Infecção de Trump “mostra como o vírus não poupa os que são mais cépticos sobre a sua gravidade”

Já se sabia na Casa Branca que Hope Hicks, uma das principais conselheiras do Presidente, tinha testado positivo e Trump viajou assim mesmo para Nova Jérsia, onde participou numa angariação de fundos. Biden vai fazer teste.

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Trump num comício no aeroporto internacional de Duluth, no Minnesota, na quarta-feira LUSA/CRAIG LASSIG

A 33 dias das eleições presidenciais norte-americanas, a notícia de que Donald Trump tem covid-19 coloca “os Estados Unidos bem dentro da zona de perigo em termos de segurança nacional”, deixando o país vulnerável, tanto em termos domésticos como no palco global, diz a analista da CNN Samantha Vinograd.

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A 33 dias das eleições presidenciais norte-americanas, a notícia de que Donald Trump tem covid-19 coloca “os Estados Unidos bem dentro da zona de perigo em termos de segurança nacional”, deixando o país vulnerável, tanto em termos domésticos como no palco global, diz a analista da CNN Samantha Vinograd.

Com a campanha eleitoral mergulhada no caos, a confirmação de que Trump e a primeira-dama, Melania Trump, estão infectados provocou a abertura em baixa dos mercados europeus e um pouco por todo o mundo. 

Como outros líderes e governos, o porta-voz do Eliseu, Gabriel Attal, desejou ao chefe de Estado americano uma “rápida recuperação, como desejaria a qualquer pessoa que estivesse infectada”. Em declarações ao canal de televisão LCI, Attal acrescentou que esta confirmação “é um sinal de que o vírus não poupa ninguém, incluindo os que são mais cépticos sobre a sua realidade e gravidade”.

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Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, também desejou as melhoras a Trump referindo que esta “é uma batalha que continuamos a travar, todos os dias, não importa onde vivamos”. Michel preside esta sexta-feira ao segundo dia de uma cimeira europeia que teve de ser adiada precisamente porque o dirigente cumpriu uma quarentena depois de um segurança com quem tinha tido contacto próximo ter testado positivo.

Trump desvalorizou repetidamente a gravidade do novo coronavírus e recusa usar máscara – mesmo em comícios que juntam milhares de pessoas, também elas quase sempre sem máscara e sem cumprirem regras de distanciamento. Só nos EUA o vírus já infectou mais de 7 milhões de pessoas e matou mais de 200 mil.

"O fim da pandemia está à vista"

Aliás, já se sabia na Casa Branca que Hope Hicks, uma das principais conselheiras do Presidente e membro do seu núcleo duro, tinha testado positivo, e Trump viajou assim mesmo para Nova Jérsia, onde participou numa angariação de fundos no seu clube de golfe em Bedminster. Ainda na quinta-feira, e poucas horas antes de anunciar que tem covid-19, num discurso pré-gravado para um jantar político anual (que por causa da pandemia se realizou online), o Presidente repetia que “o fim da pandemia esta à vista”.

Hicks, de 31 anos, acompanhou Trump no Air Force One ao primeiro debate presidencial com Joe Biden, em Cleveland, no Ohio, na terça-feira. A campanha do democrata já fez saber que o candidato vai fazer um teste ainda esta quinta-feira.

Tal como Trump, de 74 anos, também  o candidato democrata, com 77 anos, faz parte do grupo de risco. Durante o debate de terça-feira à noite o Presidente fez troça do seu rival precisamente por usar frequentemente máscara. É muito pouco comum que um teste dê positivo imediatamente a seguir à exposição do paciente ao vírus, pelo que é provável que Trump já estivesse infectado.

Alguns dos membros da família do Presidente que estiveram presentes foram vistos sem máscara, como aparecem habitualmente em público. Hicks acompanhou depois Trump para Duluth, no Minnesota, onde este deu um comício, na quarta-feira, com milhares de pessoas.

“Dizem-me que um pequeno grupo de responsáveis da Casa Branca já sabia na quinta-feira de manhã que Hope Hicks tinha testado positivo. Apesar disso, o Presidente Trump viajou para Nova Jérsia e a secretária de Imprensa fez um briefing”, escreveu no Twitter Kaitlan Collins, correspondente da CNN na Casa Branca.

Casa Branca não divulgou

Antes da confirmação, Hicks já apresentava sintomas – não se sabe há quanto tempo. A CNN sublinha ainda que não foi a Casa Branca a divulgar que a conselheira tem covid: a notícia foi inicialmente dada pela Bloomberg. Ou seja, não foram cumpridos os protocolos de saúde, que determinam que qualquer pessoa com sintomas ou com um teste positivo se isole, avisando ao mesmo tempo as pessoas com quem esteve em contacto para que estas tomem as suas próprias medidas, protegendo outros da exposição ao vírus.

Collins faz notar que a secretária de Imprensa não só não falou sobre o diagnóstico de Hicks em público como não o mencionou aos jornalistas quando fez o seu briefing. “Ela nem sequer nos disse. Nem a nós jornalistas que estávamos no avião. Haverá perguntas difíceis sobre a Casa Branca não ter divulgado esta informação, não só dos jornalistas presentes mas dos americanos”, escreve.

Pence pode assumir cargo

Na lista de pessoas que podem ter sido expostas surge também naturalmente o vice-presidente, Mike Pence (não foi ao debate mas esteve com Trump na segunda-feira), que é quem tem de assumir o cargo de Presidente caso a doença impeça Trump de assegurar o cumprimento das funções. Num cenário de doença grave, a Constituição prevê que o chefe de Estado pode transferir temporariamente o poder, reassumindo-o quando se considerar em condições de o fazer.

“A um nível estratégico, a noção de que o Presidente não está bem ou não pode fazer o necessário para se proteger não inspira confiança na credibilidade dos Estados Unidos para confrontar os desafios globais”, defende Samantha Vinograd, que é especialista em segurança. “Esta é uma grande vitória para os nossos adversários”.