Bolsonaro responsabiliza índios por incêndios na Amazónia

No discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU, o Presidente brasileiro elogiou as iniciativas de Trump no Médio Oriente e fez acusações graves à Venezuela.

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Como é tradição, o Presidente brasileiro abriu a Assembleia-Geral da ONU Reuters/Adriano Machado

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, culpou os índios pelos incêndios na Amazónia, durante o discurso de abertura da 75.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas esta terça-feira.

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O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, culpou os índios pelos incêndios na Amazónia, durante o discurso de abertura da 75.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas esta terça-feira.

Tal como no ano passado, em que Bolsonaro se estreou nas Nações Unidas, o meio ambiente ocupou grande parte do seu discurso, este ano gravado previamente e transmitido por vídeo no hemiciclo, em Nova Iorque. O Presidente brasileiro denunciou “uma das maiores campanhas de desinformação sobre a Amazónia e Pantanal”, com origem em “interesses escusos”, com o objectivo de desestabilizar o Governo e pôr em causa a soberania brasileira sobre estes territórios.

O discurso de Bolsonaro coincide, também como no ano passado, com uma grave crise ambiental que está a concentrar a atenção do mundo. Nos últimos meses, a região do Pantanal tem sido dizimada por fortes incêndios, pondo em causa não só a fauna e a flora única deste bioma, mas também a sobrevivência dos povos indígenas locais.

No entanto, Bolsonaro apontou precisamente o dedo aos índios e aos “caboclos” pelos incêndios justificados pela “busca da sobrevivência”, sem fornecer qualquer prova desta acusação.  “Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam os seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, afirmou.

A generalidade dos observadores atribui os incêndios aos proprietários rurais, interessados em desflorestar grandes áreas para usar como pastagem ou, simplesmente, para reduzir o seu valor futuro.

Bolsonaro justificou também a subida do número de incêndios no Pantanal à “alta temperatura” e à “acumulação de massa orgânica em decomposição”. “Temos tolerância zero com o crime ambiental”, defendeu-se, embora números recentes mostrem que o número de multas aplicadas pelo Ibama caiu de forma acentuada no ano passado.

A pandemia da covid-19, que no Brasil matou mais de 137 mil pessoas, também foi abordada por Bolsonaro, que começou por lamentar “cada morte ocorrida”. O Presidente tinha sido criticado por raramente ter dirigido uma palavra de solidariedade às famílias das vítimas durante a progressão da doença.

Bolsonaro defendeu a sua perspectiva de que tanto o vírus como o “desemprego” são problemas a ser tratados em simultâneo e voltou a criticar os defensores das medidas de confinamento e distanciamento físico. Acusou ainda a imprensa de “politizar a pandemia e espalhar o pânico”.

O chefe de Estado assegurou que “não faltaram, nos hospitais, os meios para combater a pandemia”, contrariando diversos relatos feitos pelos profissionais de saúde sobre falta de equipamentos de protecção ou camas em unidades de cuidados intensivos durante a fase mais aguda da pandemia. Bolsonaro saudou ainda o programa de subsídios entregues à população – que descreveu como "parcelas que somam aproximadamente 1000 dólares”, embora, na verdade, o subsídio tenha sido de 600 reais mensais (94 euros) durante três meses – que disse ser “o maior programa de assistência no Brasil e um dos maiores do mundo”.

Entre elogios às iniciativas diplomáticas do homólogo norte-americano, Donald Trump, no Médio Oriente, Bolsonaro acusou directamente a Venezuela de uma “agressão”, por causa do derramamento de petróleo ao largo da costa brasileira, no ano passado. Não foi levada a cabo qualquer investigação que tenha concluído que o barco responsável pelo derrame seja venezuelano ou, sequer, que tenha sido intencional.

Numa só frase, a fechar o seu discurso, Bolsonaro reduziu a pó a diversidade étnica, religiosa, e política de um país de dimensões continentais, descrevendo-o como “um país cristão e conservador” e com “a família na sua base”.