David Adjaye torna-se o primeiro arquitecto negro a receber a Royal Gold Medal do RIBA
Atribuída desde 1848 pelo Royal Institute of British Architects (RIBA), esta prestigiada consagração vai distinguir em 2021 este arquitecto britânico de origem ganesa, líder da equipa que projectou o National Museum of African American History and Culture
O Royal Institute of British Architects (RIBA) anunciou que a Royal Gold Medal vai ser atribuída em 2021 ao arquitecto britânico Sir David Adjaye, que assim se torna o primeiro negro a receber este importante galardão da arquitectura internacional, criado em meados do século XIX.
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O Royal Institute of British Architects (RIBA) anunciou que a Royal Gold Medal vai ser atribuída em 2021 ao arquitecto britânico Sir David Adjaye, que assim se torna o primeiro negro a receber este importante galardão da arquitectura internacional, criado em meados do século XIX.
Destinada a consagrar, pelo conjunto da obra, uma individualidade ou um colectivo aos quais se devam contribuições significativas para a arquitectura mundial, a medalha do RIBA é agora atribuída a Adjaye num momento em que, nota o jornal britânico The Guardian, o próprio instituto está a reexaminar o seu papel no contexto do passado colonial britânico e procurando lidar com a escassa representação de negros na arquitectura do país, onde os arquitectos negros registados não ultrapassam 1% do total.
“O seu trabalho é local e específico, mas ao mesmo tempo global e inclusivo”, salientou o presidente do RIBA, Alan Jones. “Combinando história, arte e ciência”, este arquitecto britânico – nascido na Tanzânia de pai ganês – cria ambientes que “equilibram temas contrastantes e nos inspiram a todos”, afirmou ainda o responsável do instituto, cuja medalha de ouro já distinguiu alguns dos mais icónicos e influentes arquitectos do século XX, incluindo Frank Lloyd Wright ou Le Corbusier.
Adjaye, hoje com 54 anos, iniciou a sua carreira no início dos anos 90, tendo tido passagens fugazes pelos ateliers do britânico David Chipperfield e do português Eduardo de Souto Moura. Hoje o seu atelier tem dezenas de grandes projectos espalhados pelo mundo e Adjaye liderou a equipa de arquitectos que desenhou o ambicioso National Museum of African American History and Culture em Washington, que custou cerca de 500 milhões de euros e abriu em 2016, numa inauguração que o New York Times classificou como “o acontecimento cultural do ano”. Uma obra que confirmou a sua recuperação depois dos anos difíceis da crise financeira de 2007, que quase levaram o seu atelier à falência.
O arquitecto chegou a ser anunciado por esses anos como autor do projecto do futuro centro para a cultura africana contemporânea África.cont, que deveria nascer na zona das Janelas Verdes, em Lisboa, mas que nunca se concretizou.
Além de edifícios públicos, como museus, bibliotecas, galerias ou escolas, Adjaye projectou casas de habitação para alguns clientes famosos, como o o designer Alexander McQueen ou o actor Ewan McGregor. E colabora frequentemente com artistas plásticos, do britânico Chris Ofili, vencedor do prémio Turner, ao dinamarquês-islandês Olafur Eliasson, com quem colaborou na instalação Your Black Horizon, apresentada na Bienal de Veneza de 2005.
Se o prestígio e o sucesso de Adjaye num sector tão hegemonicamente dominado por arquitectos brancos torna difícil ignorar a cor da sua pele, ele próprio vai dando sinais de exasperação por estarem sempre a defini-lo como um arquitecto negro, argumentando que é antes de mais um arquitecto, e que as suas raízes são complexas: filho de um diplomata, viveu em vários países africanos, mas também cresceu em Londres, onde chegou aos 11 anos.
Segundo Oliver Wainwright, crítico de arquitectura do Guardian, não é de excluir que o RIBA tenha consagrado um arquitecto cujas melhores obras poderão ainda estar por vir. “Está actualmente a construir um dos mais estranhos arranha-céus que Manhattan alguma vez viu”, diz Wainwright, inventariando outros projectos que Adjaye tem neste momento em mãos: uma catedral em Acra, no Gana, uma biblioteca na Florida, um centro financeiro no Senegal ou a Biblioteca Presidencial Thabo Mbeki em Joanesburgo, na África do Sul.