Rui Moreira não foi contactado pelo Governo sobre nova ponte no Douro
Ministro Matos Fernandes garantiu que concurso internacional para nova ponte do metro sobre o Douro avançaria já em 2021. Rui Moreira desconhece avanços e duvida que haja dinheiro para tudo. Entendimento entre municípios pode ser um problema, avisa autarca
O desenho das futuras linhas de metro na Área Metropolitana do Porto (AMP) ainda não está definido e o entendimento entre municípios pode não ser simples, mas mesmo sem essas definições o ministro Matos Fernandes anunciou este domingo, em entrevista ao Jornal de Notícias, que a abertura do concurso internacional para a construção de uma nova ponte sobre o Douro avançaria já em 2021. O presidente da Câmara do Porto, no entanto, diz que “formalmente não houve nenhum contacto” do Governo. Na outra margem, o autarca de Gaia aplaude a decisão
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O desenho das futuras linhas de metro na Área Metropolitana do Porto (AMP) ainda não está definido e o entendimento entre municípios pode não ser simples, mas mesmo sem essas definições o ministro Matos Fernandes anunciou este domingo, em entrevista ao Jornal de Notícias, que a abertura do concurso internacional para a construção de uma nova ponte sobre o Douro avançaria já em 2021. O presidente da Câmara do Porto, no entanto, diz que “formalmente não houve nenhum contacto” do Governo. Na outra margem, o autarca de Gaia aplaude a decisão
“Se o senhor ministro acha [exequível a abertura do concurso nesse timing] não vou discutir... Hoje em dia com as ‘bazucas’ quase tudo é possível”, disse Rui Moreira aos jornalistas no final da reunião de câmara desta segunda-feira, dedicada em exclusivo ao novo plano director municipal (PDM), que entrará em discussão pública já no início de Outubro por 35 dias úteis.
Se há dinheiro...
Já durante a pandemia, o ministro do Ambiente terá contactado Rui Moreira garantindo que esta nova ligação entre Porto e Gaia poderia avançar no âmbito de projectos prioritários para a AMP, contou o autarca do Porto. A conversa informal terá servido para Moreira explanar as suas preferências relativamente ao traçado da linha na cidade.
“Disse-lhe que me parecia bem se se fizesse o ‘Y’. Saía da Casa da Música até ao Campo Alegre e dali divergia para a Praça do Império, no Porto, e para as Devesas [em Gaia, através da nova ponte]. Julgo que, entretanto, querem ligar as Devesas a Santo Ovídio. Acho essa ligação extraordinariamente cara e duvido que haja dinheiro para tudo, mas, se o senhor ministro diz que há, fico todo contente.”
A nova ponte, que ficará entre as pontes Luís I e da Arrábida (classificada como monumento nacional), integra uma linha de metro cujo traçado ainda não está definido, embora seja um dos trajectos com mais potencialidade. Outros haverá onde o imbróglio pode ser maior. O aviso partiu do próprio presidente da Câmara do Porto durante o debate em torno do futuro PDM da cidade. A oposição fez questão de sublinhar que esta ferramenta não irá pôr fim a um problema de mobilidade que vai muito para lá dos limites administrativos da urbe e, perante o pedido de maior entendimento intermunicipal, Rui Moreira quis pôr o dedo na ferida.
A passagem para os municípios da responsabilidade de decidir quais as grandes opções do metro pode ser um “regresso ao passado” indesejável: “Temo que muito dificilmente se consiga chegar a consensos”, afirmou, antevendo que “futuras decisões” possam ficar “muito atrasadas”.
O autarca do Porto defendeu a criação de um “plano integrado metropolitano”, já que o impacto do metro se joga nesse tabuleiro, e diz que o traçado das linhas deve ser uma decisão tomada pelo conselho de administração da empresa Metro do Porto, tendo como premissas “estudos que façam a análise de custo-benefício”.
Caso contrário, apontou Rui Moreira, pode abrir-se uma “caixa de Pandora” que significará uma batalha entre presidentes de câmara: “Todos os autarcas vão achar que as linhas deles são as melhores do mundo”, disse, referindo também quais as três prioritárias no seu município – Campo Alegre, Boavista e Grande Circular.
“Todos estão de acordo que a ligação das Devesas ao pólo universitário do Porto, no Campo Alegre, faz sentido, e toda a gente concordará que ligará à Casa da Música, que é um nó muito importante. E a ligação das Devesas a Santo Ovídio? É por haver estudos de procura?”, questionou. “No passado era muito por razão política que se faziam determinadas linhas e estações. No Porto, não era preciso uma estação entre a Trindade e São Bento, mas a verdade é que foi feita e assim se fez [a reabilitação de] uma praça no Porto.”
Gaia aplaude anúncio
O presidente da Câmara de Gaia aplaude o anúncio do lançamento do concurso para o projecto da nova ponte sobre o Douro pelo compromisso que ele representa com a viabilização da segunda linha entre Gaia e o Porto, a jusante da ponte da Arrábida. Eduardo Vítor Rodrigues, que é também presidente do conselho metropolitano, não vê esta decisão do Governo como uma ultrapassagem aos autarcas pois estes, nota, ficaram de se pronunciar sobre a expansão da rede de metropolitano com base nos estudos de procura e de viabilidade técnico-financeira, e há muito que se sabe da importância desta ligação para este sistema de transporte público.
Eduardo Vítor Rodrigues nota, aliás, que esta linha só não avançou no momento em que se decidiu fazer a expansão cujas obras estão prestes a arrancar porque a verba disponível no momento assim o ditou. A segunda Linha de Gaia será sempre muito dispendiosa por causa, precisamente, da ponte que é preciso construir. Avançaram-se, assim, com duas obras mais pequenas – a Linha Rosa, no Porto, e a extensão da Linha Amarela, em Gaia, à urbanização de Vila d’Este.
Aliviar pressão em General Torres
A futura linha de Gaia arrancará deste ponto para noroeste, servindo, entre outras infra-estruturas, a estação ferroviária das Devesas, e atravessará o Douro para o Porto onde, entroncando na rede existente, acabará por fazer uma circular sul de todo o sistema. Servindo as Devesas, quem chega das freguesias e concelhos a sul por comboio passa a ter uma alternativa a General Torres, que está, neste momento, a alimentar uma linha Amarela onde quase não existe hora de ponta tal a procura.
Por isso, para o autarca, a opção é racional, do ponto de vista das dinâmicas demográficas e de mobilidade desta área da região. E, acrescenta, acaba por corrigir a injustiça que, no arranque do projecto, levou a que Gaia ficasse com uma ligação curta ao Porto - a mais procurada de toda a rede - num sistema que, “por acordos de regime”, se estendeu dezenas de quilómetros para norte, à Maia, à Póvoa de Varzim, ou a Matosinhos, nalguns casos com serviços que são, claramente, suburbanos.
O presidente da Câmara de Gaia defende, contudo, que face ao financiamento europeu de que o país vai beneficiar, o Governo deve encontrar verbas para as restantes linhas que vêm sendo estudadas e que servem vários concelhos. É isso que defende enquanto presidente do conselho metropolitano, e nesse sentido pede aos restantes autarcas da região que se mantenham unidos na defesa deste objectivo que, nas actuais condições, e face também aos compromissos ambientais do país, considera exequível.