Governo não revela números de infecções em escolas desde o início do ano lectivo
Pelo menos cinco estabelecimentos já tiveram de encerrar de forma temporária ou enviar alunos para casa por causa de casos de covid-19. O ano lectivo em Portugal arrancou entre 14 e 17 de Setembro.
O Ministério de Educação não revela quantos casos de infecção foram, até esta altura, detectados em escolas desde o início do ano lectivo. Esta terça-feira, uma semana depois do início do novo ano escolar, o PÚBLICO questionou a tutela para perceber, por um lado, quantas escolas tinham registado infecções (em alunos, funcionários ou professores) e, por outro, quantas turmas foram colocadas em ensino à distância por causa do mesmo motivo e quantos alunos estão em isolamento.
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O Ministério de Educação não revela quantos casos de infecção foram, até esta altura, detectados em escolas desde o início do ano lectivo. Esta terça-feira, uma semana depois do início do novo ano escolar, o PÚBLICO questionou a tutela para perceber, por um lado, quantas escolas tinham registado infecções (em alunos, funcionários ou professores) e, por outro, quantas turmas foram colocadas em ensino à distância por causa do mesmo motivo e quantos alunos estão em isolamento.
Na resposta, que chegou esta quarta-feira, fonte do Ministério da Educação não revela nenhum destes dados e redirecciona as perguntas para o documento publicado no início de Setembro pela Direccção-Geral da Saúde (DGS) que tem como objectivo orientar os estabelecimentos escolares ou de educação perante casos suspeitos, confirmados ou mesmo surtos.
O PÚBLICO questionou também a Direcção-Geral da Saúde (DGS) para perceber que organismo é responsável por centralizar estas informações com o objectivo de ir avaliando quantas instituições foram afectadas (ou se esta equipa existe sequer). Em resposta, a DGS refere que “todas as notificações clínicas de casos confirmados são do conhecimento dos vários níveis de autoridade de saúde: nacional, regional e local”. “As informações específicas relativas à ocorrência de surtos a nível local são do conhecimento da autoridade de saúde territorialmente competente, que realiza o inquérito epidemiológico e implementa as medidas de saúde pública”, refere a autoridade de saúde nacional.
E uma vez que as autoridades de saúde locais ganharam, desde o início deste ano lectivo, um grande protagonismo na gestão de casos de covid-19 nas escolas, o PÚBLICO perguntou a cada Administração Regional de Saúde (ARS) do continente quantas vezes é que as equipas de saúde pública tiveram de intervir (mesmo que esta intervenção não tenha resultado em nenhuma medida concreta) em recintos escolares desde o dia 14 de Setembro.
Apenas a ARS-Algarve respondeu às questões do PÚBLICO, afirmando que “a saúde pública da Administração Regional de Saúde do Algarve realizou, até à data, sete intervenções junto de escolas da região”. A ARS-Algarve não avançou com nenhum número, respondendo apenas que “as unidades de saúde pública e as equipas de saúde escolar estão a acompanhar e a dar o apoio que for considerado necessário”.
Pelo menos cinco intervenções
De acordo com a recolha feita pelo PÚBLICO, pelo menos cinco escolas do país já tiveram de tomar algum tipo de medidas para conter casos de infecção desde o início do ano lectivo.
Esta segunda-feira foi divulgado que vários alunos de escolas da região de Leiria tiveram testes positivos à covid-19, o que levou a autoridade de saúde a pôr mais de 15 jovens em isolamento profiláctico. A coordenadora da Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral, Odete Mendes, confirmou à agência Lusa que foi registado um caso positivo na Escola Profissional de Leiria. Na Escola Básica 2, 3 D. Dinis, em Leiria, a Associação de Pais anunciou que um aluno também estava infectado, tendo levado a autoridade de saúde a pôr três alunos em isolamento, referiu Odete Mendes.
Na Escola Básica 1/Jardim-de-Infância (EB1/JI) das Laranjeiras, em Lisboa, as aulas foram retomadas esta terça-feira depois de terem sido suspensas no domingo. As actividades lectivas foram suspensas devido à falta de funcionários, uma vez que a um destes foi diagnosticada covid-19.
Foi por esta mesma razão que os alunos de 21 turmas da Escola Secundária de Palmela tiveram, esta quarta-feira, de transitar para o ensino à distância depois de a um assistente operacional ter sido diagnosticada covid-19. Em dois comunicados publicados nas últimas horas, a escola afirma que, “quando tiver um número de assistentes suficientes para voltar a abrir o bloco agora encerrado, estas turmas voltarão ao regime presencial, o que poderá acontecer já na próxima segunda-feira”.
No sábado, 21 estudantes de escolas da Lixa, em Felgueiras, e dois adultos foram postos em isolamento, depois de terem estado em contacto com uma pessoa infectada. Segundo disse Rosa Pinto, vereadora na Câmara de Felgueiras, à Lusa, todos os estudantes fizeram testes e estão assintomáticos. A autarca explicou que o caso foi espoletado por uma funcionária de um centro de estudos que está infectada e que tinha participado na segunda-feira e na terça-feira na logística de transporte dos estudantes.
O Ministério da Educação realça, na resposta que enviou ao PÚBLICO, que em Portugal existe “um universo actual de cerca de 1,2 milhões de alunos do ensino pré-escolar ao ensino secundário, a que se somam cerca de 210 mil docentes e não-docentes, distribuídos por 812 agrupamentos escolares e mais de 5000 escolas”. Fonte da tutela refere ainda que estes dados não estão ainda completamente consolidados, uma vez que, apesar de o novo ano lectivo se ter iniciado entre 14 e 17 de Setembro, muitas escolas dedicaram esses dias apenas a apresentações e só iniciaram as aulas nos últimos dias. Além disso, explicou a mesma fonte, as escolas têm autonomia para tomar decisões e não estão obrigadas a reportar estes acontecimentos numa base periódica.
A directora-geral da Saúde classificou, na segunda-feira, o arranque do ano lectivo como positivo, sublinhando que as escolas em que a actividade lectiva foi suspensa se deveu a falta de funcionários e não ao risco de propagação da covid-19. Graça Freitas considerou que esse regresso correu “bastante bem”, tendo em conta que a reabertura das escolas implicou um grande fluxo de pessoas.
Apesar do balanço positivo, nos primeiros dias de aulas foram relatados casos positivos de infecção pelo novo coronavírus em algumas escolas, mas a directora-geral assegurou que “do ponto de vista da saúde pública nenhum dos casos levaria ao encerramento das escolas”.
Portugal registou, esta quarta-feira, mais três mortes por covid-19 e 802 casos de infecção, o equivalente a um aumento de 1,15% face ao dia anterior. Desde Março, o país contabiliza 1928 óbitos e 70.465 infecções.