As estrelas ajudaram Ema a voltar às aulas com mais alegria

O velhinho código Morse põe duas meninas em contacto intergaláctico. Uma estrela e uma criança recordam-nos o valor maior da amizade, mesmo à distância. É Ema e a Estrela Carente, livro de Sérgio Almeida e Carla Monteiro para os mais novos.

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"Ema e a Estrela Carente", pormenor da capa DR

A história começa no céu, desce à Terra e depois anda cá e lá. E o “cá e lá” implica 8 mil anos-luz de distância, uma jovem estrela, Ester, com “apenas” 27 mil anos, e uma menina terráquea, Ema, “já” com nove anos, prestes a regressar à escola, depois das férias.

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A história começa no céu, desce à Terra e depois anda cá e lá. E o “cá e lá” implica 8 mil anos-luz de distância, uma jovem estrela, Ester, com “apenas” 27 mil anos, e uma menina terráquea, Ema, “já” com nove anos, prestes a regressar à escola, depois das férias.

No céu e na Terra, há conflitos, dúvidas e aprendizagens fundamentais para se encontrar um rumo para o futuro, no relacionamento e no conhecimento. Certo é que, ficou a menina a saber, mesmo à distância, a amizade é do melhor que há. Por isso o regresso às aulas será feito ainda com mais alegria. E ainda se desconhecia a (maldita) covid-19.

Sérgio Almeida escreveu, Carla Monteiro ilustrou. Neste sábado, dia 19 de Setembro, haverá nova apresentação do livro Ema e a Estrela Carente, na Cooperativa Árvore, no Porto, às 16h30. Com a presença do escritor António Mota e com um momento musical a cargo de Álvaro Maio.

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DR

Excesso de queijo lunar…

Ester está em apuros porque quer ajudar uma outra estrela e não sabe como. Apesar de esta última, Genoveva, não ser propriamente a Miss… Simpatia do Universo, a pequena estrela seria incapaz de a abandonar no firmamento.

Genoveva ficou presa entre dois satélites, na via rápida que liga Júpiter a Úrano. Motivo: excesso de peso. “De tanto comer queijo lunar às escondidas, tornara-se pesada, aliás, pesadérrima, tanto que as colegas eram obrigadas a afastar-se à sua passagem. Não por respeito, como estupidamente pensava, mas apenas porque não deixava espaço para nada.”

Depois de várias tentativas, Ester percebeu que sozinha não conseguiria libertar a estrela antipática. Foi em busca de ajuda e perdeu-se nos céus. Não é fácil sentir que se desconhece o caminho de regresso a casa.

Na Terra, uma menina atenta aos movimentos inquietos de uma estrela apercebeu-se de que havia um problema para resolver. Alguém, algures, precisava da sua ajuda. Determinada, fez por aprender um código de comunicação que mudaria a vida de ambas. “Morse”, assim se chama o velhinho e eficaz código que lhe deu uma amiga longínqua e cintilante.

“Merece ter muitos leitores”, diz António Mota

Há 40 anos escritor de livros para crianças e jovens, António Mota fez-nos chegar por email a sua apreciação: “É uma história feita com muita fantasia, muito sonho e um humor subtil.” Diz também: “A história é narrada sem pressas e o leitor vai ficando expectante em relação ao final. E vai acicatando a sua curiosidade.” Conclui: “A astronomia e o imaginário a ela ligado estão presentes nesta obra Ema e a Estrela Carente, que merece ter muitos leitores.”

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António Mota, que no ano passado assinalou 40 anos de vida literária e publicou o livro para adultos No Meio de Nada (Asa), assinala ainda: “Pela sua dimensão, pode dizer-se que Ema e a Estrela Carente é uma novela organizada em cinco partes e cada parte em vários capítulos. Sérgio Almeida dedica o livro às suas filhas Ema e Eva. ‘Ema é uma menina de 9 anos movida a sonhos e curiosidade.’ Por muito que os pais e a professora lhe digam para deixar de estar com a cabeça nas nuvens e se concentre nos estudos, a sua inquietude fala sempre mais alto. Numa noite em que o sono teimava em não vir, a jovem descobre uma estrela que, pelo movimento e luminosidade constantes, parece querer comunicar com ela. Quando decifra que a estrela está perdida na imensidão do céu, resolve ajudá-la na hora. Conseguirá Ema fazer com que a sua pequena nova amiga encontre o caminho de casa?’, esclarece a sinopse da contracapa.”

Galileu e Stephen Hawking

Este é o segundo livro infanto-juvenil de Sérgio Almeida, escritor, promotor cultural e jornalista na secção Cultura do Jornal de Notícias. O primeiro, O Elefante Que Não Sabia Voar, com ilustrações de Alberto Faria, foi publicado em 2016 pela editora Caminho das Palavras.

António Mota ajuda-nos a resumir a segunda história, editada pela Mosaico de Letras: “Além de Ema, que vive na Terra, com a irmã e os pais, e a sua amiga Ester, uma estrela pequenina com apenas 27 mil anos sujeita a uma dura prova, aparecem outras personagens galácticas: Dona Polar, líder da constelação e que anseia a reforma, a Dona Lua, que tem na sua superfície muito queijo, e a gorda e metediça Genoveva. (…) Além da Internet, novas tecnologias e doces, Ema é uma menina que adora livros e é neles que procura resposta para as suas dúvidas.”

Mais um excerto: “Folheando um livro, descobre, por exemplo, a história do código Morse. ‘Mas também biografias de homens da ciência, como o corajoso Galileu Galilei ou o fascinante Stephen Hawking, que dedicou toda a sua vida ao estudo de buracos negros, sem, milagre dos milagres!, nunca ter caído em nenhum’.”

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As ilustrações de Carla Monteiro ajudam o leitor a mergulhar no ambiente celestial e astronómico, embora o fundo negro dificulte a legibilidade em certas passagens. Diz-nos a ilustradora: “Foi um projecto desafiador, sendo o cenário essencialmente focado na ‘noite’. Não foi simples, mas foi-me dada toda a liberdade criativa. Fluiu naturalmente o processo criativo. O texto estava muito bem distribuído e a história era cativante, muito bem desenvolvida e com uma temática duplamente pertinente. Pedagógico em vários níveis, tanto em termos ‘astronómicos’ como em termos dos ensinamentos para a empatia e afectos... muito criativa a escrita e elegante. Penso ainda que se trata de uma obra de referência que pode ser trabalhada com e para jovens como para adultos.”

Carla Monteiro usou técnica mista: aguarela, pastel óleo e lápis de cor. Demorou apenas mês e meio a realizar todo o programa de ilustração. “Todas feitas à mão, sem modificações digitalmente”, descreve-nos. 

Os pequenos “selos” a preto e branco no topo das páginas, retirados dos desenhos principais, resultam muito bem. Preferimos a imagem da contracapa à da capa. Assim como preferiríamos um texto menos palavroso e não tão obviamente didáctico. Mas isso somo nós… Se as crianças aderem, é o que interessa.

Bom regresso às aulas e aos amigos!