I Just Like Birds: as sapatilhas desenhadas por um artista com experiência de doença mental

A marca portuguesa DiVERGE e o espaço de criação artística Manicómio juntaram-se numa parceria que visa diminuir o estigma relacionado com pessoas diagnosticadas com patologias do foro mental.

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Esta edição limitada está à venda por 180 euros, na DiVERGE. 20% dos lucros revertem para o MANICÓMIO Diverge/Manicómio

Chamam-se I Just Like Birds e foram criados por Bráulio, um artista residente do Manicómio desde 2019. A marca portuguesa DiVERGE e o espaço de criação artística Manicómio juntaram-se numa parceria que visa diminuir o estigma relacionado com pessoas diagnosticadas com patologias do foro mental. De acordo com as duas entidades envolvidas no projecto, este é o “primeiro modelo de calçado comercial no mundo com arte de um artista com experiência de doença mental”.

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Chamam-se I Just Like Birds e foram criados por Bráulio, um artista residente do Manicómio desde 2019. A marca portuguesa DiVERGE e o espaço de criação artística Manicómio juntaram-se numa parceria que visa diminuir o estigma relacionado com pessoas diagnosticadas com patologias do foro mental. De acordo com as duas entidades envolvidas no projecto, este é o “primeiro modelo de calçado comercial no mundo com arte de um artista com experiência de doença mental”.

O Manicómio “é um estúdio criativo, que trabalha com pessoas com doença mental”, explica o director artístico Sandro Resende. Trabalham com todo o tipo de arte — escultura, pintura, desenho, literatura, música — e desenvolvem produtos e ideias em conjunto com os cerca de 15 artistas residentes. Os resultados desse trabalho podem ser apresentados a marcas, numa perspectiva de tanto o Manicómio como a marca ganharem valor, esquecendo o “conceito muito tradicional” de um projecto social “fazer uma intervenção para vender ou ganhar caridade”.

O objectivo do projecto é, destacando o lado criativo, valorizar estes artistas, quebrando o estigma associado às doenças mentais. A preocupação está na identidade da pessoa e no valor que ela acrescenta em termos artísticos, defende a estrutura. Além desta vertente, o Manicómio presta apoio psicológico e psiquiátrico aos seus residentes, embora não de forma permanente. “É um espaço partilhado com outras pessoas criativas sem doença mental. Essa interacção, essa família que existe dentro de um espaço criativo, permite que não haja nenhum estigma associado à doença mental. Foi isto que a DiVERGE viu em nós: um potencial criativo muito forte”, resume Sandro Resende.

A parceria entre a DiVERGE e o Manicómio surgiu no final do ano passado, através de “um casamento muito natural”, diz João Esteves, CEO da marca de calçado. “Somos uma marca que quer ser um palco para as pessoas contarem a sua história. Que melhor casamento poderia haver do que ter a arte de artistas do Manicómio em edições limitadas da DiVERGE para mostrar o quão versátil a sua arte pode ser?”

Bráulio, o autor do design escolhido para as sapatilhas, criou um universo particular onde convergem pessoas, animais e plantas, revela o Manicómio. O modelo dos ténis, o Minimal Low, com “muito poucas costuras” e “painéis mais vastos”, permitiu à marca “colocar a arte do Bráulio da melhor maneira”. “É o sneaker que mais facilmente permitia ser uma tela em branco”, defende João Esteves. Esta marca de calçado, nascida há um ano, possibilita ao cliente a total customização de cada sapato. Contudo, para o caso específico dos I Just Like Birds, não é possível alterar o design, apenas personalizá-lo, ou seja, dar-lhe um toque único que faça com que não exista mais nenhum par igual.

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Diverge/Manicómio

Com 200 pares previstos para venda, os ténis têm o valor de 180 euros, sendo que 20% dos lucros revertem para o Manicómio. Desta percentagem, 70% é entregue ao artista. Todos os produtos da DiVERGE são feitos por encomenda, com um período de manufacturação de cerca de duas semanas. Porém, devido à complexidade adicional desta edição, explica o empresário — “transpôr para o sneaker a arte do Bráulio” —, será necessário esperar três semanas para receber os ténis em casa. 

Para João Esteves não há “dúvida absolutamente nenhuma” que esta é uma parceria a manter, muito pela “amizade genuína que se gerou no processo”. Ainda não há nomes definidos para desenhar as próximas sapatilhas, mas ideias não faltam e vontade de colaborar também não, conclui.

Texto editado por Bárbara Wong