Unidos Contra o Desperdício junta os que lutam por que a comida não acabe no lixo
Obter dados sobre o desperdício alimentar em Portugal, facilitar doações e influenciar políticas são objectivos do novo movimento, que nasce esta terça-feira, Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar.
O número repete-se sempre que se fala no tema: 1/3. Um terço de toda a comida produzida no mundo é desperdiçada. Reduzir esta percentagem é um objectivo assumido pela FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, que, pela primeira vez, instituiu 29 de Setembro como o Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar.
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O número repete-se sempre que se fala no tema: 1/3. Um terço de toda a comida produzida no mundo é desperdiçada. Reduzir esta percentagem é um objectivo assumido pela FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, que, pela primeira vez, instituiu 29 de Setembro como o Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar.
Foi precisamente esta a data escolhida para, em Portugal – onde, apesar de não haver dados oficiais, se estima que anualmente acabe no lixo um milhão de toneladas de alimentos, que dariam para alimentar 360 mil pessoas em situação de carência – se lançar o movimento Unidos Contra o Desperdício.
O que se pretende, explica ao PÚBLICO Isabel Jonet, a presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome, uma das entidades fundadoras do movimento, é “agregar o que já existe”, avaliar o estado das coisas no que diz respeito ao desperdício alimentar em Portugal, já que não há ainda números fidedignos, e vir a influenciar políticas públicas.
Há muitos esforços dispersos, seja da parte da produção agrícola e industrial, seja do lado da distribuição ou, entre os que têm tido mais visibilidade, projectos como o Refood, que recolhe as sobras de restaurantes e pastelarias e as distribui por famílias necessitadas ou plataformas digitais como a To Good to Go. Mas até agora não existia um esforço coordenado por parte de todos os envolvidos neste esforço, sublinha Isabel Jonet.
“Os nossos 21 bancos alimentares recuperam anualmente cerca de 18 mil toneladas de produtos resultantes da luta contra o desperdício [um número que não inclui as campanhas de doação de alimentos]”, diz a responsável. A redução das perdas em vários pontos da cadeia poderá até levar os bancos alimentares a receber menos alimentos por essa via, mas essa não é a preocupação. O foco é, em primeiro lugar, combater “o absurdo” que é o nível de desperdício que existe actualmente.
“O desperdício é uma irracionalidade económica e uma injustiça social, para além de ter um impacto ambiental”, reforça Isabel Jonet, lembrando que quando, em determinados pontos do circuito (fase de comercialização e consumo, sobretudo), se deita fora um alimento, está-se também a desperdiçar a embalagem e todos os outros recursos envolvidos na sua produção.
Na Europa, segundo dados citados pelo movimento, cerca de 88 milhões de toneladas de alimentos são desaproveitadas anualmente, com um custo estimado de 143 mil milhões de euros. Além disso, “o desperdício de alimentos é responsável pela emissão de gases de efeito de estufa equivalente à rede global dos transportes terrestres, contribuindo para o aquecimento global”.
Definir com rigor o que entende por conceitos diferentes como “excedentes”, “perdas” e “desperdício” e usar dados de análise comuns para ser poder chegar a dados concretos sobre o nível de desperdício em Portugal é um dos principais objectivos do novo movimento que, refere Jonet, está já a alargar-se ao Brasil e em conversações com outros países, nomeadamente Cabo Verde.
Outro objectivo é “facilitar as doações” – e é precisamente aí que entra a questão das políticas públicas. “Há muitas cadeias de distribuição que doam a instituições”, nota Isabel Jonet, “mas muitas vezes esses alimentos não são pesados nem quantificados” o que impossibilita a atribuição de um valor. A ideia é que possam vir a existir “mais benefícios fiscais” e outras medidas (por exemplo, dentro dos incentivos ligados a doações, destacar especificamente os que entram na luta contra o desperdício).
Entre as medidas aconselhadas pela FAO para que cada um de nós ajude a contrariar este cenário contam-se: pedir porções mais pequenas, comprar fruta e vegetais “feios”, colocar o frigorífico à temperatura certa, aproveitar os restos, consumir primeiro o que se comprou primeiro, fazer compostagem, comprar de forma inteligente e compreender as informação sobre datas nas embalagens.
O movimento Unidos Contra o Desperdício – que recebeu o apoio institucional do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres – tem uma plataforma (www.unidoscontraodesperdicio.pt) e convida todos os interessados a aderir, empenhando-se em fazer passar a mensagem e em contribuir para que menos comida acaba no lixo todos os dias. “Queremos daqui a um ano poder dizer que já reduzimos esses números”, diz Jonet. O objectivo tem um lado visual claramente expresso no logótipo do movimento: uma tarte à qual falta um terço.
O Unidos Contra o Desperdício integra a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), a Associação Portuguesa de Logística (Aplog), a Câmara Municipal de Lisboa no âmbito da Lisboa Capital Verde Europeia 2020. A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), a Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (CNCDA) a Dariacordar/Zero Desperdício, a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares e a Refood.