Um milhão de mortos depois, “vai ficar tudo bem”? Cristóvam acredita que sim
Em Março era lançada a música que ficaria no ouvido. Passados seis meses desde o primeiro caso confirmado de coronavírus em Portugal, o PÚBLICO falou com o autor da canção.
Cristóvam é o autor da música que se tornou viral literalmente da noite para o dia – Andrà Tutto Bene. Criou-a no espaço de uma semana, depois de ver as imagens que chegavam de Itália, o primeiro país europeu aonde a pandemia virou tudo do avesso. Produzida inteiramente no seu estúdio caseiro, na ilha Terceira, o autor nunca pensou que a canção chegasse a tanta gente em tão pouco tempo. Seis meses depois, o PÚBLICO perguntou ao artista se, como diz a letra, “vai ficar tudo bem”. Embora não queira fazer previsões, o autor acredita que sim.
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Cristóvam é o autor da música que se tornou viral literalmente da noite para o dia – Andrà Tutto Bene. Criou-a no espaço de uma semana, depois de ver as imagens que chegavam de Itália, o primeiro país europeu aonde a pandemia virou tudo do avesso. Produzida inteiramente no seu estúdio caseiro, na ilha Terceira, o autor nunca pensou que a canção chegasse a tanta gente em tão pouco tempo. Seis meses depois, o PÚBLICO perguntou ao artista se, como diz a letra, “vai ficar tudo bem”. Embora não queira fazer previsões, o autor acredita que sim.
“A doença estava a chegar à Europa através de Itália, estávamos a ver aquelas imagens fortes e acho que foi aí que toda a gente ‘mudou a ficha’ e percebeu que afinal aquilo ia chegar ao nosso país e a todo o lado”, recorda o cantor ao PÚBLICO. No espaço de tempo que levou a escrever, Cristóvam refere que o “prognóstico já estava a mudar” e percebeu que não seriam apenas dois ou três meses para “ficar tudo bem”, como mencionava a primeira estrofe, o que o levou a alterar a expressão para “mais alguns meses” na segunda parte.
Apesar de Andrà Tutto Bene se ter tornado num símbolo de esperança durante o confinamento, o autor revela que após um primeiro momento muito espontâneo em que elaborou a primeira parte da música, teve algum receio de a lançar. A realidade em países como Itália parecia-lhe “demasiado grave” e a dada altura perguntou-se: “Será que as palavras ‘vai ficar tudo bem’ podem caber neste momento?”
A verdade é que couberam na perfeição e a prova disso é que o sucesso foi imediato. No dia seguinte ao lançamento no YouTube, Andrà Tutto Bene já se fazia ouvir nas principais rádios portuguesas, sem que essa tivesse sido a intenção do autor, ressalva o mesmo. Ainda hoje, seis meses depois, a faixa é tocada em cerca de 90 estações de rádio italianas. “O intuito inicialmente era mesmo só ser um filme com música no YouTube. Nem sequer tinha sido equacionado um lançamento da canção.”
Um filme que se tornou viral
“Quando o filme se tornou viral e chegou a tanta gente é que se começou a levantar uma certa necessidade de a canção ter uma vida própria”, continua Cristóvam, acrescentando que a partir de então a canção foi veiculada para plataformas de streaming de música. O videoclip foi produzido por Pedro Varela, amigo de longa data, que coleccionou “imagens de notícias de vários locais do mundo” e teve a ajuda de alguns amigos que as recolheram.
‘Vai ficar tudo bem’ é repetido diversas vezes, em várias línguas, ao longo dos três minutos e meio. O verso em italiano que dá nome à canção esteve presente desde o início da composição, revela o cantor açoriano. Foi precisamente com base nas imagens de crianças em Itália a segurar papéis com estas palavras de esperança que surgiu a ideia e, a partir daí, ponderou inserir a frase noutros idiomas, porque gostava que essa fosse “uma mensagem global”, numa altura em que “a fé de toda a gente estava abalada”.
O cantor afirma que não pensa escrever uma nova música com semelhante tema. “A primeira nasceu como uma reacção e como uma coisa que não foi pensada. Agora, se escrevesse outra, ia parecer forçado e acho que não faz sentido.” Está sim focado em terminar o seu segundo álbum, que tem lançamento previsto para a Primavera de 2021.
Em Março, Cristóvam não quis “fazer previsões” com a letra da sua música. Deixou em aberto aquilo que para ele era e continua a ser um enigma. Agora, a sua resposta à pergunta se “vai ficar tudo bem” é a mesma. Aliás, avalia, pouca coisa mudou desde então em relação ao que escreveu. Embora o mundo tenha atingido, no início desta semana, o marco de um milhão de mortos devido à covid-19, continua a acreditar que “quando isto acabar as memórias vão brilhar, tanto dos que partiram como dos que se mantiveram a lutar”, como diz a canção.
Texto editado por Bárbara Wong