Republicanos e democratas não são a mesma coisa
O legado de Ginsburg e a possível reversão desse legado terão influência suficiente para que uma parte do eleitorado esteja consciente da importância do que está em causa com a sua morte a poucas semanas desta eleição incandescente?
A morte de Ruth Bader Ginsburg é o condimento político que faltava a estas cruciais eleições para a Casa Branca. Donald Trump quer substituir, rapidamente, a mais antiga juíza do Tribunal Supremo dos Estados Unidos e apagar o seu legado ímpar na defesa dos direitos humanos, nomeadamente na igualdade de género, como se a desigualdade com base em papéis de género não fosse uma intolerável boçalidade.
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A morte de Ruth Bader Ginsburg é o condimento político que faltava a estas cruciais eleições para a Casa Branca. Donald Trump quer substituir, rapidamente, a mais antiga juíza do Tribunal Supremo dos Estados Unidos e apagar o seu legado ímpar na defesa dos direitos humanos, nomeadamente na igualdade de género, como se a desigualdade com base em papéis de género não fosse uma intolerável boçalidade.
Os republicanos não vão olhar a meios para atingir essa finalidade, a de constituírem uma confortável maioria no Supremo, que garanta por mais de uma geração, uma vez que os juízes são nomeados vitaliciamente, uma agenda de um conservadorismo bacoco, nos antípodas de todas as batalhas que Ruth Bader Ginsburg travou contra a desigualdade de género.
E vão fazê-lo em contradição com o que fizeram há precisamente há quatro anos, quando o mesmo líder republicano do Senado impediu que Barack Obama nomeasse um juiz a sete meses do final do mandato, com o argumento de que era necessário esperar pelo resultado das eleições que então elegeram Trump.
A contradição de Mitch McConnell é uma imensa falta de vergonha, de sentido de Estado e de respeito pela democracia. Caso Donald Trump consiga nomear um novo juiz ainda durante a sua presidência, é certo e garantido que a sua agenda passará a ter um eco reforçado em temas como o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a liberdade religiosa, a regulação da imigração e o oposto a tudo o que seja minimamente humanista ou progressista, com as inevitáveis repercussões por todo lado.
A substituição de Ruth Bader Ginsburg e o processo que se prevê não serão inócuos. Servirão a Trump para tentar libertar-se do desastre da covid-19 nos EUA, que não consegue gerir, reforçar a linguagem da “lei e da ordem” e sedimentar uma campanha num discurso descaradamente conservador. Joe Biden tem pela frente o desafio de convencer um eleitorado mais jovem e inconformado, que está longe de lhe ser indefectível, sobre a importância do voto e as suas ramificações na hierarquia do poder.
O legado de Ginsburg e a sua possível reversão terão influência suficiente para que uma parte do eleitorado esteja consciente da importância do que está em causa com a sua morte a poucas semanas desta eleição incandescente? A escolha do novo juiz do Supremo dos EUA é a melhor demonstração de que, nestas eleições, votar nos republicanos ou nos democratas ainda faz alguma diferença.