Há muito cinema no Curtas 2020 — e não só em Vila do Conde
Sessões descentralizadas, plataforma online e muito bom cinema qualquer que seja o formato. Curtas começa este sábado e estende-se até dia 11.
No “ano de todos os riscos” que 2020 tem sido, o IndieLisboa demonstrou que continuava a ser possível fazer um festival de cinema presencial com a adesão do público. Depois do MOTELX e do Queer Lisboa, que mantiveram as suas datas originais (e habituais) de Setembro, chega agora a vez do Curtas Vila do Conde, cuja 28.ª edição começa este sábado e se estende até dia 11.
Edição presencial, sim, centrada mas abraçando uma filosofia de “festival expandido”. Pela primeira vez, a Competição Nacional (à qual voltaremos mais à frente) está “aberta” ao público que não está de visita durante o período do festival: depois das sessões em Vila do Conde, os 17 filmes poderão ser vistos em dias subsequentes no Porto (cinema Trindade), em Faro (no Auditório do IPDJ) e Lisboa (cinema Ideal). E estarão também — a par da maior parte do programa — disponível online para quem preferir ver em casa. A plataforma estará aberta a partir deste sábado a preços módicos: €1,20 por curta individual, €2,40 por longa, ou €10 por um passe digital que dá acesso a toda a programação. Todas as selecções competitivas estarão disponíveis integralmente para visionamento caseiro após a primeira exibição em Vila do Conde e até 18 de Outubro.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
No “ano de todos os riscos” que 2020 tem sido, o IndieLisboa demonstrou que continuava a ser possível fazer um festival de cinema presencial com a adesão do público. Depois do MOTELX e do Queer Lisboa, que mantiveram as suas datas originais (e habituais) de Setembro, chega agora a vez do Curtas Vila do Conde, cuja 28.ª edição começa este sábado e se estende até dia 11.
Edição presencial, sim, centrada mas abraçando uma filosofia de “festival expandido”. Pela primeira vez, a Competição Nacional (à qual voltaremos mais à frente) está “aberta” ao público que não está de visita durante o período do festival: depois das sessões em Vila do Conde, os 17 filmes poderão ser vistos em dias subsequentes no Porto (cinema Trindade), em Faro (no Auditório do IPDJ) e Lisboa (cinema Ideal). E estarão também — a par da maior parte do programa — disponível online para quem preferir ver em casa. A plataforma estará aberta a partir deste sábado a preços módicos: €1,20 por curta individual, €2,40 por longa, ou €10 por um passe digital que dá acesso a toda a programação. Todas as selecções competitivas estarão disponíveis integralmente para visionamento caseiro após a primeira exibição em Vila do Conde e até 18 de Outubro.
Dito isto, para lá das medidas de segurança impostas pela situação da pandemia, o Curtas segue pacatamente na sua senda habitual. Este ano com uma programação particularmente forte, com nomes como Jafar Panahi, Sergei Loznitsa, Guy Maddin e Nicolás Pereda na secção competitiva internacional, a par de novos títulos dos habitués Ben Russell, Ben Rivers ou Laura Huertas Millán.
A abertura oficial (esta tarde às 17h, repetindo sábado 10 às 21h45) faz-se com Casa de Antiguidades, primeira longa-metragem do brasileiro João Paulo Miranda Maria depois de uma aclamada série de curtas, e um dos títulos que teria feito parte da selecção oficial Cannes 2020 (esteve agora em San Sebastián). O festival exibe ainda First Cow, a belíssima nova longa de uma outra regular do Curtas, Kelly Reichardt, que não deverá chegar às salas portuguesas (domingo 4, 22h15 e sábado 10, 19h); e propõe um programa de filmes curtos recentes de cineastas que já subiram ao “patamar” da longa (domingo 4, 21h45 e sábado 10, 17h). São eles o português João Pedro Rodrigues (Potemkin Steps), o grego Yorgos Lanthimos, realizador de A Favorita (Nimic, com Matt Dillon), o britânico Jonathan Glazer, autor de Debaixo da Pele (The Fall), e o espanhol José Luis Guerín, ele de A Academia das Musas (De una Isla).
Nouvelle Vague, memória e mulheres
A par das novidades, a secção “histórica” Cinema Revisitado arranca, esta noite (21h45), com um dos títulos-chave do cinema novo português pré-25 de Abril: O Recado (1971), primeira (e há muito invisível) longa-metragem de José Fonseca e Costa (1933-2015), com Maria Cabral, Luís Filipe Rocha e Paco Nieto, na nova cópia restaurada pela Cinemateca Portuguesa. No sábado 10 (16h), celebra-se o centenário do primeiro filme que o mestre do burlesco Buster Keaton realizou. Uma Semana, ou as vicissitudes de um casal de recém-casados e da sua casa pronta-a-montar, será mostrado numa sessão apresentada pelo crítico João Lopes, explorando a modernidade do trabalho de Keaton em diálogo com Jean-Luc Godard e a curta de 1961 que realizou com François Truffaut, Uma História de Água.
Godard, aliás, estará duplamente presente neste Curtas, pois a investigadora Nicole Brenez programou três sessões com os pouco vistos anúncios e trailers do mestre da Nouvelle Vague, sob o genérico Pro/Motion (quarta 7, quinta 8 e sexta 9, sempre às 19h). E o Curtas homenageia Vicente Pinto Abreu, programador, DJ e coordenador de júris que era uma das figuras mais queridas da organização, que morreu prematuramente há poucos meses, com uma sessão especial (segunda 5, 21h45) que exibe dois dos seus filmes “de cabeceira”: o lendário “foto-romance” de Chris Marker, La Jetée, e Boro in the Box, fantasia biográfica do francês Bertrand Mandico sobre o controverso Walerian Borowczyk, que venceu a Competição Internacional do Curtas em 2011.
Numa edição que traz ainda o espanhol Isaki Lacuesta para uma retrospectiva e uma exposição na galeria Solar e que destaca o trabalho de três vozes femininas — a panamiana Ana Elena Tejera, a luso-descendente Ana Maria Gomes e a espanhola Elena López Riera — continua a apostar-se no cinema de escola (com a secção Take One!) e nos filmes para os mais novos (Curtinhas). O programa do 28.º Curtas está cheio de cinema; resta esperar que o público responda ao apelo.