Regresso às aulas em tempo de pandemia
Sem dúvida que o ideal era podermos todos voltar, sem receios, à nossa “normalidade”, mas, não podendo ser, adaptemo-nos da melhor forma à nova realidade.
Nunca um regresso às aulas foi tão desejado e ao mesmo tempo tão temido. Penso que ninguém nega a importância que as aulas presenciais têm para o desenvolvimento infantil e para o bem-estar psicológico das crianças. No entanto, vivemos em tempos em que é preciso equilibrar questões de Saúde Pública com questões de Saúde Mental. E é no encontro deste equilíbrio que reside o grande desafio deste novo ano letivo para as escolas.
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Nunca um regresso às aulas foi tão desejado e ao mesmo tempo tão temido. Penso que ninguém nega a importância que as aulas presenciais têm para o desenvolvimento infantil e para o bem-estar psicológico das crianças. No entanto, vivemos em tempos em que é preciso equilibrar questões de Saúde Pública com questões de Saúde Mental. E é no encontro deste equilíbrio que reside o grande desafio deste novo ano letivo para as escolas.
Como proteger a Comunidade Educativa (alunos, pessoal docente e não-docente, pais e familiares dos alunos) e ao mesmo tempo salvaguardar o direito inegável das crianças de poderem brincar e serem, no fundo, crianças? Não é fácil. Teremos de ser flexíveis, criativos, temos de reinventar as escolas, mas acima de tudo aceitar que vivemos tempos de exceção, ser mais empáticos e respeitadores das diferenças. Ou seja, por exemplo, aceitar que alguns pais de crianças que frequentam o 1º ciclo as levem com máscara para a escola e se sintam mais seguros dessa forma, mesmo não sendo (ainda) obrigatória a sua utilização nestas faixas etárias. Aceitar que existem situações particulares em que as crianças também pertencem a grupos de risco ou que têm pessoas no agregado familiar que o são. Não nos julgarmos uns aos outros, não nos criticarmos.
É preciso, mais do que nunca, sermos unidos e funcionarmos efetivamente sob o lema “um por todos e todos por um”, pois só assim venceremos e sobreviveremos melhor a esta pandemia que, de uma maneira ou de outra, nos alterou a vida a todos.
Como em outras situações na vida, haverá pais mais descontraídos, outros algo receosos, outros bastante preocupados e outros extremamente ansiosos ou mesmo em pânico com este regresso às aulas. Mas, seguramente, todos estarão unidos num só desejo: que tudo corra bem para todos! Até porque vivemos tempos em que temos mesmo de colocar o egoísmo de lado e deixar de olhar apenas para o próprio umbigo. Não é porque já fui infetado e estive assintomático ou tive apenas sintomas ligeiros que vou descurar os cuidados ou que vou desvalorizar a covid-19, ou mesmo a pandemia. Pois existem outros que não têm tido a mesma “sorte”. Não é porque acho que não sou de um grupo de risco, que sou saudável e que, portanto, a mim isto não me vai afetar, que vou baixar a guarda. Porquê? Porque existem outros à minha volta que podem ser menos saudáveis e que podem estar vulneráveis. Outros esses que podem ser meus familiares e amigos, ou mesmos simples conhecidos ou até mesmo desconhecidos. Todos somos seres humanos e todos devemos ser protegidos. É um esforço coletivo em que todos, mundialmente, devemos remar para o mesmo objetivo: evitar que o número de contágios se eleve. E este regresso às aulas, tão atípico, tem de ser pautado por estas mensagens. É isto que devemos transmitir às nossas crianças e jovens.
A pandemia trouxe muita coisa má, alterou a nossa forma de viver, restringiu a nossa socialização e, sem dúvida, as crianças foram grandemente prejudicadas com isso. Tentemos ver o copo meio cheio e aproveitemos o momento para lhes ensinar valores. Ensinar a empatia, a compreensão, a solidariedade, a amizade, o adiamento da gratificação.
Sem dúvida que o ideal era podermos todos voltar, sem receios, à nossa “normalidade”, mas, não podendo ser, adaptemo-nos da melhor forma à nova realidade.
Como poderemos fazer?
- Arranjar estratégias, como pais, para lidar com os nossos medos, ansiedades e preocupações. Se não o conseguirmos sozinhos, não hesitar em procurar ajuda psicológica. Os psicólogos existem para isso mesmo e a saúde mental não pode, nem deve ser descurada.
- Transmitir, dentro do possível, segurança e confiança às crianças e jovens. Isso também irá ajudá-los a superar os seus medos e ansiedades.
- Ensiná-los a ser responsáveis e a cumprir as regras de segurança que a escola colocar (desde o uso correto de máscara, higienização das mãos ao distanciamento social possível). Se os envolvermos no processo e explicarmos que é o que está ao nosso alcance fazer para evitar mais contágios, mais facilmente eles irão cumprir e aceitar. É todo um processo de aprendizagem e de automatização de novos hábitos e rotinas. Custa, mas o ser humano tem um grande potencial de adaptação. É preciso disciplina e não esquecer nunca que o exemplo vem de casa.
- Focar nas soluções e não nos problemas. As escolas estão a fazer os possíveis para reunir as condições necessárias e suficientes para cumprir as medidas impostas pela DGS. É utópico achar que todas o conseguirão fazer, porque nem todas têm essas condições. Mas nenhum de nós quer que as escolas voltem a fechar. Nesse caso, cada elemento da Comunidade Educativa tem um pouco de responsabilidade nisso. Pensem em conjunto soluções, proponham e, acima de tudo, cumpram cada um a sua parte e aquilo que está ao seu alcance fazer. Certamente, assim serão minimizados os riscos, que todos sabemos que existem e alguns serão, infelizmente, inevitáveis.
- Não basta pensar que vai correr tudo bem. É tempo de agir com o que nos é possível fazer e “controlar”. Sermos cuidadosos e protetores uns dos outros.
As crianças estão ávidas com este regresso às aulas. A maioria das que já regressaram está feliz, mesmo com a alteração das regras e com as restrições colocadas. Claro que também há outras ansiosas, muito medrosas, com dificuldades de adaptação. É então a altura ideal para valorizar a importância da Saúde Mental e incluir nas escolas intervenções preventivas e promotoras de equilíbrio emocional e bem-estar psicológico. Intervenções promotoras do autoconhecimento; da identificação e expressão das emoções, da gestão emocional; da resiliência; de estratégias de coping; da autoestima; da gratidão; do otimismo, entre outras.
Se conseguirmos introduzir estas intervenções nas escolas, através de programas desenvolvidos por psicólogos, que muitas escolas (felizmente) já têm, conseguiremos conciliar medidas de Saúde Pública, tão necessárias nesta fase difícil que o Mundo atravessa, com a manutenção do bem-estar psicológico das nossas crianças e jovens, minimizando assim os problemas de Saúde Mental ou detetando-os precocemente e encaminhando-os para a ajuda necessária.
Que este difícil regresso às aulas nos faça refletir e promova Mudanças Positivas na vida das Escolas! Que corra o melhor possível para todos nós!
Bom ano letivo!!!
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico