Erdogan rejeita envolvimento diplomático de Rússia, EUA e França no Nagorno-Karabakh
O regime de Recep Tayyip Erdogan está empenhado em apoiar o Azerbaijão, que quer retomar o controlo sobre o enclave governado pela Arménia. Dois jornalistas franceses ficaram feridos num bombardeamento.
A Turquia rejeitou os apelos da Rússia, EUA e França para o fim das hostilidades no enclave do Nagorno-Karabakh, que se prolonga há quase três décadas, mas que se reacendeu no início desta semana e já causou dezenas de mortos.
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A Turquia rejeitou os apelos da Rússia, EUA e França para o fim das hostilidades no enclave do Nagorno-Karabakh, que se prolonga há quase três décadas, mas que se reacendeu no início desta semana e já causou dezenas de mortos.
Numa declaração conjunta, os três países signatários do Grupo de Minsk da Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE) – responsável desde 1992 pela mediação do conflito no Nagorno-Karabakh – pediram o fim dos combates entre as forças arménias e azerbaijanas. Também apelaram aos dois países que reivindicam a região a que “se comprometam sem demoras a retomar negociações substantivas, em boa-fé e sem pré-condições”.
No entanto, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, importante aliado do Azerbaijão, rejeitou o envolvimento das três potências no conflito, criticando a sua passividade nas últimas décadas. “Dado que os EUA, a Rússia e a França negligenciaram este problema durante quase 30 anos, é inaceitável que se envolvam na procura de um cessar-fogo”, afirmou Erdogan, num discurso no Parlamento de Ancara.
Horas mais tarde, o Kremlin divulgou um comunicado em que dava conta de uma conversa entre os chefes da diplomacia russa e turca com apelos ao fim imediato dos combates, em sentido contrário das declarações de Erdogan. Os dois ministros “reafirmaram a sua disposição para coordenar de forma próxima as acções da Rússia e da Turquia para estabilizar a situação, de forma a fazer regressar o conflito do Nagorno-Karabakh para um canal de negociação pacífica o mais rapidamente possível”, segundo o comunicado.
A entrada em cena da Turquia, que procura afirmar-se como uma potência regional no Mediterrâneo Oriental, é um factor novo que introduz uma maior imprevisibilidade a um conflito que está “congelado” desde 1991. Com laços fortes ao Azerbaijão, a Turquia apoia a pretensão de Bacu de retomar o controlo sobre o enclave ocupado por forças arménias desde o colapso da União Soviética.
O envolvimento turco no conflito do Nagorno-Karabakh abre mais uma frente de combate para o regime de Erdogan, depois da presença nas guerras civis da Síria e da Líbia e, mais recentemente, na disputa com a Grécia no Mediterrâneo.
Esta quinta-feira, a Rússia disse ter conhecimento da chegada de grupos de mercenários sírios, apoiados pela Turquia, para apoiar o Azerbaijão. Duas fontes próximas dos grupos rebeldes sírios tinham dado essa informação à Reuters – Ancara e Bacu negam qualquer envolvimento de forças estrangeiras no conflito.
A região do Nagorno-Karabakh, de maioria étnica arménia, é um enclave no território do Azerbaijão, mas é controlado por um governo pró-Ierevan desde 1991. Desde então, deflagraram alguns confrontos esporádicos entre as forças arménias e azerbaijanas, mas agora a magnitude das hostilidades aproxima os dois vizinhos no Cáucaso do Sul de uma guerra declarada.
As autoridades do enclave dizem que pelo menos 103 dos seus militares morreram desde domingo e há mais de 200 feridos, enquanto o Azerbaijão diz que três civis foram mortos, mas garante não ter baixas entre as suas forças.
Dois jornalistas do diário francês Le Monde ficaram feridos durante um bombardeamento na cidade de Martuni, já no território do Nagorno-Karabakh, tal como outros dois arménios, segundo Ierevan. O Governo francês está a preparar um voo de repatriamento dos dois jornalistas feridos.
Os confrontos continuaram esta quinta-feira. Foram ouvidas duas explosões durante a noite na cidade de Stepanakert, no enclave, e a cidade de Terter, já em território do Azerbaijão foi bombardeada pelas forças arménias.