Lisboa põe placa de homenagem a Alcindo Monteiro no local onde foi assassinado

Jovem de ascendência cabo-verdiana foi assassinado há 25 anos num crime de ódio racial. Câmara de Lisboa diz que os “actos racistas são intoleráveis”.

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Rua Garrett, Lisboa PEDRO CUNHA

A Câmara de Lisboa inaugurou esta quinta-feira uma placa em homenagem a Alcindo Monteiro na Rua Garrett, onde o jovem de ascendência cabo-verdiana foi assassinado há 25 anos, num crime de ódio racial, para afirmar os “valores anti-racistas” da cidade.

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A Câmara de Lisboa inaugurou esta quinta-feira uma placa em homenagem a Alcindo Monteiro na Rua Garrett, onde o jovem de ascendência cabo-verdiana foi assassinado há 25 anos, num crime de ódio racial, para afirmar os “valores anti-racistas” da cidade.

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esquerda.net

Em declarações à agência Lusa, o vereador com o pelouro da Educação e dos Direitos Sociais, Manuel Grilo (BE), explicou que é o momento certo para colocar uma placa que assinala o “bárbaro assassinato” e recordar que os “actos racistas são intoleráveis para a sociedade portuguesa em geral”.

“É um significado para nós muito importante a colocação desta placa evocativa deste assassinato, no centro da cidade, por motivos exclusivamente racistas. É o momento certo, aliás, tendo em conta que alguns assassinos de Alcindo Monteiro estão hoje activos politicamente e estão hoje a agir politicamente”, disse.

Em 1995, na madrugada de 10 para 11 de Junho, um grupo de cerca de 50 skinheads invadiu as ruas do Bairro Alto, em Lisboa, e atacou com violência várias pessoas. Onze foram julgados e condenados por homicídio, seis foram condenados por agressões e dois foram absolvidos.

Alcindo Monteiro tinha 27 anos quando foi assassinado.

Vinte e cinco anos depois, os assassinos já estão em liberdade e novamente a contas com a justiça: em Maio deste ano, o Ministério Público constituiu como arguidos 37 neonazis suspeitos de agressões brutais e tentativas de homicídio contra afrodescendentes e homossexuais, entre os quais se contam cinco dos condenados pela morte de Alcindo Monteiro.

“Aqueles que, por motivos exclusivamente racistas, assassinaram barbaramente Alcindo Monteiro são hoje agentes políticos e estão ao serviço da extrema-direita e estão hoje ao serviço do racismo organizado num partido político”, realçou Manuel Grilo, ressalvando que “Lisboa é uma cidade assumidamente anti-racista e não podia deixar de evocar a memória de Alcindo Monteiro”.

Para o vereador na Câmara de Lisboa, a homenagem a Alcindo Monteiro também tem o significado de combate ao populismo e ao racismo, que, segundo o mesmo, estão “organizados e agem de forma organizada em Portugal”, bem como na capital.

Também o dirigente do SOS Racismo José Falcão considerou ser muito importante reconhecer o “acto bárbaro que ocorreu em 1995, adiantando que não se deve dar “azo que a extrema-direita cresça”.

“Eu acho que é importante na altura em que estamos, em que se dá uma impunidade quase completa a uma extrema-direita que faz o que o lhe apetece. É muitíssimo importante dar sinais de que nós não estamos esquecidos, por um lado, e, por outro, que a extrema-direita é lembrada também pelos actos que fez e pelo que continua a fazer”, observou.

O dirigente do SOS Racismo defendeu ainda que lembrar a memória de Alcindo Monteiro é lembrar as pessoas que o mataram, acusando as televisões de os branquear.

“Hoje passam a vida a ser branqueados nas nossas televisões, levando estes assassinos a falarem em programas de grande audiência como se nada tivesse passado, como se nada estivesse a passar, isto é que é grave”, apontou.

De acordo com José Falcão, a placa é um simbolismo importante porque a morte de Alcindo Monteiro marcou uma viragem na luta contra discriminação racial.

O dia que a Câmara de Lisboa escolheu para prestar esta homenagem é o dia em que Alcindo Monteiro celebrava o seu aniversário.

Numa cerimónia presidida por Fernando Medina, presidente do município, é inaugurada uma placa de homenagem com a inscrição: “Nos 25 anos do assassinato de Alcindo Monteiro (1967-1995) neste mesmo local, a cidade de Lisboa reafirmou o seu dever de memória e justiça e o seu compromisso com o combate ao racismo e ao fascismo sob todas as suas formas”.