Desemprego volta a subir, mas mercado de trabalho dá sinais tímidos de retoma
Taxa de desemprego ultrapassou em Agosto a barreira dos 8%. Ainda assim, pela positiva, o número de empregos continuou a recuperar dos mínimos atingidos em Maio.
O inevitável impacto negativo da crise económica trazida pela pandemia chegou definitivamente em Julho e Agosto à taxa de desemprego, que está já a passar a barreira dos 8%, algo que não acontecia desde Novembro de 2017. Mas no número de empregos começam a ver-se alguns sinais tímidos de retoma.
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O inevitável impacto negativo da crise económica trazida pela pandemia chegou definitivamente em Julho e Agosto à taxa de desemprego, que está já a passar a barreira dos 8%, algo que não acontecia desde Novembro de 2017. Mas no número de empregos começam a ver-se alguns sinais tímidos de retoma.
De acordo com os dados publicados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), depois de uma fase inicial em que, por questões de ordem metodológica, até desceu por causa das medidas de confinamento, a taxa de desemprego confirmou em Julho a tendência de agravamento já revelada em Junho e subiu de 7,3% para 7,9% (dados definitivos), passando depois para 8,1% em Agosto (dados ainda provisórios).
Em Abril e Maio, apesar de ser o período de maior travagem da actividade económica, a taxa de desemprego até tinha registado uma descida. Isto aconteceu, por um lado, por causa de medidas como o layoff simplificado, que permitiram a trabalhadores que deixaram de trabalhar manter o seu emprego e, por outro, ao facto de, por causa do confinamento, muitas pessoas efectivamente desempregadas não terem podido procurar activamente um novo emprego, uma condição para serem classificadas estatisticamente como desempregadas (sem isso são classificadas antes como inactivas).
Assim, em Maio, no auge do confinamento, a taxa de desemprego caiu de 6,3% para 5,9%, sendo possível apenas ver o impacto da crise no mercado de trabalho em indicadores como a taxa de emprego (que caiu de 61,1% para 59,8% em Abril) ou a taxa de inactividade (que subiu de 34,8% para 36,4%).
Agora, com a possibilidade de procurar emprego restabelecida, a habitual subida da taxa de desemprego em tempo de crise económica está já a verificar-se. Desde o mínimo de 289,6 mil desempregados registados em Maio, passou-se em Agosto para 417 mil. Uma subida de cerca de 125 mil no número de desempregados que está relacionada directamente com o fecho ou a diminuição da força de trabalho das empresas que mais dificuldade estão a ter em resistir à crise.
Emprego a aumentar
Ainda assim, apesar da subida do desemprego, nos números agora apresentados pelo INE há também alguns sinais de um início de recuperação no mercado de trabalho. Se se olhar para o número de empregos — um indicador que logo em Abril e Maio caiu de forma acentuada —, os dados indicam que voltou, tal como tinha acontecido em Junho, a subir em Julho e em Agosto, mesmo que de forma moderada.
Em Julho (dados definitivos), a população empregada aumentou 0,5% relativamente ao mês anterior (cerca de 25 mil postos de trabalho), sendo que, mesmo assim, ainda ficou a um nível 1,2% menor quando comparado com há três meses. Em Agosto (dados provisórios), voltou a verificar-se uma nova subida de 0,5% (cerca de 22 mil empregos) na população empregada, ainda assim atingindo um valor que fica distante do verificado antes da crise (cerca de menos 120 mil empregados do que em Fevereiro).
Esta recuperação do emprego está em linha com aquilo que está a acontecer à economia, em que, depois de uma queda histórica do PIB durante o segundo trimestre deste ano, se antecipa agora uma recuperação no terceiro trimestre. Essa recuperação, contudo, não deverá permitir voltar rapidamente aos valores do PIB anteriores à crise, um problema que poderá vir a verificar-se também com os indicadores do mercado de trabalho.
Este mês, o Conselho das Finanças Públicas, nas suas projecções para a economia portuguesa em cenário de políticas invariáveis, projectou que a taxa de desemprego anual, que foi de 6,5% em 2019, possa chegar aos 10% este ano. A descida iniciar-se-ia em 2021, para 8,8%, mas em 2024 o indicador ainda estaria em 6,8%, acima dos 6,5% de 2019.