Joacine Katar Moreira protagoniza curta-metragem: “Aquela sou eu”

A deputada Joacine Katar Moreira aceitou participar na curta-metragem do realizador guineense Welket Bungué, um projecto que olha para os trabalhadores essenciais que não pararam de trabalhar durante a pandemia. O filme estreou-se na segunda-feira.

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Esta não é a estreia de Joacine Katar Moreira na sétima arte. Mas é a primeira vez que o faz desde que está em São Bento. A deputada não-inscrita é uma das protagonistas da nova curta-metragem do cineasta e realizador guineense Welket Bungué, cuja intenção primordial é “apelar à união, celebrando as diferenças de cada um”. Ao PÚBLICO, Joacine Katar Moreira elogia o trabalho do realizador e destaca a “vertente artística forte” do projecto.

Em 2013, a deputada já tinha participado no filme Bobô, de Inês Oliveira, mas a sua participação neste formato é inédita. Fá-lo porque a cultura é para si “uma bomba de oxigénio”, justifica. Sobre o seu papel no filme, no qual foi convidada a opinar sobre interculturalidade e género na sociedade contemporânea portuguesa, sintetiza e desafia a assistir: “Aquela sou eu”. 

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Fotografia gentilmente cedida por Inês Subtil

“​Já acompanhava o trabalho de Welket Bungué com muito entusiasmo, mas foi uma completa surpresa este convite, para mais tendo em conta o momento que vivemos”, começa por explicar a deputada. “Aceitei o convite de participar neste projecto porque confio no trabalho de Welket e tinha quase a certeza que seria sério e dignificante. E o facto de ter uma vertente artística forte também me atraiu”, continua Joacine Katar Moreira.

Ainda que mão considere o trabalho de deputada como o de trabalhadora essencial (como retrata o filme), justifica que esse foi o olhar trazido pelo realizador e lembra que “o Parlamento não fechou durante o estado de emergência”. Além disso, também o trabalho parlamentar, sobretudo legislativo, “foi fundamental para uma resposta célere e eficaz à pandemia”, sublinha.

No filme não me consigo desligar daquilo que sou, mesmo porque não foi isso que me foi pedido”, descreve Joacine Katar Moreira, que levou também ao palco a vertente da performance e o da interpretação. No final, o balanço foi positivo: “Penso que valeu a pena o risco”.

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O projecto retrata um conjunto de trabalhadores essenciais que não pararam de trabalhar durante a primeira fase da pandemia Fotografia gentilmente cedida por Inês Subtil

Participação híbrida

Em resposta ao PÚBLICO, o realizador descreve a participação da Joacine Katar Moreira como “híbrida”, uma vez que participa “enquanto cidadã activamente engajada nas políticas sociais que visam o empoderamento e humanização (no senso democrático do termo) para as comunidades e minorias étnicas que são desfavorecidas ou alienadas pelo sistema político-social vigente”, mas também é colocada na situação de actriz, num momento de interpretação do texto da curta. “Neste sentido, Joacine vê-se deslocada simbólica e convencionalmente daquilo que é a situação de escrutínio político com que ela se tem visto obrigada a ter de lidar”, explica Welket Bungué. 

Mudança é uma das quatro curtas-metragens que integram o programa “Essenciais”, um projecto que retrata como um grupo de trabalhadores essenciais manteve a sua actividade laboral durante a primeira fase da pandemia covid-19 (doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2). Joacine Katar Moreira está também a finalizar uma proposta de criação do estatuto de trabalhador essencial. “Penso que devemos isto aos profissionais que em ambiente de pandemia não puderam ficar confinados e resguardados porque eram fundamentais para a luta contra a covid-19 e que que carecem de reconhecimento salarial e de uma maior protecção laboral.”, diz 

O filme, que dura aproximadamente 30 minutos, pode ser visto no site do Teatro Bairro Alto e está também disponível na plataforma YouTube. Mudança baseia-se em dois poemas escritos pelo pai do realizador e mistura interpretação falada e coreografada. Os poemas, publicados no livro Cabaró, Djito Tem!, foram a inspiração da obra, que “aborda opiniões sobre as estruturas de poder na Europa pós-colonial, expõe a fragilidade e vulgarização de determinados postos essenciais no foro laboral e que são maioritariamente ocupados por mulheres”, conta o realizador Welket Bungué ao PÚBLICO. O projecto aborda também o racismo e a desonestidade institucional “perante a gestão dos recursos naturais e humanos”, acrescenta.

“As pessoas podem esperar poesia, riqueza intertextual que se prende com o discurso intemporal dos textos de Paulo Tambá Bungué [pai do realizador], articulados com a oratória imponente da Joacine enquanto cidadã politicamente engajada”, antecipa.