Amália e o que ficou de uma conversa inacabada mas livre
Em 1973, entre Lisboa e o Brejão, o escritor Manuel da Fonseca gravou 9h45 de conversas com Amália Rodrigues como embrião de um livro a editar pela Arcádia. Que nunca foi escrito: o 25 de Abril fez as bobinas caírem no esquecimento. Essas conversas surgem-nos agora transcritas em livro, mostrando Amália sem filtros de vedeta e de autocensura.
Não é uma entrevista, é uma conversa. Longa, com pausas, divagações, regresso a temas já falados, risos, momentos de reflexão existencial e desafios quase provocatórios. Isto, que agora um livro nos traz, é uma espécie de prólogo: desafiado a escrever uma obra sobre Amália Rodrigues (obra biográfica, mas ainda sem contornos definidos), o escritor Manuel da Fonseca visitou-a nas suas casas de Lisboa e do Brejão em meados de 1973 e aí gravou, em várias bobines, 9h45 de conversas. Ele quer saber tudo sobre ela, infância, gostos, opiniões sobre o fado ou até sobre a Rússia, onde Amália cantara (comunista, membro do PCP, Manuel da Fonseca ouve-a dizer que achou os russos “muito tristes”, “com um ar que eu nunca vi”), ela vai-lhe respondendo como quer, sem baixar a guarda. É uma conversa franca, porque nenhum dos intervenientes pensa vê-la revelada, é apenas uma aproximação entre dois seres unidos pelo mundo das artes e por uma paixão comum pelo Alentejo, onde ele nasceu e ela tem uma casa. “Eu estou a ser muito variado, muito evasivo, à procura das coisas…” diz a dada altura o escritor (pág. 80). Ao que ela responde: “Acho que já percebi. É evidente que o que você vai fazer tinha de ser assim. Você pega em mim…” Ele interrompe-a: “Não sei se você está de acordo.” E ela: “Estou com certeza de acordo, pois de resto não tinha graça nenhuma.” É o que Amália pensa: ela fala, ele escreverá.
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Não é uma entrevista, é uma conversa. Longa, com pausas, divagações, regresso a temas já falados, risos, momentos de reflexão existencial e desafios quase provocatórios. Isto, que agora um livro nos traz, é uma espécie de prólogo: desafiado a escrever uma obra sobre Amália Rodrigues (obra biográfica, mas ainda sem contornos definidos), o escritor Manuel da Fonseca visitou-a nas suas casas de Lisboa e do Brejão em meados de 1973 e aí gravou, em várias bobines, 9h45 de conversas. Ele quer saber tudo sobre ela, infância, gostos, opiniões sobre o fado ou até sobre a Rússia, onde Amália cantara (comunista, membro do PCP, Manuel da Fonseca ouve-a dizer que achou os russos “muito tristes”, “com um ar que eu nunca vi”), ela vai-lhe respondendo como quer, sem baixar a guarda. É uma conversa franca, porque nenhum dos intervenientes pensa vê-la revelada, é apenas uma aproximação entre dois seres unidos pelo mundo das artes e por uma paixão comum pelo Alentejo, onde ele nasceu e ela tem uma casa. “Eu estou a ser muito variado, muito evasivo, à procura das coisas…” diz a dada altura o escritor (pág. 80). Ao que ela responde: “Acho que já percebi. É evidente que o que você vai fazer tinha de ser assim. Você pega em mim…” Ele interrompe-a: “Não sei se você está de acordo.” E ela: “Estou com certeza de acordo, pois de resto não tinha graça nenhuma.” É o que Amália pensa: ela fala, ele escreverá.