“E se transformássemos a junta numa escola?”

Junta da Estrela montou escola provisória em poucos dias e está disponível para a manter até ao fim das obras na Escola 72. Assunção Cristas diz que “a câmara falhou” ao não ter solução quando faltava pouco para o início das aulas. PSD vai fazer perguntas. BE quer que o Governo mande testar alunos, professores e funcionários.

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O momento tcharan! está logo à entrada. Transpõe-se a porta metálica para dentro de um pavilhão desportivo e a poucos metros vislumbra-se a máquina de aspecto espacial, um pórtico futurista por onde toda a gente tem de passar. Não se sai dali para outra dimensão, mas entra-se desinfectado nas instalações provisórias da Escola Básica nº 72.

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O momento tcharan! está logo à entrada. Transpõe-se a porta metálica para dentro de um pavilhão desportivo e a poucos metros vislumbra-se a máquina de aspecto espacial, um pórtico futurista por onde toda a gente tem de passar. Não se sai dali para outra dimensão, mas entra-se desinfectado nas instalações provisórias da Escola Básica nº 72.

O portal mede a temperatura, põe gel nas mãos e borrifa um vapor por todo o corpo, procurando garantir que não é por ali que a covid-19 entra na escola. A partir desta quinta, passar por aqui vai tornar-se ritual para os 178 alunos do 1.º ao 4.º ano que aqui vão ter aulas este ano lectivo.

Com a Escola 72 em degradação avançada e a precisar de obras, a Câmara de Lisboa decidiu mudar os alunos para monoblocos no antigo Mercado do Rato, mas essas instalações não estavam prontas quando faltavam apenas duas semanas para o início das aulas. A autarquia propôs que as crianças fossem para contentores no Restelo até que os trabalhos terminassem no Rato.

Foi então que a Junta de Freguesia da Estrela decidiu ceder as suas próprias instalações. “E se transformássemos a junta numa escola?”, perguntou Luís Newton ao executivo. Recebida inicialmente com surpresa, a ideia do presidente da junta acabou por seguir adiante. A Academia Estrela, um equipamento lúdico e desportivo que funciona na Rua do Quelhas, foi em poucos dias transformada em escola básica.

“Os encarregados de educação abordaram a junta e aí percebi que se estava a desenhar a hipótese Restelo. Esta comunidade escolar não podia ser desenraizada para o Restelo, ia subverter completamente as rotinas familiares”, afirma Luís Newton, que esta quarta-feira fez visitas guiadas a pais, membros da assembleia de freguesia e a dois vereadores do CDS. “O que nos têm dito os encarregados de educação é que não querem sair daqui até à Escola 72 estar renovada”, comenta o autarca do PSD.

O pavilhão onde está o pórtico de desinfecção será usado para aulas de Educação Física e para recreio interior. A pouca distância situa-se uma sala de contenção, ainda a cheirar a tinta fresca, onde se poderão isolar os casos suspeitos de covid-19. Ainda no rés-do-chão, um ginásio foi adaptado para as aulas das crianças com necessidades educativas especiais e foi montada uma plataforma elevatória que vence os desníveis. É no primeiro andar que estão as salas de aula. “Esta foi a principal obra”, explica o presidente da junta. “Todas as salas foram equipadas com sistemas digitais, por isso estão preparadas para transmitir as aulas para casa, se for preciso.”

“A câmara falhou”

Convictos de que será praticamente inevitável o aparecimento de casos positivos de covid-19, responsáveis da junta e da escola prepararam um refeitório que comporta três turmas em simultâneo (há oito, no total). Isto obriga a distribuir as refeições em três turnos, mas permite que, aparecendo uma suspeita, sejam menos os alunos potencialmente infectados. Até ao momento a junta gastou cerca de 90 mil euros e vai ter pessoal seu, além dos professores e funcionários da escola, a prestar apoio.

No fim da visita guiada que fez ao CDS, Newton elogiou Assunção Cristas por ter sido “a primeira vereadora da câmara” a aparecer. A líder da oposição ao executivo PS-BE disse que “a câmara falhou” nesta situação. “O espanto que nos causa é como é que no final de Agosto ainda não havia solução. Aqui constatamos a grande inacção da câmara e a pro-actividade da junta”, criticou Assunção Cristas.

Na semana passada, o gabinete de Manuel Grilo, vereador do BE com o pelouro da Educação, justificou o atraso dos trabalhos no Mercado do Rato com o aparecimento de casos de covid-19 “em pessoas externas à Câmara de Lisboa mas essenciais à obra”.

Considerando que “esta escola provisória é bastante melhor do que contentores”, Cristas acusou Manuel Grilo e Fernando Medina de pouca iniciativa. “Nesta área era preciso fazer mais, com maior capacidade de execução”, defendeu, dando também o exemplo da escola Teixeira de Pascoaes, em Alvalade, que está em obras há quatro anos.

A reabilitação do parque escolar da cidade passou há dois anos a ser uma competência da empresa municipal SRU, à qual compete agora a reabilitação da Escola 72. Luís Newton diz-se preocupado por ainda não ter visto o projecto. “No primeiro cronograma que nos deram, as obras começariam em Fevereiro de 2021”, refere.

O tema das escolas vai estar em debate na reunião autárquica desta quinta-feira. O PSD quer saber quantas obras estão a decorrer, qual a sua taxa de execução e quais os atrasos. Num pedido de informação escrita que vão apresentar a Medina, os vereadores Teresa Leal Coelho e João Pedro Costa questionam ainda quantos alunos vão ter aulas em contentores este ano e qual o ponto de situação na contratação de pessoal não docente.

Depois de visitar três escolas reabilitadas pela autarquia, na semana passada, Fernando Medina garantiu que as escolas de 2.º e 3.º ciclos, cuja gestão a câmara vai assumir por delegação de competências do Ministério da Educação, vão ter mais 40 assistentes operacionais em 2020/21.