Shell vai cortar até nove mil empregos
Empresa quer reduzir negócio de produção e refinação de petróleo para dar protagonismo aos biocombustíveis, às renováveis e ao hidrogénio.
A Royal Dutch Shell anunciou esta quarta-feira que vai cortar até nove mil empregos nos próximos meses, o que equivale a 10% da sua força de trabalho. A decisão insere-se na estratégia de transformação de uma empresa centrada no petróleo e no gás para um grupo de energia com actividades menos poluentes.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Royal Dutch Shell anunciou esta quarta-feira que vai cortar até nove mil empregos nos próximos meses, o que equivale a 10% da sua força de trabalho. A decisão insere-se na estratégia de transformação de uma empresa centrada no petróleo e no gás para um grupo de energia com actividades menos poluentes.
A companhia anglo-holandesa já tinha anunciado no mês passado um plano de reestruturação do negócio. Corte de custos e transição energética são agora o mote da companhia, que espera obter poupanças anuais que andarão entre os dois mil e os 2,5 mil milhões de dólares a partir de 2022.
Numa entrevista publicada esta quarta-feira no site da própria companhia, o presidente executivo, Ben van Beurden, sublinhou que a Shell “tem de mudar o tipo de produtos que vende” de modo a conseguir cumprir o objectivo da neutralidade carbónica até 2050.
O negócio de produção de petróleo irá manter-se, mas os investimentos serão “apenas em projectos muito rentáveis”, que terão de “ser bem-sucedidos” porque daí virá o músculo financeiro “para poder apostar em mais produtos de baixo carbono”.
Da mesma forma, a área de refinação também vai encolher. “Só iremos manter as essenciais e integrá-las com o negócio químico, em que planeamos crescer”, adiantou.
Ficarão as refinarias em “localizações estratégicas” e com capacidade de adaptação ao negócio dos biocombustíveis. Isto equivale a dizer que, nos próximos anos, a Shell vai ficar com “menos de dez refinarias, comparado com as 55 que tinha há 15 anos”, adiantou o presidente executivo.
Com 83 mil trabalhadores no final de 2019, a empresa diz que deverá cortar entre sete mil a nove mil empregos, o que já inclui cerca de 1500 rescisões por mútuo acordo. “Será um processo extremamente duro”, disse Ben van Beurden.
Nos próximos anos, o foco estará nos biocombustíveis, na produção de energia eléctrica offshore, na energia fotovoltaica e não só. “Estamos a instalar na Alemanha o maior electrolisador para produção de hidrogénio”, destacou o gestor.
A braços com quedas históricas da procura e dos preços de petróleo motivadas pela crise de saúde global, este ano, pela primeira vez em quase 80 anos, a Shell cortou dividendos.
A empresa registou uma queda de resultados de 82% no segundo trimestre, para 638 milhões de dólares, reconhecendo nas contas imparidades de 16,8 mil milhões de dólares.
Agora, segue os passos da rival BP, que também fixou o objectivo de neutralidade carbónica em 2050 e em Junho já havia anunciado uma diminuição de dez mil empregos.
Num artigo publicado em Agosto no Oil&Gas Journal estimava-se que a combinação de preços baixos e diminuição da procura provocada pela desaceleração económica já terá custado cerca de 100 mil empregos à indústria petrolífera nos últimos meses.