Covid-19. Governo da Áustria alvo de milhares de processos por falhar na protecção aos turistas

Ischgl, na Áustria, foi a razão do primeiro surto do país. Peter Kobal dá cara à acção colectiva contra o estado austríaco que pretende fazer com que o país indemnize os cidadãos que passaram pela estância de esqui austríaca.

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The Guardian

Dois dias após o registo dos primeiros casos de covid-19 em Portugal, a situação na Europa encontrava-se instável. Ischgl, situada no vale de Paznaun na Áustria, é vista como uma das cidades responsáveis pela propagação do vírus a nível europeu. Acusadas de não terem tomado as medidas de prevenção necessárias, as autoridades austríacas estão a ser processadas por milhares de pessoas que ficaram infectadas nesta cidade - em concreto, na estância de esqui conhecida como a “Ibiza dos Alpes”. Ischgl fica, assim, gravada na memória como potenciadora de um dos primeiros surtos de covid-19 na Áustria. 

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Dois dias após o registo dos primeiros casos de covid-19 em Portugal, a situação na Europa encontrava-se instável. Ischgl, situada no vale de Paznaun na Áustria, é vista como uma das cidades responsáveis pela propagação do vírus a nível europeu. Acusadas de não terem tomado as medidas de prevenção necessárias, as autoridades austríacas estão a ser processadas por milhares de pessoas que ficaram infectadas nesta cidade - em concreto, na estância de esqui conhecida como a “Ibiza dos Alpes”. Ischgl fica, assim, gravada na memória como potenciadora de um dos primeiros surtos de covid-19 na Áustria. 

De acordo com a agência Reuters, o primeiro caso positivo de infecção pelo novo coronavírus na cidade austríaca foi identificado a 7 de Março. A revelação partiu da Islândia. Vários cidadãos diziam ter ficado infectados depois de regressarem da estância de esqui. Uma semana depois, dia 13 de Março, Ischgl iniciou a quarentena. Os turistas que estavam na cidade receberam autorização para regressar aos países de origem e a expansão do vírus foi, assim, potenciada.

Embora seja uma cidade pequena, costumava acolher, antes da pandemia, cerca de 10 mil turistas todas as semanas. Os famosos bares de Ischgl, as festas organizadas pela estância e a utilização das cabines para subir as montanhas são elementos característicos do espírito vivido nesta cidade. Porém, a adoração relativa a este ambiente social não parte só de quem visita. O vírus partilha também este interesse e, através dele, prosperou a cada toque entre pessoas. 

Charlie Jackson foi um dos desafortunados. Tem 53 anos e vive em Berkshire, na Inglaterra. Na primeira semana de Março viajou para Ischgl para passar três dias com os seus amigos a esquiar nos Alpes de Tirol. Três dias depois de ter regressado a casa começou a revelar dores nas costas, nas articulações e perdeu o paladar. Jackson esteve quatro semanas sem poder trabalhar e, meses depois, o teste de anticorpos confirmou a contracção do vírus. Ao diário The Guardian, Charlie Jackson explicou que apesar de “o vírus não o ter matado, fê-lo sentir-se muito mal durante muito tempo”. 

Quatro dos oito homens pertencentes ao grupo, que acompanhou Jackson na viagem, ficaram doentes depois de regressarem a casa. Segundo o The Guardian, surtos no norte da Alemanha, Dinamarca, Suécia, Noruega e Islândia tiveram origem nos esquiadores que voltavam para casa depois de visitarem o vale de Paznaun

Segundo o jornal britânico, o país austríaco enfrenta também uma guerra diplomática de palavras com a Alemanha. Políticos de ambos os países têm debatido a situação e acusado o outro de negligência. Neste momento, a Alemanha conta com 266.659 casos de infecções por covid-19 e a Áustria com 35.853. O medo de serem rotulados como “a próxima Ischgl" levou vários países da Europa central a fecharem fronteiras. 

"Somos muito grandes e crescemos muito depressa"

Von der Thannen, proprietário de um bar na região, em entrevista ao The Guardian, partilhou a sua opinião em relação ao contexto do país e ao comportamento dos restantes. Para ele, a Europa apontou o dedo a Ischgl, em parte, pelo ressentimento que tem perante o sucesso comercial da cidade. “Provavelmente, trata-se de uma cultura de inveja: somos muito grandes e crescemos muito depressa”, afirma. 

O confinamento, entre 13 de Março e 23 de Abril, custou à cidade cerca de 25% a 30% do comércio anual. Porém, a interrupção das actividades imposta pelo confinamento foi aproveitada para efectuar as devidas alterações nos espaços da cidade com vista a receber uma nova vaga de turismo. Von der Thannen mantém uma postura optimista quanto ao futuro e acredita que a estância vai superar o estigma criado pela pandemia. 

Acção coletiva contra o governo de Viena 

Ainda assim, a opinião não é unânime e há quem queira ver determinadas questões respondidas. É o caso de Peter Kolba, advogado e presidente da Associação Austríaca de Defesa do Consumidor. Em Abril foi iniciada a primeira acção colectiva em tribunal contra um ustado relativa à gestão da crise potenciada pela covid-19. Milhares de turistas pedem indemnizações ao governo de Viena pelos danos provocados pela decisão tardia de encerrar as estâncias de esqui de Tirol - “Ibiza dos Alpes”. Ao jornal Expresso, Kolba contou que "as autoridades fizeram tudo para não cancelar a temporada turística"

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The Guardian

“Se Ischgl tivesse iniciado o confinamento uma semana mais cedo, milhares de turistas não teriam ficado infectados”, afirma o advogado, desta vez ao The Guardian. Na opinião de Peter Kolba, esta decisão poderia ter evitado o estado do país e a propagação do vírus no continente europeu. 

Peter Kolba dá a cara pelos cidadãos infectados. Através da acção colectiva em tribunal contra as autoridades austríacas, procura conseguir fazer com que o Estado pague indemnizações aos lesados. A acção colectiva conta com a assinatura de mais de 6000 pessoas, incluindo Charlie Jackson, Johann Friedrich, Nigel Mallender e Lisa Busby - nomes de algumas das pessoas que viajaram até Ischgl entre Fevereiro e Março de 2020. 

Texto editado por Ivo Neto