Luís Rita quer usar a ciência de dados para salvar — e melhorar — vidas

Luís Rita é um dos Top Talents Under 25. O estudante português em Inglaterra submeteu a concurso uma aplicação para controlo de alimentação em doentes oncológicos e uma ferramenta que mapeia zonas de risco para ciclistas em Londres. É o único português distinguido na edição de 2020 da lista internacional.

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Uma aplicação para controlar a alimentação dos doentes oncológicos e uma ferramenta que mapeia as zonas de risco para os ciclistas em Londres: estas duas ideias valeram a Luís Rita o prémio Top Talents Under 25. O aluno de Medicina do Imperial College de Londres, natural de Lisboa, entrou na lista internacional com dois projectos académicos na categoria Digital. Embora se afastem nas áreas de aplicação — um debruça-se sobre a medicina computacional e o outro enquadra-se na saúde pública — ambos partem da exploração da ciência de dados. 

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Uma aplicação para controlar a alimentação dos doentes oncológicos e uma ferramenta que mapeia as zonas de risco para os ciclistas em Londres: estas duas ideias valeram a Luís Rita o prémio Top Talents Under 25. O aluno de Medicina do Imperial College de Londres, natural de Lisboa, entrou na lista internacional com dois projectos académicos na categoria Digital. Embora se afastem nas áreas de aplicação — um debruça-se sobre a medicina computacional e o outro enquadra-se na saúde pública — ambos partem da exploração da ciência de dados. 

O primeiro projecto, Machine Learning for Building a Food Recommendation System, consiste numa investigação académica em medicina computacional. “O objectivo foi criar uma aplicação que sugira às pessoas receitas que deveriam ou não consumir para, de uma forma generalizada, tratar ou prevenir doenças oncológicas”, explica Luís ao P3. A ideia surgiu da investigação de um docente, ao qual o estudante se juntou para desenvolver o conceito.

A app, que ainda é um protótipo e não está disponível online, foi desenvolvida através de bases de dados e acrescenta uma particularidade às restrições alimentares: não só possibilita uma selecção de alimentos e receitas que se podem consumir para tratar e prevenir o cancro, apresentando as suas vantagens e desvantagens para o efeito, como considera o gosto pessoal de cada um. Com esta investigação, o jovem de 25 anos pretende fazer uso da nutrição, através da construção de uma alimentação saudável adaptada às necessidades de quem tem doenças cancerígenas.

Using Deep Learning to Identify Cyclists’ Risk Factors in London, a segunda proposta, diz respeito a uma área de estudo bastante díspar: a saúde pública. Luís despertou para o tema quando se candidatava a um projecto de doutoramento homólogo; não tendo entrado, decidiu implementá-lo ainda no mestrado. O resultado foi “um mapa de Londres com as zonas mais e menos seguras para ciclistas”.

O projecto, “bastante exploratório”, assentou na recolha de “meio milhão de imagens do Google Street View para identificar factores de risco em Londres para ciclistas”, conta. Por se tratar de um número tão elevado de imagens, o jovem recorreu a algoritmos, já existentes, que detectam automaticamente os factores de risco. “Seria impossível ter alguém a olhar manualmente para cada uma das imagens”, sublinha. 

Assim, Luís atribuiu aos algoritmos uma finalidade diferente daquela para que são utilizados: “Tenho várias imagens, meio milhão, e os algoritmos que utilizei dizem-nos coisas como quantos carros, pessoas ou ciclistas estão presentes numa determinada foto.” O passo seguinte foi a criação de “uma métrica que, tomando em conta cada um destes factores, estima a segurança para ciclistas”. O jovem português esclarece que um elevado número de carros ou camiões seria considerado um factor negativo, enquanto um elevado número de ciclistas seria positivo. “Sabe-se que, normalmente, em zonas onde existem regularmente ciclistas os condutores já estão mais à espera de os encontrar nas estradas.”

Luís Rita está a tirar um mestrado de investigação (MRes) em Biomedicina, na vertente de Ciência de Dados “aplicada a problemas da saúde humana”. Além da inclusão no Top Talents Under 25, também a avaliação do ano lectivo anterior dependeu do desenvolvimento destes dois projectos académicos, ambos realizados em equipa. 

Começou por frequentar um mestrado integrado em Engenharia Biomédica no Instituto Técnico Superior, em Lisboa. A tese de mestrado “foi crucial” na partida para os estudos em Londres: assentou na aplicação da Ciência de Dados à Microbiologia para prevenção e contenção de surtos. No último ano estagiou no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, onde olhou “especificamente para o vírus da gripe” e desenvolveu “ferramentas de visualização de dados que acabaram por ser integradas na plataforma de acompanhamento da gripe do instituto” — e que agora estão a ser utilizadas para acompanhar a covid-19Um dos objectivos de Luís é prosseguir estudos até ao doutoramento, que fará “com o tema da alimentação anticancro nos próximos três anos” até ter “um produto final”.

De entre 721 candidaturas de 45 países, o júri elegeu os 40 melhores talentos de 21 nações — e Luís foi o único português a entrar na lista da edição de 2020. O Top Talents Under 25 é um prémio global aberto a jovens, com idade inferior a 25 anos, de todas as nacionalidades. A primeira apresentação do prémio, semelhante ao Forbes 30 Under 30, aconteceu em Setembro de 2019, e este ano a celebração ganhou forma virtualmente. “Mais do que nunca, o mundo precisa das ideias, da inovação e de quem faz a mudança”, pode ler-se em comunicado.

O concurso multidisciplinar distingue aqueles que pensam “fora da caixa, que ousaram desafiar o status quo, que se atreveram a melhorar não só as suas vidas como as vidas dos que os rodeiam”. Estamos a falar de mudanças sustentáveis, inovação e um mundo melhor”. No total, são premiados cinco jovens promessas em oito categorias distintas: empreendedorismo, gestão, digital, sociedade, social, inovação, diversidade e educação.

Texto editado por Ana Maria Henriques