Pedro Caldeira Cabral mostra os sons e fados da cítara portuguesa no CCB

Conhecemo-la por guitarra portuguesa, mas Pedro Caldeira Cabral bate-se para que volte a usar o seu nome original, cítara portuguesa. No CCB, esta sexta-feira, num concerto já com lotação esgotada, mostra porquê, a tocá-la.

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Pedro Caldeira Cabral GRAÇA MORAIS

Mais de um ano passado sobre a exposição O Som da Saudade – A Cítara Portuguesa, que esteve aberta ao público de Maio a Setembro de 2019 no Musu do Fado, Pedro Caldeira Cabral (que comissariou a exposição) vai apresentar esta sexta-feira no CCB, em Lisboa, um concerto que é um prolongamento dessa mostra. Na Pequeno Auditório do CCB, às 21h, o Fado da Cítara Portuguesa é uma viagem pelos sons e fados do instrumento a que se começou a chamar guitarra, mas a que Caldeira Cabral quer devolver o nome de origem. Isto porque, ao longo de anos, nas suas “deambulações por bibliotecas, alfarrabistas e feiras de velharias por todo o país” recolheu “um razoável número de manuscritos musicais contendo peças antigas do repertório da cítara portuguesa, muitas de autor desconhecido e datáveis desde os últimos decénios do século XVIII até ao início do século XX.” E nessas músicas para cítara, afirma, estava uma mistura de géneros: “o Fado de salão, as danças da Fofa, do Fandango, do Sarambeque, da Valsa, da Mazurca, do Maxixe ou da Chula.”

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Mais de um ano passado sobre a exposição O Som da Saudade – A Cítara Portuguesa, que esteve aberta ao público de Maio a Setembro de 2019 no Musu do Fado, Pedro Caldeira Cabral (que comissariou a exposição) vai apresentar esta sexta-feira no CCB, em Lisboa, um concerto que é um prolongamento dessa mostra. Na Pequeno Auditório do CCB, às 21h, o Fado da Cítara Portuguesa é uma viagem pelos sons e fados do instrumento a que se começou a chamar guitarra, mas a que Caldeira Cabral quer devolver o nome de origem. Isto porque, ao longo de anos, nas suas “deambulações por bibliotecas, alfarrabistas e feiras de velharias por todo o país” recolheu “um razoável número de manuscritos musicais contendo peças antigas do repertório da cítara portuguesa, muitas de autor desconhecido e datáveis desde os últimos decénios do século XVIII até ao início do século XX.” E nessas músicas para cítara, afirma, estava uma mistura de géneros: “o Fado de salão, as danças da Fofa, do Fandango, do Sarambeque, da Valsa, da Mazurca, do Maxixe ou da Chula.”

Uma palavra corrompida

“Estou a utilizar a palavra cítara portuguesa”, diz Pedro Caldeira Cabral ao PÚBLICO, “pelo facto de a palavra guitarra [portuguesa] estar completamente corrompida pela sua má utilização. Há necessidade de renomear o instrumento e fazê-lo é um dos fortes argumentos para a sua requalificação e para voltarmos a ter outra atenção sobre este instrumento tão particular e tão rico que é a cítara portuguesa.” Guitarra portuguesa foi, segundo Caldeira Cabral, um nome que surgiu para requalificar o instrumento. “Primeiro começaram por lhe chamar só guitarra, no século XVIII, para a distinguir da cítara, porque essa guitarra tinha menos cordas, uma afinação diferente e uma técnica diferente. A cítara continuou na via popular a chamar-se cítara para se afastar da dita guitarra. E só com a fase nacionalista do final do século XIX é que a cítara passou a ser chamada guitarra portuguesa, mas ainda de uma forma muito elitista, reduzida. O termo que primeiro é usado para a designar é guitarra, sem mais nenhum adjectivo.”

Da fidalguia ao Brasil

Para o Centro Cultural de Belém, onde se apresentará acompanhado pelos músicos com que habitualmente toca, Joaquim Silva no violão e Duncan Fox no contrabaixo, o músico e compositor Pedro Caldeira Cabral imaginou uma história em três andamentos. “A ideia é apresentar o repertório da cítara portuguesa actual, mas fazendo uma incursão pela herança da tradição oral que nos ficou através de registos escritos. Aquele célebre Fado do Marinheiro, que é uma espécie de celebridade mítica porque é assinalado por vários historiadores desde o século XIX como sendo o fado mais antigo chegou-nos através de duas versões, uma manuscrita e outra impressa, e eu fiz uma ligação entre as duas versões. A Fofa da Rozinha, por exemplo, foi um manuscrito que eu encontrei na capa de uma peça religiosa, reutilizado e cosido com linha, com uma nota que diz ‘para se tocar na cítara ou guitarra de doze’, o que é uma frase muito interessante.”

Isto em três secções: “A primeira, refere-se a esses ecos do passado. Por exemplo, o Fado Conde da Anadia, composto em 1860 e dedicado ao conde da Anadia: existem fotografias do conde da Anadia, do conde de Pombeiro e do conde de Linhares, os três a tocarem as suas cítaras e é muito interessante perceber que há esta aproximação da fidalguia a um instrumento que naquela altura estava ainda nas mãos do povo e de classes marginais. A segunda secção tem a ver com o levar da nossa música para o Brasil, particularmente para o Rio de Janeiro, onde será marcante não só a presença de fabricantes de cordofones, mas também o facto de alguns deles, como o caso do João dos Santos Couceiro, terem sido professores de música e acabarem por influenciar os músicos daquela cidade e a prática musical urbana. E depois esta ligação ao contrário, com a chegada dos torna-viagens que começam a influenciar a música de cá – é o caso do João Manuel Rodrigues Preto, que faz o seu maxixe poiarense, a partir de uma dança caribenha na moda nos anos 20.”

Recordar os mestres

Na última secção, entrarão obras de grandes mestres e algumas peças originais: “Uma última parte, chamei-lhe a cítara actual. Porque há aqui a recuperação de nomes que estavam praticamente esquecidos até aos anos 1990, como o Armandinho, que hoje é de novo uma celebridade, mas que entre o ano da sua morte, 1946, e a década de 1990 não há praticamente nenhum registo das suas músicas por qualquer intérprete. E incluo nesta cítara actual três peças da minha autoria, uma delas em co-autoria com o Carlos Paredes, a Fantasia Verdes Anos, feita para celebrar o ano em que ele fez 65 anos. Reconverti-a numa peça que toco normalmente com o meu trio e é o que farei, de novo, no CCB.”