Alegado jihadista português diz que é “menos ortodoxo que os irmãos” desaparecidos
Rómulo Costa defendeu termos que usa nas conversas ao telefone com os seus familiares nada têm a ver com eventuais fundamentalismos. O arguido foi confrontado com o juiz com uma escuta na qual diz a um dos irmãos que este se devia preocupar mais em “acabar com aqueles porcos”.
Rómulo Costa, um dos dois suspeitos de estão a ser julgados no Tribunal de Lisboa por alegadamente pertencerem ao Daesh estando acusados de unirem esforços, recrutarem e financiarem a organização terrorista, apoiando a ida de cidadãos portugueses e britânicos para a Síria para combaterem ao lado de jihadistas, diz que é “menos ortodoxo que os irmãos” e que os termos que usa nas conversas ao telefone nada têm a ver com eventuais fundamentalismos.
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Rómulo Costa, um dos dois suspeitos de estão a ser julgados no Tribunal de Lisboa por alegadamente pertencerem ao Daesh estando acusados de unirem esforços, recrutarem e financiarem a organização terrorista, apoiando a ida de cidadãos portugueses e britânicos para a Síria para combaterem ao lado de jihadistas, diz que é “menos ortodoxo que os irmãos” e que os termos que usa nas conversas ao telefone nada têm a ver com eventuais fundamentalismos.
Esta terça-feira, na segunda sessão de julgamento, em que Rómulo Costa terminou o seu depoimento, a sua defesa apostou em demonstrar que a linguagem que usa nas conversas com os irmãos, também acusados de terrorismo, mas em parte incerta, nada tem a ver com a de um eventual simpatizante do Daesh, mas o colectivo de juízes não pareceu convencido.
O arguido foi confrontado com uma escuta em que este fala com o seu irmão Edgar Costa: “Foste para a zona da matança e estás a pensar em bebés meu amigo, é pensar mas é em acabar com aqueles porcos meu irmão.”
Questionado sobre o termo matança, Rómulo Costa disse: “Matança era [um termo] usado nos [anos] 90 em Massamá (na zona de Sintra), na terra onde cresci, e quer dizer um problema que tem de ser resolvido.”
“E porcos?”, questionou o juiz. Esta é uma pergunta que já na anterior sessão foi feita a Rómulo Costa que voltou a dizer o mesmo: “Pessoas que violam direitos fundamentais” e não os infiéis como defendem os apoiantes do Daesh.
O arguido assumiu que os irmãos eram mais ortodoxos que ele e que não lhe poupavam reparos por isso. Rómulo diz que vai a discotecas, que gosta de música e que não reza tanto como os seus irmãos rezavam. O arguido diz mesmo que sabia que os irmãos o condenavam por isso.
Não se revê nos ideais?
Instado pelo juiz para explicar melhor a sua posição, Rómulo Costa respondeu: “Imagine, que eu digo que existem oito mil milhões de pessoas no mundo e que três mil milhões são muçulmanos. Se todos os muçulmanos pensassem como esse grupinho pequeno [refere-se aos defensores do Daesh] o mundo seria mais violento e mais perigoso.”
O arguido tenta assim explicar que não se revê nos ideais que levaram os seus dois irmãos a juntarem-se ao Daesh e a lutarem na Síria.
A sessão de ontem ficou ainda marcada pela inquirição da primeira testemunha de acusação, arrolada pelo Ministério Público: Nuno Rogeiro, investigador e comentador politico especializado em questões de política internacional.
Na prática, Nuno Rogeiro foi ao tribunal explicar a constituição do grupo terrorista e todos os movimentos que cresceram à volta e o seu modo de actuação.
A sua presença até foi criticada pela defesa de Rómulo Costa. À saída do tribunal, Lopes Guerreiro, disse que esta testemunha não tinha conhecimento dos factos que constam do processo e que apenas ali foi fazer “um breve discurso histórico sobre a criação destas organizações terroristas”.
“A meu ver foi totalmente despiciente. Não acrescenta nada à factualidade que chegou aqui a julgamento e o que interessa ao tribunal é julgar factos, não é ter apontamentos e aulas de história”, disse, acrescentando que “foge totalmente do objecto do processo”.
Para Lopes Guerreiro não fez sentido trazer esta testemunha a julgamento: “Quem de facto cometeu os crimes não está aqui para ser julgado, o meu cliente é apenas um bode expiatório para o Ministério Público, disse o advogado, referindo-se aos restantes seis suspeitos de terrorismo que não se sabe se estão mortos ou vivos. O Ministério Público acusou oito portugueses neste processo, mas apenas dois estão em julgamento.
Na sala, onde só puderam estar quatro jornalistas devido à sua pequena dimensão, estiveram Cassimo Turé, que apesar de viver no Reino Unido se deslocou a Portugal para o julgamento, e Rómulo Costa, que se encontra, desde Junho de 2019, preso em Monsanto, uma vez que o juiz determinou a separação dos processos relativamente aos outros seis arguidos, porque não se sabe do seu paradeiro.