Samuel Úria arregaça as mangas

Não é uma guerra, são várias as guerras que coexistem no novo álbum de Samuel Úria. Conciso e directo, intimista e fervoroso, aponta o dedo a outros, aos seus, a si mesmo. Em Canções do Pós-Guerra denuncia e diagnostica, sobrevive e arregaça as mangas. Com distinção.

Foto
Rui Gaudêncio

“O título nem garante que tenha havido uma sobrevivência”, aponta Samuel Úria. Não é, de facto, de sobrevivência que aqui se fala. Canções do Pós-Guerra é realmente o título do novo álbum, mas, na verdade, a guerra de que aqui se dá conta começou sem data definida e não há forma de lhe vermos o fim. Melhor, não é de guerra, no singular, que se fala neste disco curto e intenso, rock’n’roll feito assombração e púlpito de denúncia, harmonizado com toada acústica introspectiva. “Vivemos em constantes conflitos, sejam eles literais, bélicos, sejam aqueles que podemos puxar para o contexto de guerra: conflitos internos, desaguisados, embates de opiniões”. O singular do título é, na verdade, plural. “Foram muitas as guerras”, explica antes de afirmar o que primeiro citámos: “O título nem garante que tenha havido uma sobrevivência, mas existe um disco, de facto”.