Estados Unidos do lixo

Os EUA atafulharam países africanos. Tais como Gana, Quénia, Ruanda, entre muitos outros, onde existem lixeiras a céu aberto de todo o tipo de materiais.

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LUSA/RICARDO FRANCO

Os Estados Unidos da América (EUA) geram 2 mil milhões de toneladas de resíduos por ano, sendo apenas 16% reciclados internamente. E o resto, perguntam vocês? Bem, o resto é o resto e ninguém parece querer saber. Existem mil e uma formas de tratar temas de forma menos penosa, dramática e, porventura, mediática, mas este tema simplesmente não dá.

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Os Estados Unidos da América (EUA) geram 2 mil milhões de toneladas de resíduos por ano, sendo apenas 16% reciclados internamente. E o resto, perguntam vocês? Bem, o resto é o resto e ninguém parece querer saber. Existem mil e uma formas de tratar temas de forma menos penosa, dramática e, porventura, mediática, mas este tema simplesmente não dá.

A China era até há bem pouco tempo um dos principais países importadores de lixo oriundo dos EUA. A importância desta quebra de relação reflecte-se de forma significativa em países menos desenvolvidos. Isto é, imaginemos que, numa realidade paralela, tínhamos apenas três contentores de reciclagem e ficávamos sem um deles. O que acontece? É isso mesmo que vocês estão a pensar: os EUA atafulharam países africanos. Tais como Gana, Quénia, Ruanda, entre muitos outros, onde existem lixeiras a céu aberto de todo o tipo de materiais. Tanto nuns como noutros, são locais de crimes hediondos contra o ambiente e para humanidade. Diz-se comummente que África é a lixeira do mundo, os dados e relatórios confirmam. Cerca de 90% da produção de lixo a nível mundial é descarregada em ermos africanos.

A expressão “países em desenvolvimento” nunca fez tanto sentido. Esta alicerça-se na ideia de que os países subsidiam a gestão do lixo a outros com parcos ou inexistentes recursos de reciclagem, onerando cada indivíduo (por si) a fazer a gestão do lixo. Em suma, a lógica de exportar lixo reduz custos, atenua responsabilidade e diminui uma perspectiva estritamente local da pegada ecológica de cada país exportador. Por sua vez, o país importador é duplamente financiado, ou seja, é impulsionado a servir de estaleiro de lixo de modo a fomentar as empresas locais e, por sua vez, a matéria-prima colectada será reutilizada na pavimentação de redes viárias (no caso do plástico) e no desenvolvimento de equipamentos electrónicos (no caso, extracção dos minerais).

Na maioria destes países, existem empresas locais que detêm o monopólio da gestão do lixo. No fundo, controlam quem tem acesso às lixeiras (através de imposição tarifas) e obrigam os “catadores” a devolver a matéria-prima em contrapartida de uma retribuição desumana. Mas a falta de sensibilidade não fica por aqui. Como consequência, é promovida uma guerra de sobrevivência entre os “catadores”, para que estes disputem cada palmo de terra, com a ânsia de encontrar algum alimento (esteja ele embalado ou não!). Um evento degradante!

A indústria do lixo, sobretudo a que advém dos EUA, persiste implacável perante quem se cruze no seu caminho. Empresas populares como a Coca-Cola, Pepsi, Starbucks, Phillip Morris foram das principais marcas encontradas em lixeiras. Estas marcas não são apenas “vítimas” do seu próprio sucesso. Todo este cataclismo é fruto também de campanhas de marketing enganador, o chamado greenwashing. Estas campanhas induzem o consumidor a optar por um determinado produto em detrimento de outro, tendo por base uma preocupação primária (reciclagem, redução do CO2), quando na verdade mais não passa de uma promessa vã, cheia de frases prontas e facilmente refutáveis. Temos imensos exemplos de campanhas publicitárias deste teor e o que é certo é que o lixo não pára de aumentar. Parece que o cidadão olha para estas campanhas como forma de se imiscuir de todas as obrigações de reciclagem. Do género, já fiz a minha parte.