Arábia Saudita pode ter reservas de urânio suficientes para desenvolver armas nucleares

Riad já admitiu várias vezes que poderá desenvolver armas nucleares caso o Irão, o seu rival regional, avance para a produção de uma bomba nuclear. Relatório de geólogos chineses entregues ao Governo saudita aumenta preocupação internacional.

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Mohammed bin Salman disse em 2018 que Arábia Saudita seguiria o Irão "o mais rápido possível" na produção de armas nucleares STR/EPA

A Arábia Saudita poderá ter reservas de urânio suficientes para produzir combustível nuclear, o que abre a porta à possibilidade de Riad vir a desenvolver armas nucleares no futuro.

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A Arábia Saudita poderá ter reservas de urânio suficientes para produzir combustível nuclear, o que abre a porta à possibilidade de Riad vir a desenvolver armas nucleares no futuro.

Esta quinta-feira, o The Guardian revela as conclusões de um estudo encomendado pelo reino sunita a geólogos chineses, entregue no final de 2019 ao Governo saudita, que dá conta da existência de três grandes depósitos na Arábia Saudita capazes de produzir mais de 90 mil toneladas de urânio.

Conforme nota o diário britânico, a viabilidade dos resultados apresentados pelos geólogos chineses não foi verificada oficialmente, no entanto, a confirmar-se esta capacidade de produção de urânio, o reino saudita poderia não só atingir a autossuficiência que pretende na produção de combustível nuclear para um futuro programa enérgico, como teria capacidade para o exportar. 

Em declarações ao mesmo jornal, Mark Hibbs, do Instituto Carnegie para a Paz Mundial, sublinha que “os fornecedores estrangeiros de energia nuclear exigem compromissos de utilização pacífica aos compradores”, portanto, caso a Arábia Saudita consiga ser autossuficiente, “deixa de existir preocupação com essas restrições”.

As pretensões de Riad de desenvolver um programa de energia nuclear, diminuindo a sua dependência do petróleo, são conhecidas, no entanto, nos últimos anos, tem-se especulado que o país possa querer ir mais longe, ambicionando ter um arsenal nuclear.

Em 2018, o príncipe Mohammed bin Salman (MBS, como é conhecido) avisou que caso o Irão, xiita, adversário da Arábia Sunita na região, avançasse para a produção de uma bomba nuclear, os sauditas seguiriam os passos de Teerão “o mais depressa possível”.

Depois de os Estados Unidos terem rasgado o acordo nuclear com o Irão, e de Teerão ter admitido retomar o seu programa nuclear, as preocupações de que os sauditas aumentassem a pressão para desenvolverem armas nucleares agudizaram-se e chegaram aos Estados Unidos, um dos principais aliados do reino saudita.

No passado mês de Agosto, um grupo de senadores norte-americanos, incluindo membros do Partido Democrata e do Partido Republicano, enviou uma carta ao Presidente Donald Trump a manifestar preocupação sobre notícias que davam conta da ambição de Riad de construir “instalações nucleares secretas”, um receio partilhado por Israel, que não pretende outra potência nuclear na região.

Acresce que a comunidade internacional tem vindo a alertar para a falta de transparência no acesso a informação sobre a produção de urânio na Arábia Saudita, que, no âmbito de um acordo com Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), em que se compromete a não ultrapassar determinados limites, tem conseguido escapar às inspecções da agência.

Na passada segunda-feira, Rafael Grossi, director-geral da AIEA, afirmou que a agência está em conversações com a Arábia Saudita relativamente à necessidade de uma maior supervisão sobre as actividades do reino saudita na produção de urânio.

“Eles [sauditas] estão interessados no desenvolvimento de energia nuclear, com propósitos pacíficos, por isso é que óbvio que quando aumentarem as suas actividades, inclusive a introdução de material nuclear no reino, teremos de ter sistemas de salvaguarda mais rirgorosos”, afirmou, citado pela Reuters.