Restrições descoordenadas na UE estão “a matar” a aviação

Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea revê acentuadamente em baixa as expectativas de tráfego aéreo para os próximos meses. Quebras devem manter-se à volta dos 50%/60% até Fevereiro de 2021.

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Pedro Fazeres

A Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea (Eurocontrol) alertou esta terça-feira que as restrições descoordenadas na União Europeia (UE) estão “a matar” a aviação, dando como exemplo a quarentena imposta pelo Reino Unido às viagens de Portugal.

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A Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea (Eurocontrol) alertou esta terça-feira que as restrições descoordenadas na União Europeia (UE) estão “a matar” a aviação, dando como exemplo a quarentena imposta pelo Reino Unido às viagens de Portugal.

“O grande problema é que não estamos a ter progressos na Europa desde meados de Agosto, quando um elevado número de restrições foram impostas pelos governos, como as obrigações de quarentena, particularmente pelo Reino Unido face a [quem viaja de] Espanha, pelo Reino Unido relativamente a Portugal, mas também [implementadas] pela França e Croácia”, declarou o director-geral da Eurocontrol, Eamonn Brennan.

Falando num debate por videoconferência sobre os efeitos da pandemia de covid-19 no sector da aviação, Eamonn Brennan lamentou que não haja “uma resposta coordenada na Europa” sobre as restrições às viagens, o que “está a matar a indústria aeronáutica”. “O que me preocupa é que os voos realizados têm vindo a diminuir desde há duas semanas”, insistiu.

E, para ilustrá-lo, o director-geral da Eurocontrol apontou que, dos 37 mil voos diários efectuados normalmente nesta altura do ano, na segunda-feira só se registaram 16 mil, o que significa uma quebra de 45% face ao período homólogo do ano passado.

Esta situação afecta, particularmente, as cinco maiores companhias aéreas europeias, entre as quais Ryanair, easyJet, Turkish Airlines, Air France e Lufthansa, de acordo com a Eurocontrol.

“Em vez de estabilizar, a situação está a piorar na Europa porque vemos menos voos operados, menos prestadores de serviço e ainda menos transporte de carga”, salientou Eamonn Brennan, falando numa “situação idêntica ou pior” nos aeroportos.

Em todo o sector da aviação, “não estamos a ver qualquer melhoria, qualquer recuperação, nem a adopção de soluções fáceis por exemplo em termos de testes”, criticou. Eamonn Brennan antecipou, assim, uma “temporada de inverno bastante difícil”.

Quedas de 50%

As mais recentes projecções da Eurocontrol, datadas da semana passada, reviram acentuadamente baixa as expectativas de tráfego aéreo para os próximos meses, com as quebras a manterem-se à volta dos 50%/60% até Fevereiro de 2021, quando anteriormente se previa que estivessem abaixo dos 20%.

“Em Abril, tínhamos previsões bastante boas e agora estamos a ter reduções significativas”, disse Eamonn Brennan, referindo ainda estar “preocupado que o cenário seja ainda menos optimista do que previsto”.

Em termos gerais, o tráfego aéreo está por estes dias a registar quedas à volta dos 50% face a 2019, o que compara com reduções de 90% em Março e Abril deste ano, altura de confinamento.

Apesar de reconhecer os esforços da Comissão Europeia em propor regras harmonizadas na UE (em termos de testes, quarentena e zonas consideradas perigosas), Eamonn Brennan adiantou que este é um “vírus comum, que exige uma actuação comum”, concluindo que “o que está a acontecer é de loucos”.

Criada em 1963, a Eurocontrol representa o sector da aviação em 42 países membros (da UE e do resto da Europa), entre os quais Portugal.

Também intervindo no debate, o ex-presidente executivo da International Airlines Group, o segundo maior grupo companhias de aviação de rede europeias que junta a British Airways, Iberia e Vueling, vincou que “muito ainda tem de ser feito” para o sector recuperar.