Carta aberta ao primeiro-ministro israelita Netanyahu
O verdadeiro acordo de paz com que Israel se deveria preocupar neste momento é aquele que carece ser assinado com o povo palestiniano. Esse sim, indispensável para acabar com as guerras e conflitos que duram há um século e que já tiraram a vida de muitos inocentes dos dois povos.
Sr. primeiro-ministro Netanyahu,
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Sr. primeiro-ministro Netanyahu,
Celebra-se, na Casa Branca, a assinatura do Acordo de Paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos. É a vossa segunda celebração, nessa mesma casa, posterior àquela em que declararam Jerusalém como capital de Israel, aquando do anúncio da mudança das instalações da embaixada norte-americana de Telavive para essa cidade. Na altura, a vossa celebração aconteceu como festejo de um acto que contradiz não só a Lei Internacional, bem como a posição da maioria dos países do mundo que apoiam a solução dos dois Estados e que, como tal, recusaram mudar as suas embaixadas de Telavive para Jerusalém.
Esta vossa segunda celebração, a da assinatura do acordo de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, é, no mínimo, estranha e absurda, uma vez que os tratados de paz são, naturalmente, assinados entre países que estão em conflito e que vivem num estado de hostilidade, o que, no caso, não se verifica. Desde a criação de Israel, até aos dias de hoje, ou seja, há mais de setenta anos, não houve uma única bala disparada entre os exércitos dos dois países. Os Emirados Árabes Unidos estão a milhares de quilómetros de Israel, não partilhando, portanto, fronteiras, pelo que, logicamente, sem se dar o caso da existência de disputas sobre as mesmas. Será que o sr. primeiro-ministro está, por esta altura, a “dançar” nesta celebração só para desviar as atenções tanto do seu julgamento nos casos de corrupção, como das manifestações que pedem a sua demissão?
Sr. primeiro-ministro,
O verdadeiro acordo de paz com que Israel se deveria preocupar neste momento é aquele que carece ser assinado com o povo palestiniano. Esse sim, indispensável para acabar com as guerras e conflitos que duram há um século e que já tiraram a vida de muitos inocentes dos dois povos. Mas o sr. primeiro-ministro continua a declarar e a reiterar que já não precisa de esperar para alcançar a paz com os palestinianos.
Nós, os palestinianos, dizemos-lhe que somos o povo que mais precisa da verdadeira paz para viver, com dignidade, lado a lado com Israel, no nosso Estado independente, com a Jerusalém Oriental reconhecida como capital. Lamento muito que “o acordo da paz” que o sr. primeiro-ministro deseja que os palestinianos assinem seja, apenas e só, aquele da sua rendição e aceitação da imposição das condições do ocupante sobre o ocupado. A paz não pode ser alcançada com a continuação da ocupação e a negação dos direitos do povo palestiniano, mas sim com o seu fim e com o cessar do sofrimento deste povo, por meio da conquista da sua justa e devida liberdade, tal como o resto do mundo.
Sr. primeiro-ministro, garantimos-lhe que não obterá do povo palestiniano a assinatura de qualquer documento que declare a sua submissão, e aconselhamos a que não fique à espera dele.