“Brexit”: Governo britânico admite filas de sete mil camiões e atrasos de dois dias para entrar na UE

Ministro alertou transportadoras para os riscos da falta de preparação para os controlos fronteiriços à chegada à UE, a partir de Janeiro, independentemente de Londres e Bruxelas fecharem um novo acordo de parceria económica.

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Simulacro com camiões nas imediações do Porto de Dover, realizado em Janeiro do ano passado Reuters/TOBY MELVILLE

“Preparem-se para as novas formalidades” ou o Reino Unido corre o risco de ter as estradas do condado inglês de Kent entupidas com filas de cerca de sete mil camiões e de ver os seus produtos demorarem até dois dias para entrar em território europeu, por ferry ou via Eurotúnel, alertou o Governo britânico.

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“Preparem-se para as novas formalidades” ou o Reino Unido corre o risco de ter as estradas do condado inglês de Kent entupidas com filas de cerca de sete mil camiões e de ver os seus produtos demorarem até dois dias para entrar em território europeu, por ferry ou via Eurotúnel, alertou o Governo britânico.

Numa carta enviada aos representantes do sector logístico e das empresas de transporte, vista pelos principais meios de comunicação britânicos, o ministro Michael Gove – responsável pela implementação do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia – defendeu que “é essencial que os operadores comerciais actuem agora” para evitar aquilo que o executivo considera ser “o pior cenário possível”, a partir do dia 1 de Janeiro de 2021.

Nos termos do acordo do “Brexit”, o Reino Unido abandonou a UE oficialmente a 31 de Janeiro, mas continua a fazer parte do mercado único e da união aduaneira até ao último dia deste ano. Londres e Bruxelas estão em negociações para fechar uma nova parceria económica e política antes do fim do chamado período de transição, mas Gove diz que a preparação que se tem de fazer não depende do resultado desse processo.

“A maior causa potencial de perturbação é que os operadores não estejam preparados para os controlos implementados por Estados-membros da UE a partir de 1 de Janeiro”, avisou o líder do Conselho de Ministros.

“Independentemente do desfecho das negociações entre Reino Unido e UE, os operadores irão confrontar-se com novos controlos e procedimentos aduaneiros. Se não cumprirem com a documentação necessária, os seus produtos serão travados à entrada na UE e haverá perturbações”, acrescentou, citado pela Reuters. 

Segundo Downing Street – que esclareceu que não está a fazer estimativas, mas a perspectivar o “pior cenário” –, estas perturbações podem afectar até 70% dos veículos que fazem, actualmente, o transporte de mercadorias através do Eurotúnel, que liga Inglaterra a França, ou a partir dos portos de Dover e Folkestone, no Sudeste inglês, para outros pontos do continente.

A previsão do Governo é que estes atrasos em Kent comecem a verificar-se nas primeiras duas semanas de Janeiro e que se mantenham ou se agravem, pelo menos, nos três meses seguintes.

Desresponsabilização? 

Alguns representantes do sector dos transportes receiam, no entanto, que esta carta de Gove seja um instrumento para o Governo de Boris Johnson responsabilizar os operadores – e a UE – por um previsível cenário de caos junto aos postos fronteiriços.

O sindicato Logistics UK, as autoridades do Porto de Dover e a Associação de Transportes Ferroviários (RHA) acusam mesmo o executivo conservador de “não apresentar soluções” para os problemas para os quais os próprios têm vindo a alertar.

“Temos avisado constantemente o Governo de que haverá demoras nos portos, mas eles não se têm empenhado em encontrar soluções em conjunto com o sector”, lamenta Richard Burnett, director executivo da RHA, citado pelo The Guardian.

“Os operadores necessitam de mais de 50 mil intermediários aduaneiros para lidarem com a montanha de papelada que vai ser necessária depois da transição, mas o apoio do Governo ao recrutamento e instrução de pessoal suplementar é terrivelmente inadequado”, atirou ainda.

As negociações entre Londres e os 27 encontram-se, por esta altura, na sua fase mais negativa e mais crítica. 

Para além da indisponibilidade das partes em abdicarem dos principais limites que querem impor, a UE criticou duramente o Governo de Johnson por querer aprovar no Parlamento uma lei que elimina partes do acordo de saída e que desobriga o Reino Unido de compromissos jurídicos e políticos ratificados em tratado internacional.

Caso os britânicos não deixem cair essa legislação – cuja votação parlamentar decisiva deve acontecer no início da próxima semana – a Comissão Europeia já ameaçou levar o executivo britânico e o “Brexit” a tribunal.