Associações pedem que se evite abate de árvores previsto com novas linhas do metro do Porto

Campo Aberto e outras entidades alertam que, para além do Carregal e da Praça da Galiza, também o jardim da rotunda da Boavista pode ser afectado pela Linha Rosa.

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Projecto pode pôr em risco arvoredo da Rotunda da Boavista, alertam quatro associações Nelson Garrido

Quatro associações do Porto ligadas ao ambiente e ao património escreveram a várias entidades pedindo que se reveja o projecto de execução da nova linha de metro, entre a estação de São Bento e a Casa da Música, de modo a evitar o abate de árvores previsto no jardim romântico do largo do Carregal e no Jardim de Sophia, na Praça da Galiza. A Campo Aberto, a ACER - Associação Cultural e de Estudos Regionais, o Clube Unesco da Cidade do Porto e o Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro – Grupo Ecológico (NDMALO - GE) alertam ainda para os riscos, “só assumidos na declaração de impacte ambiental”, criticam, que correm as árvores do jardim da rotunda da Boavista. 

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Quatro associações do Porto ligadas ao ambiente e ao património escreveram a várias entidades pedindo que se reveja o projecto de execução da nova linha de metro, entre a estação de São Bento e a Casa da Música, de modo a evitar o abate de árvores previsto no jardim romântico do largo do Carregal e no Jardim de Sophia, na Praça da Galiza. A Campo Aberto, a ACER - Associação Cultural e de Estudos Regionais, o Clube Unesco da Cidade do Porto e o Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro – Grupo Ecológico (NDMALO - GE) alertam ainda para os riscos, “só assumidos na declaração de impacte ambiental”, criticam, que correm as árvores do jardim da rotunda da Boavista. 

O apelo, tardio em relação ao período de consulta pública do Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (Recape) desta obra, que terminou a 19 de Junho, é dirigido à empresa Metro do Porto, S. A., à Câmara Municipal do Porto, à Agência Portuguesa de Ambiente, à Direcção Geral do Património Cultural e à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, no caso da Linha Rosa. As mesmas organizações escreveram ainda à Câmara de Gaia, na expectativa de que, mesmo fora de tempo - e dado que a obra do prolongamento da Linha Amarela não se iniciou, possa também ser reavaliada, neste concelho, o abate, também assumido, de centenas de sobreiros. Uma espécie protegida em Portugal, recordam. 

Ainda é possível evitar abate?

As quatro organizações assumem, nesta carta, que “por limitações decorrentes da sua condição de associações cívicas sem fins lucrativos e sem recursos humanos e materiais suficientes, só tardiamente (...) se deram conta da iminência de tais agressões patrimoniais”. No entanto, insistem, “embora a maior parte das decisões esteja já tomada, parte dos requisitos dos processos de aprovação (...) ou estão ainda por completar, ou parece nem sequer terem sido empreendidos, pelo que a possibilidade de evitar os danos é mais evidente”.

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Aliás, “perante as lacunas de informação e as ambiguidades” que detectaram no projecto de execução, e “perante os impactos negativos reconhecidos pelas próprias entidades que os estudaram, é surpreendente que o projecto não tenha sido reprovado”, assinalam.

Jardim de Sophia redesenhado

Com pouco mais de três quilómetros, a nova linha subterrânea entre São Bento e a Casa da Música implicará, segundo o Recape, o abate de duas árvores saudáveis no jardim do Carregal (uma delas uma sequóia com 80 anos). No Jardim de Sophia (criado em 1997, na Praça da Galiza), serão abatidos 65 exemplares arbóreos e é referida a necessidade de resenhar o espaço e fazer novas plantações. “Se nem num caso nem noutro é reconhecido que os exemplares afectados tenham ‘valor conservacionista’, também é dito não ser ‘possível aferir com rigor a afectação directa ou indirecta de outros exemplares arbóreos”, recordam.

Estas associações não gostaram também de saber, pelo relatório da Agência Portuguesa do Ambiente, que, citam “para a fase de exploração, podem transitar impactes, associados à potencial perda de património arbóreo (valor visual) do espaço privado e público – Jardim do Carregal, Praça da Galiza e Praça Mouzinho de Albuquerque [rotunda da Boavista] – não passíveis de avaliação, quanto à magnitude e significância, no presente, mas que podem vir a ser significativos, por afectação directa, do sistema radicular e/ou indirecta, pelo rebaixamento do nível hidrostático, provocados pelas obras no subsolo”.

Aliás, dizem-se surpreendidas com a pouca atenção dada aos riscos que pendem sobre o jardim da rotunda, perto da estação terminal, cuja implantação a Metro teve de alterar. “Não se compreende que a possibilidade de interferência da obra com o monumento aos Heróis da Guerra Peninsular seja tratada com ligeireza e que o jardim da Rotunda da Boavista nem seja sequer considerado no resumo não técnico, no anexo 3.2. (Estudo de Paisagem enquanto «Paisagem Histórica Urbana») e no projecto de execução. Só na declaração de impacte ambiental é assumido de forma clara o risco que o empreendimento representa também para este património arbóreo, para além do Jardim do Carregal e do Jardim de Sophia”, denunciam.

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Projecto “é pouco objectivo"

O projecto de execução em avaliação e o relatório que procura responder às condições colocadas (Recape) é muito menos objectivo do que seria de esperar, sendo preocupante a margem de ambiguidade e a falta de informação que ainda subsiste”, criticam, dando alguns exemplos: “A abordagem geotécnica assenta em ‘modelos tipo’ de constituição dos solos e não em sondagens geológicas, o estudo das vibrações restringe-se à fase operacional da futura linha e não à fase de obra, não tendo sequer havido qualquer tipo de ensaio prévio, e a metodologia de perfuração terá sido deixada ao critério do adjudicatário”. 

Estas organizações não entendem, também, que os estudos de salvaguarda arqueológica e arquitectónica possam decorrer “de um levantamento empírico do existente, não tendo sido feitas prospecções e trabalhos arqueológicos preventivos ou levantamentos de base orto-fotométrica e vectorial do edificado. Que, recordam, “abrange alguns dos edifícios mais importantes da cidade e com maior significado para a memória colectiva dos tripeiros”.

Metro reduziu impacto previsto em Gaia

Além disso, estranham que os planos globais para o arranjo do jardim de Sophia e do jardim do Carregal, “além de incompreensivelmente não integrarem os projectos das estações” – mesmo quando se trata, já de um projecto de execução, notam – “resignam-se com a falsa inevitabilidade da sua destruição, senão total pelo menos parcial, mas de qualquer forma excessivamente impactante e empobrecedora da qualidade urbana”. Um empobrecimento que, na sua perspectiva, não é compensado pelos ganhos em mobilidade. Num percurso de três quilómetros, estes, argumentam, poderiam facilmente ser conseguidos em transporte público rodoviário, à superfície, se a rede viária não mantivesse os privilégios dados ao automóvel individual. 

Ao final da tarde desta sexta-feira, a Metro do Porto anunciou ter recebido, e aceitado, um pedido de reunião por parte destas associações, com as quais garante partilhar "objectivos muito sérios e inegociáveis em matéria de defesa da natureza e valorização ambiental”. A empresa não reage, para ja, às questões suscitadas sobre a Linha Rosa, guardando-se para essa reunião. Numa nota à comunicação social explica que, no caso da Linha de Gaia o número de árvores a abater será bastante menor do que o inicialmente estimado, graças a uma reformulação do projecto, o que também permitirá manter de pé outros espécimes, ao longo do canal desta linha. Em contrapartida, o plano de compensação prevê o plantio de 755 sobreiros no Parque das Serras do Porto.    ​

Notícia actualizada às 18h05 com reacção da Metro do Porto à carta das quatro associações.