marley, Guava jelly. Quanto a I can see clearly now, a canção, tornou Johnny Nash uma estrela (outra vez). Depois dela, continuou a criar música onde a influência jamaicana se fazia sentir e continuou a editar regularmente até ao final dos anos 1970, sem nunca replicar os sucessos anteriores. Editou o último álbum, Here Again, em 1986, mas aquele que seria o terceiro regresso marcou o fim do seu percurso discográfico.
Retirado do meio musical, vivia com a família na sua quinta em Houston (foi casado três vezes e deixa dois filhos), onde se dedicava a outra das suas paixões, os cavalos. Mais uma vida neste homem de muitas vidas: o cantor de I can see clearly now foi também, durante muitos anos, organizador de rodeos na sua Johnny Nash Indoor Arena.