Suíços decidem no domingo se querem travar imigração da União Europeia
Sondagens apontam para vitória do “não”, num ambiente político diferente daquele que levou à vitória do “sim” num referendo semelhante, em 2014. Aprovação levaria ao fim do acordo de livre circulação com a União Europeia.
Os eleitores suíços vão indicar no domingo, em referendo, se querem manter ou se preferem rasgar o acordo de livre circulação com a União Europeia. As sondagens apontam para uma vitória dos que defendem a continuação do tratado, mas a discussão à volta das limitações à entrada de cidadãos europeus no país vem agravar a dor de cabeça em Bruxelas por causa do referendo do “Brexit” no Reino Unido.
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Os eleitores suíços vão indicar no domingo, em referendo, se querem manter ou se preferem rasgar o acordo de livre circulação com a União Europeia. As sondagens apontam para uma vitória dos que defendem a continuação do tratado, mas a discussão à volta das limitações à entrada de cidadãos europeus no país vem agravar a dor de cabeça em Bruxelas por causa do referendo do “Brexit” no Reino Unido.
Foi há seis anos que o Partido Popular Suíço, nacionalista e anti-imigração, promoveu o primeiro referendo sobre a liberdade de movimentos dos cidadãos da União Europeia no seu território, obtendo uma vitória tangencial – 50,33% contra 49,67%, equivalente a uma diferença de 19.302 votos em quase três milhões.
Mas a proposta que foi votada em 2014 era mais vaga do que a que vai estar em causa no domingo, e o Parlamento do país (a Assembleia Federal) acabou por esvaziar o objectivo do Partido Popular Suíço – aprovou, em Dezembro de 2016, uma lei que dá prioridade à contratação de cidadãos suíços em determinadas áreas e regiões do país mais afectadas pelo desemprego, mas ficou muito aquém de decidir o fim da liberdade de circulação entre a União Europeia e a Suíça.
No próximo domingo, o Partido Popular Suíço faz uma nova tentativa, desta vez com uma consequência concreta em caso de aprovação: se o referendo for aprovado, a Suíça e a União Europeia terão um ano para negociar o fim do acordo de livre circulação.
O acordo entre a Suíça e a União Europeia só entrou em vigor em todo o seu alcance em finais de 2008, com uma decisão do Conselho Europeu que se seguiu à aprovação pelos eleitores suíços, em referendo, em 2005.
Mas o facto de a proposta que está em cima da mesa ser mais concreta e rígida do que a de 2014 parece ter afastado o voto de protesto, que foi essencial para a vitória política do Partido Popular Suíço há seis anos. Segundo uma sondagem do instituto gfs.bern, publicada no dia 7 de Setembro, o “sim” no referendo de domingo tem 35% das intenções de voto, contra 60% do “não” e 5% de indecisos.
Tal como acontece em outros casos relacionados com as questões da imigração, o fim do acordo entre a Suíça e a União Europeia recolhe mais apoio nas regiões de fronteira, neste caso no cantão de Ticino, na fronteira com o norte de Itália, e menos nas grandes cidades mais para o interior.
E, também à imagem do que acontece noutros países em que a imigração é um assunto na ordem do dia, os apoiantes do “sim” no referendo suíço dizem que o seu objectivo não é fechar a porta aos estrangeiros, mas sim “favorecer a imigração de qualidade”.
“Temos de recuperar o pedaço de soberania que envolve o controlo da imigração”, disse à AFP Vincent Schaller, um vereador do Partido Popular Suíço em Genebra.
Exemplo do “Brexit"
Do outro lado, os partidos da esquerda ao centro-direita ou são contra o fim da liberdade de circulação, ou dizem que esta não é a melhor altura para comprar uma guerra com a União Europeia. E avisam que o fim do acordo de circulação com Bruxelas será mais prejudicial para a Suíça do que para o resto da Europa – não só o país tem beneficiado de mão-de-obra especializada em sectores como a saúde, o que tem sido essencial em tempos de pandemia, como os vários acordos entre a Suíça e a União Europeia têm uma “cláusula guilhotina”: se um deles cair, caem todos os outros.
Para contornar essa situação, a União Europeia teria de estar disposta a entrar em duras e complexas negociações com a Suíça, numa altura em que enfrenta vários problemas como a resposta coordenada à pandemia de covid-19 e as difíceis negociações para a saída do Reino Unido.
“As condições mudaram muito em comparação com 2014”, disse à AFP Pascal Sciarni, cientista político na Universidade de Genebra. Segundo o especialista, a população suíça está hoje mais certa de que o país sairia prejudicado das negociações com a União Europeia, um sentimento para o qual terão contribuído os desenvolvimentos do “Brexit”.